Peixe invasor com 18 espinhos e altamente venenoso é encontrado em destino turístico da BA

Peixe invasor com 18 espinhos é encontrado em destino turístico na Bahia — Foto: Reprodução/TV Bahia


Um peixe invasor foi capturado por moradores no destino turístico de Taipu de Dentro, na cidade de Maraú, no baixo sul da Bahia. De acordo com a Secretaria do Meio Ambiente do município, o Peixe-leão é altamente venenoso e pode causar desequilíbrio no ecossistema marinho.

O peixe-leão, originário do oceano Indo-Pacífico, foi encontrado em um estuário, ambiente de transição entre rio e mar que, inclusive, serve como berçário para muitas espécies de animais. O local também representa uma barreira importante para redução de impactos das mudanças climáticas e efeitos das marés sobre a cidade.

Segundo a bióloga da Secretaria do Meio Ambiente de Maraú, Stella Furlan, o peixe foi resgatado e será objeto de pesquisa.

"Eles colocam 30 mil ovos, que reproduzem em 26 dias, se alimentam de peixes até 70% do tamanho deles e comem 30 peixes a cada 20 minutos em média. Ele não tem predador, então pesquisadores, nativos, pescadores e todos que vivem do mar precisam se unir para conseguir controlar", disse a bióloga.

Ela ainda alerta para a necessidade de cuidado ao encontrá-los, já que eles têm espinhos com venenos que podem causar dores ou até convulsões. "Precisamos capturar o animal sem tocar com a mão, registrar, tomar cuidados com os espinhos e avisar ao Inema o quanto antes e a Secretaria do Meio Ambiente", explicou Stella Furlan, que também é idealizadora do projeto Mergulho Consciente.

Peixe-leão: belo, venenoso e perigoso

Peixe-leão — Foto: Michael Gäbler/ Wikimedia Commons

Com espinhos venenosos e aparência chamativa, o peixe-leão já foi registrado na Baía de Todos-os-Santos e apresenta vários riscos. São eles:
  • População cresce rapidamente. Se reproduz muitas vezes ao ano e consegue gerar milhares de ovos e larvas durante os processos reprodutivos.
  • Na fase adulta ele pode alcançar até 47 cm com 18 espinhos venenosos.
  • Potenciais predadores não o reconhecem como presa, por não ser uma espécie nativa.
  • Se alimenta desenfreadamente, o que pode causar colapso em algumas cadeias alimentares.
  • Espécie invasora também pode ser perigosa para seres humanos que a toquem acidentalmente. Dependendo da quantidade de peçonha na pele do indivíduo, pode causar alterações de pressão arterial, parada cardíaca e infecção.

Na Baía de Todos-os-Santos, foram notificados, até junho deste ano, cinco indivíduos de peixe-leão em idade adulta e reprodutiva, segundo a Sema. Eles foram avistados na região de Morro de São Paulo, baixo sul do estado, e em Salvador.

Até então, não existe um programa de monitoramento específico para detectar a espécie. Os registros feitos são considerados pontuais e eventuais.

A Secretaria do Meio Ambiente informou que a bioinvasão da espécie é muito recente na Bahia, e que iniciou a elaboração dos "Protocolos de Alerta, Detecção Precoce e Resposta Rápida". Além disso, oficinas serão realizadas no segundo semestre de 2025 para a elaboração de um documento de forma conjunta e participativa.

Retirada de mais de cinco toneladas de corais

Mais de 5 toneladas de espécie invasora são retiradas da Baía de Todos-os-Santos — Foto: Sema/Inema

Na quarta-feira (17), mais de cinco toneladas de uma espécie invasora de corais foram retiradas das águas da Baía de Todos-os-Santos, em pontos da costa da Ilha de Itaparica, como a ponte da Marinha, a Marina e a área de Pandelis.

A operação foi liderada pela Prefeitura de Itaparica, por meio da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente (Sedur), e tinha o objetivo de conter os impactos causados pelo octocoral Chromonephthea braziliensis.

No total, foram removidos 5.549,57 quilos de organismos invasores: 2.939,42 kg na primeira etapa, na Ponte da Marinha, e outros 2.610,15 kg na segunda.

Invasão das espécies na Baía de Todos-os-Santos

Trinta e seis espécies exóticas invasoras, que ameaçam o equilíbrio ambiental, foram identificadas na Baía de Todos-os-Santos (BTS), na Bahia, por pesquisadores do Programa Ecológico de Longa Duração dos Ecossistemas Marinhos da BTS.

