Jovem se prepara para 3ª cirurgia após síndrome rara que causa necrose na região genital

Renato de Sá abraça a enfermeira após de receber alta, depois de 18 dias internado, no Hospital de Base de Brasília — Foto: Arquivo pessoal

O que parecia ser um leve desconforto nas partes baixas deixou o brasiliense Renato de Sá, de 30 anos, entre a vida e a morte em janeiro deste ano.

Em plena viagem de férias, voltando ao Brasil após uma temporada no exterior, Renato foi diagnosticado com uma doença rara: a Síndrome de Fournier, infecção bacteriana que acomete a região genital e causa a morte (gangrena) dos tecidos da área (saiba mais abaixo).

Ele conta que o desconforto começou no dia 21 de janeiro – mas começou a piorar rapidamente. Ele chegou a ir em unidades de pronto-atendimento (UPAs) e recebeu orientações de medicação, mas a síndrome ainda não tinha sido identificada.

"Foi horrível. A dor foi só aumentando. Não conseguia mais sentar direito, só ficar deitado. Eu estava em Goiânia e fui em uma UPA de lá. E eles só passaram remédio para dor na veia. Aí eu voltei para Brasília, e fui direito para o Hospital de Base. Lá eu já cheguei chorando de dor, de cadeira de rodas", conta Renato.

Menos de uma semana depois do primeiro sintoma, no dia 27, a infecção já havia se alastrado – e as dores tinham se tornado insuportáveis.

No Hospital de Base, Renato recebeu o diagnóstico que mudaria tudo em sua vida.

"Eles falaram que eu estava essa infecção bacteriana, chamada Síndrome de Fournier. Eu só queria que a dor passasse. Fiquei muito assustado com tudo. Não estava entendendo o que estava acontecendo comigo. E com a dor eu acho que desassociei um pouco, porque só lembro de entrar gritando na sala de cirurgia e pedir pelo amor de Deus para fazerem aquela dor parar. Foi quando me sedaram", relembra.

"A primeira cirurgia, que eu só tinha 5% de chance, foi só para salvar a minha vida. A segunda cirurgia foi quando eles tiraram toda a pele necrosada pela bactéria e colocaram uma bolsinha de colostomia em mim. A partir daí, eu fiquei quatro dias na morfina para aguentar a dor, sem conseguir andar, ir ao banheiro, tomar banho. As enfermeiras me davam banho na maca e eu urinava pela sonda. Foram os 18 dias no hospital", lembra.

Renato de Sá descobriu que estava com Síndrome de Fournier, durante férias com a família, em Brasília — Foto: Arquivo pessoal

De acordo com Renato, foi possível combater a bactéria que tinha causado a infecção.

"Eu consegui voltar a andar aos poucos, fui para casa. Depois de alguns meses, a pele retirada se regenerou, e hoje eu estou bem, estou saudável, recuperado. Agora estou esperando conseguir fazer a reconstrução".

Vaquinha e retirada da colostomia

Passados seis meses do susto, Renato de Sá está recuperado, mas ainda convive com a bolsa de colostomia porque precisa de uma terceira cirurgia: a de reconstrução do trânsito do trato intestinal.

O procedimento está disponível na rede pública, mas a fila de espera é grande. Segundo ele, a estimativa oficial é de uma demora de até três anos.

"Estou há 53 dias na fila e minha posição foi de 145 para 134", relatou.

No hospital particular, não há fila – mas o custo do procedimento é alto em razão da complexidade. "Tem chance de precisar de internação em UTI, bolsa de sangue, mais materiais, caso ocorra algum imprevisto. Então, o gasto inicial é de R$ 35 mil", explicou.

No começo da semana, Renato e familiares criaram uma campanha para arrecadar doações e cobrir parte desses custos. O que eles não esperavam é que a meta de R$ 35 mil seria batida em menos de um dia.

"Em menos de 15 horas, a gente bateu [a meta], foi bem impressionante. Eu não conseguia parar de chorar, porque na minha cabeça essa cirurgia ia demorar dois anos. E vou poder fazer mês que vem", comemorou em um vídeo nas redes sociais.

"Estou sorrindo para as paredes. Foram mais de 600 mensagens, foram 320 transferências", enumerou.

A data da cirurgia ainda deve ser marcada.

O que é Síndrome de Fournier?

A Síndrome de Fournier é uma infecção rara e grave que atinge a região genital e acomete especialmente os homens. É uma doença causada por bactérias que penetram os tecidos moles do períneo (região entre o pênis e o ânus), provocando necrose (morte) desses tecidos.

Por esse motivo, a doença também é conhecida como gangrena sinérgica, gangrena de Fournier ou fascite necrosante perineal.

Os principais sintomas da Síndrome de Fournier incluem:
  • Dor súbita e intensa na região genital;
  • Vermelhidão, inchaço e sensibilidade na pele;
  • Febre;
  • Calafrios;
  • Náuseas e vômitos;
  • Mau cheiro local;
  • Saída de pus pela pele;
  • Queda do estado geral de saúde do paciente.

As principais causas de contaminação são:
  • Traumas na região;
  • Pacientes portadores de diabetes mellitus;
  • Pacientes imunossuprimidos;
  • Falta de higiene íntima;
  • Infecção urinária;
  • Picada de inseto na região;
  • Presença de sondas urinárias na bexiga.

O diagnóstico da Síndrome de Fournier é feito por meio de exame físico/clínico e complementado por exames laboratoriais, como exames de sangue e culturas de tecido (realizado com uma amostra para detectar a presença de bactérias), além de exames de imagem como ultrassom, tomografia ou ressonância.

A Síndrome de Fournier tem cura, mas o tratamento deve ser iniciado quanto antes para evitar complicações graves, como infecção generalizada (também chamada de sepse).

O tratamento é feito utilizando antibióticos, cirurgia e cuidados intensivos.

A cirurgia é necessária para remover todo o tecido necrosado e prevenir a propagação da infecção – em geral, a retirada é bem ampla e agressiva. Já os antibióticos são ministrados via oral ou intravenosa, a depender do grau de comprometimento da saúde do paciente.

Fonte: G1



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