LUTO | Morre Francisco Cuoco, um dos galãs mais marcantes da teledramaturgia brasileira


Galã de novelas de sucesso da TV Globo, paulista lidava com complicações de saúde por conta de uma infecção nos rins


Morreu nesta quinta-feira (19), aos 91 anos, o ator Francisco Cuoco. Nome de destaque na televisão brasileira — astro de novelas de sucesso, entre as quais as versões originais de "Selva de pedra" (1972) e "Pecado capital" (1975) —, estava há 20 dias internado no Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo. A morte, por falência múltipla dos órgãos, foi confirmada pela família e sua assessoria de imprensa. O velório, aberto ao público, será nesta sexta-feira (20), das 7h às15h , no Funeral Home (Rua São Carlos do Pinhal, 376 , Bela Vista, São Paulo). O enterro, às 16h, será fechado para familiares e amigos.

Cuoco enfrentava, nos últimos anos, complicações de saúde derivados de uma infecção nos rins, algo que o deixou com dificuldades de locomoção.

Ao longo de grande parte dos quase 70 anos de carreira, Cuoco emprestou o rosto, o corpo e a voz para um ideal — aquilo que se convencionou chamar de galã. Intérprete de figuras carismáticas e sedutoras, o paulistano nascido e criado no bairro do Brás, na região central de São Paulo, enfileirou papeis icônicos, desde a década de 1960, ajudando a consolidar as novelas como um dos maiores fenômenos culturais do Brasil.


O filho do feirante italiano Leopoldo Cuoco, ainda criança, encantou-se com a instalação de um circo no terreno baldio em frente ao sobrado onde morava. Mais tarde, ajudava o pai em sua barraca de dia e à noite frequentava o curso de Direito, mas ao ingressar na Escola de Arte Dramática de Alfredo Mesquita, decidiu abraçar a dramaturgia como profissão. Após estrear em espetáculos do Teatro Brasileiro de Comédia (TBC), chegou à companhia Teatro dos Sete, onde trabalhou com Gianni Ratto, Fernando Torres, Ítalo Rossi e Fernanda Montenegro, e foi premiado em 1964 pela Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA) como melhor ator coadjuvante na peça "Boeing-boeing".

A estreia na TV se deu em 1963, no elenco do programa "Grande Teatro Murray", dirigido por Sérgio Britto, na TV Rio. Pela TV Record, fez sua primeira novela, "Renúncia", escrita por Walter Negrão em 1964. Após passar também pela Tupi e TV Excelsior, chegou à TV Globo em 1970, na novela " Assim na Terra, como no Céu", de Dias Gomes. Na emissora consolidou-se como uma das principais estrelas da casa, com protagonistas de tramas escritas por Janete Clair, a exemplo do Carlão de "Pecado capital" (1975), o Cristiano de "Selva de pedra" (1972), o Herculano de "O astro" (1977), o Tião Bento de "Sétimo sentido" (1982) e Lucas Cantomaia de "Eu prometo" (1983).

A extensão de sua fama à época foi documentada nos arquivos da TV Globo como parte do programa "Só o amor constrói" (1973): após uma apresentação no Theatro Municipal de São Paulo, no início dos anos 1970, uma multidão o esperava do lado de fora. Assim que deixa o local, Cuoco foi dominado por uma massa de gente — homens, mulheres, crianças, idosos —, precisando ser escoltado por agentes policiais para deixar o local. Outros trabalhos marcantes na TV foram na novela "O outro" (1987), de Aguinaldo Silva, onde interpretou diois sósias, o empresário Paulo Della Santa, que morre em um acidente, e odono de um ferro-velho Denizard de Mattos, que toma o seu lugar; e o deputado federal Severo Toledo Blanco, que forja o casamento do boia-fria analfabeto Sassá Mutema (Lima Duarte) com sua amante Marlene (Tássia Camargo) para encobrir seu adultério em "O salvador da pátria" (1989).

A partir da década de 1990, integrou o elenco de tramas como "Tropicaliente"(1994), "Quem é você?"(1996), "As filhas da mãe" (2001), "O clone" (2001), "Da cor do pecado" (2004), "América" (2005), "Cobras & lagartos" (2006), "Negócio da China" (2008), "Passione" (2010), "A vida da gente" (2011), "Boogie oogie" (2014), "I love Paraisópolis" (2015), "Sol nascente"(2016) e "Segundo sol" (2018). Na década seguinte, foi visto em novelas como ‘Tropicaliente’ (1994) e ‘Quem é Você?’ (1996). Cuoco, nos anos seguintes, atuou em ‘O Clone’ (2001), ‘América’ (2005), ‘A Vida da Gente’ (2011), ‘Sol Nascente’ (2016) e ‘Segundo Sol’ (2018).

Também participou de remakes da Globo de sucessos que estrelou. Na versão de 1998 de "Pecado capital", na qual Eduardo Moscovis viveu seu antigo personagem, o taxista Carlão, Cuoco foi Salviano Lisboa, o empresário que perde uma mala de dinheiro para o protagonista (interpretado por Lima Duarte na original). Quando a nova versão de "O astro" ocupou o horário das 23h em 2011, Cuoco fez uma participação especial como Ferragus, ex-presidiário que ensinou ao protagonista Herculano Quintanilha (Rodrigo Lombardi) os segredos do ilusionismo.

Esteve também em minisséries, seriados e programas especiais como “Sai de baixo” (2001) e ‘A grande família” (2004). Sua última novela foi “Salve-se quem puder” (2020), interpretando a si mesmo numa participação especial.


Volta ao teatro e cinema

Tendo estreado no cinema em 1965 com “Grande Sertão”, adaptação de Guimarães Rosa dirigida por Geraldo e Renato Santos Pereira, o ator voltou à sétima arte nos anos 1990, em longas como “Traição” (1998), de José Henrique Fonseca e Arthur Fontes; “Gêmeas” (1999), de Andrucha Waddington; “Um anjo trapalhão” (2000), de Alexande Boury e Marcelo Travesso; “Cafundó” (2005), de Clóvis Bueno e Paulo Betti, e “Didi — O caçador de tesouros” (2006), de Marcus Figueiredo. Seu último filme foi “Real beleza”, de Jorge Furtado, em 2015.

A volta ao teatro após “Hedda Gabler” (1985), se deu depois de 20 anos de dedicação exclusiva à TV, com “Três homens baixos”, na qual dividiu o palco com Gracindo Jr. e Chico Tenreiro. Também integrou o elenco de montagens como “O último bolero” (2006) e a adaptação do musical “Judy Garland — O fim do arco-íris” (2012).

No dia 6 de junho, o ator fez sua última aparição na TV na exibição do especial “Tributo”, da TV Globo, em sua homenagem. O programa contou com uma entrevista em seu apartamento em São Paulo, e depoimentos de colegas de cena, como Betty Faria e Ângelo Paes Leme.


Fonte: O Globo



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