Fechamento de Estreito de Ormuz pode levar a alta no preço do frete, além de atrapalhar mercados exportadores importantes para a economia capixaba. Alimentos como o pão francês podem ser afetados indiretamente
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Estreito de Ormuz, no Irã, onde passa maioria da produção mundial de petróleo Crédito: Imagem de Satélite/Google Maps/Reprodução |
O conflito no Oriente Médio ganhou uma nova escalada neste fim de semana. Depois do bombardeio em instalações nucleares do Irã que marcou a entrada dos Estados Unidos na guerra, o Parlamento do Irã aprovou o fechamento do Estreito de Ormuz, informa a mídia local.
Para entrar em vigor, a medida ainda precisa passar pelo Conselho Supremo de Segurança Nacional e pelo aiatolá Khamenei. Mas a possibilidade do bloqueio acontecer levanta preocupações sobre os impactos econômicos, principalmente para os preços do petróleo e gás no mercado internacional e, consequentemente, para os alimentos.
O rumor de um agravamento na tensão deve contribuir para mais volatilidade no mercado de capitais, atingindo do pequeno ao grande poupador com investimentos em renda variável, já no início da semana. Para o consumidor, no médio prazo, o risco da valorização do dólar deve pressionar itens, como o trigo, principal matéria-prima do pão francês.
Para a economia capixaba, embora o petróleo mais caro seja benéfico para a arrecadação de royalties, outros setores podem ser afetados negativamente pela alta do custo do frete global. "O Espírito Santo tem uma base exportadora significativa, com destaque para celulose, aço, mármore, granito e café, que podem ser impactados, caso o conflito provoque um encarecimento do frete internacional, escassez de insumos ou uma retração na demanda global", explica o economista Eduardo Araújo.
Ele acrescenta ainda que, em uma menor escala, o Espírito Santo também pode sentir os efeitos indiretos de um cenário incerto, com câmbio pressionado, aumento da inflação, redução no consumo interno e elevação do custo de produção de setores estratégicos.
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Preço do pão francês pode ser afetado Crédito: Imagem: RHJPhtotos | Shutterstock |
O problema
Caso o estreito seja fechado, um fluxo de cerca de até 30% de todo o petróleo comercializado globalmente será afetado. A medida é considerada uma retaliação do Irã após ter tido instalações nucleares atacadas.
Na primeira semana do conflito entre Irã e Israel, quando ainda não se falava no fechamento do Estreito de Ormuz, houve uma disparada no preço do barril de petróleo, que inclusive já teve alta de mais de 10% desde o início da guerra. A situação pode se agravar, caso ocorram atrasos no abastecimento global dessa commodity.
O economista Eduardo Araújo afirma que, mesmo que ainda não tenha havido bloqueio físico, a ameaça já é suficiente para provocar fortes reações nos mercados.
Ele lembra que um simples indício de interrupção eleva o chamado “prêmio de risco” do barril. Com isso, os preços do petróleo sobem, pressionando o custo de energia, transporte e alimentos em diversos países.
No caso do Brasil, os efeitos mais imediatos seriam o encarecimento da gasolina e do diesel, com impacto no frete e, indiretamente, nos alimentos e demais produtos. Isso pode elevar a inflação e tornar mais difícil a queda dos juros
Eduardo AraújoEconomista
Para Érika Leal, professora de Economia do Ifes Campus Cariacica e presidente do Conselho Regional de Economia do Espírito Santo (Corecon-ES), o fechamento do Estreito de Ormuz tem implicações geopolíticas e econômicas profundas, cujos efeitos seriam sentidos de maneira imediata e global. Qualquer interrupção significativa nesse corredor resulta em perturbações relevantes na oferta global de energia.
"A elevação abrupta dos preços do petróleo seria uma consequência quase inevitável. Com a oferta reduzida e a demanda global relativamente constante, o mercado reagiria com alta volatilidade, pressionando os preços para cima. Tal aumento impactaria diretamente os custos de produção, transporte e distribuição em praticamente todos os setores da economia", lembra.
A economista lembra ainda que, para o cidadão comum, os reflexos seriam perceptíveis no dia a dia por meio do encarecimento dos combustíveis, da energia elétrica (quando as termoelétricas são ativadas) e de produtos básicos, uma vez que o custo logístico se elevaria em cadeia.
"Para a produção e distribuição dos produtos, o petróleo é essencial. Nossa matriz de transportes é majoritariamente dependente do transporte rodoviário, que tem o petróleo como insumo principal. Quando o custo da gasolina e do óleo diesel aumenta, esses custos são repassados aos produtos. A inflação tenderia a se acentuar, comprometendo o poder de compra das famílias, sobretudo das camadas mais vulneráveis da população", afirma.
Preço do petróleo
O economista Ricardo Paixão lembra que, desde o início do conflito, já houve um aumento no preço do barril de petróleo do tipo brent (referência global), subindo de cerca de US$ 70 para US$ 79, o que representa um aumento de aproximadamente 13%.
"Isso ocorre porque o mercado se move pela expectativa dos agentes econômicos. Se o Estreito de Ormuz for realmente fechado, o barril de petróleo pode chegar a US$ 130, quase o dobro do valor atual. O fechamento do estreito forçaria os exportadores a buscar rotas alternativas, o que encareceria o produto e criaria incerteza, elevando os preços do barril a proporções gigantescas", diz.
Impacto no mercado de capitais
Eduardo Araújo destaca ainda que, diante desse cenário, a tendência é de que o mercado financeiro inicie a semana em clima de cautela, como já começou a acontecer em bolsas asiáticas neste domingo. Empresas com custos ligados à energia podem sofrer, enquanto ações da Petrobras, por exemplo, podem se beneficiar da alta do petróleo.
Outra questão importante apontada pelo economista é que, em momentos de tensão geopolítica, os investidores costumam migrar para ativos considerados mais seguros, como o dólar e os títulos do Tesouro americano. Isso acontece não devido ao petróleo diretamente, mas por conta do aumento da incerteza global.
"Com isso, há uma saída de capital de países emergentes, como o Brasil, o que pode levar à valorização do dólar frente ao real. Os próximos dias serão decisivos: se o conflito escalar e o Estreito for efetivamente fechado, os impactos podem se intensificar, com reflexos sobre inflação, juros, câmbio e desempenho das bolsas ao redor do mundo", frisa.
Taxa de câmbio
Já o economista Ricardo Paixão acrescenta que essa mudança no fluxo de capitais afeta diretamente a taxa de câmbio.
"A alteração na taxa de câmbio impacta os preços de produtos importados, incluindo itens de beleza, azeite e até mesmo o trigo, do qual o Brasil não é autossuficiente e importa da Argentina. Um câmbio mais alto pode elevar o preço do pão de cada dia", afirma.
Paixão afirma ainda que, com as expectativas negativas, as empresas podem hesitar em abrir filiais ou expandir projetos, resultando em projetos engavetados. Isso acarreta menos empregos e renda, podendo levar à instalação de uma recessão na economia.
Fonte; A Gazeta