💡 A Baía de Todos-os-Santos é a maior do Brasil e segunda maior do mundo, com 1.180 km de praias e uma área de 1.233 quilômetros quadrados, que equivale a quase o dobro do tamanho de Salvador. Ela é composta por 56 ilhas e engloba 16 municípios, incluindo a capital baiana.

Maraú, onde o peixe-leão foi encontrado nesta semana, não pertence a Baía de Todos-os-Santos. A cidade fica localizada na Baía de Camamu, no sul do estado.

Na região, uma força-tarefa formada por pesquisadores da Universidade Federal da Bahia (Ufba), da Secretaria de Meio Ambiente da Bahia e da ONG Promar monitora a evolução dos organismos que não fazem parte da biodiversidade da região.

Segundo os especialistas, ainda não é possível mensurar os impactos causados por algumas espécies já estabelecidas no mar; a essas cabe apenas o controle. Já outras — como coral-sol, coral-mole, siri-bidu e peixe-leão — são as que mais afetam os ecossistemas locais e têm impactos mais claros.

Essas quatro espécies também colocam em risco a pesca artesanal, parte importante da economia, sobretudo para subsistência de pescadores e marisqueiras.

Quem são os animais exóticos invasores que ameaçam a Baía de Todos-os-Santos. — Foto: Arte g1

De acordo com Tiago Porto, diretor de políticas e planejamento ambiental da Sema, a introdução de espécies invasoras exóticas na Baía ocorre principalmente de forma acidental. Veja como isso acontece:
  • Correntes marinhas: no caso específico do peixe-leão, a dispersão ocorre pelas correntes oceânicas.
  • Plataformas de petróleo: algumas espécies também são transportadas em estruturas como plataformas marítimas.
  • Fixação nos cascos: elas viajam presas aos cascos dos navios, facilitando sua dispersão para novos ambientes.
  • Transporte por navios: a maioria dessas espécies chegou à Baía por meio de embarcações que trafegam pela região.

Há também espécies como os corais-azul e marrom que, segundo o professor doutor Igor Cruz, da Universidade Federal da Bahia — pesquisador de recifes da Baía de Todos-os-Santos desde 2007 —, foram propositadamente introduzidas no local por aquaristas, pessoas que criam peixes, plantas e outros organismos aquáticos em aquários ou tanques, seja por fins ornamentais ou de estudo.

A maioria dessas espécies foi avistada na cidade de Porto Seguro, no extremo sul do estado, em Gamboa do Morro, pequeno vilarejo de pescadores pertencente ao município de Cairu, e nas regiões do Porto da Barra, Vitória e Boa Viagem, na capital baiana.

“Chegam, se instalam rápido e começam a se espalhar com uma velocidade muito maior do que as espécies nativas conseguem suportar”, explicou o professor Igor Cruz.

Mudanças climáticas e ação humana

Os especialistas afirmam que o movimento também está ligado ao aquecimento das águas, à intensa circulação marítima internacional e às mudanças nos ecossistemas costeiros causadas por poluição, urbanização e alterações climáticas.

"As mudanças climáticas estão afetando os ecossistemas e as espécies de várias formas. Os impactos estão muito acentuados pelas questões climáticas e tudo isso pode favorecer a expansão das áreas de ocorrência das espécies invasoras", explicou diretor de políticas e planejamento ambiental da Sema, Tiago Porto.

Como combater as espécies exóticas invasoras na Baía de Todos-os-Santos — Foto: Arte g1

A remoção das espécies segue protocolos de manejo estabelecidos pela Sema, e a identificação delas é feita por parceiros como professores da Ufba e a ONG Promar. A presença delas acende um alerta na Baía de Todos-os-Santos, mas a comunidade pesqueira tem um papel importante.

“O pescador é o primeiro a perceber quando algo muda no mar. É ele quem pode nos ajudar a monitorar e agir rápido. Mas é preciso dar estrutura, formação e apoio para isso”.

O que fazer se encontrar um animal exótico invasor

Para evitar o avanço das espécies nas regiões, equipes da Secretaria de Meio Ambiente começaram a organizar, em 2023, um plano de resposta à bioinvasão. As orientações são:
  • Não mate e não faça a retirada
  • Entre em contato pelo e-mail peld.bts@gmail.com.

Para a pessoa ficar apta a realizar a remoção da espécie, deve-se protocolar um pedido ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), com a indicação da espécie a ser removida e da tecnologia que será utilizada.

"O Ibama vai fazer uma avaliação dos riscos ambientais da estratégia, porque pode ser que a boa intenção de remover aquela espécie possa causar um impacto ambiental ainda maior, se não for feita da maneira correta", explicou o diretor de políticas e planejamento ambiental da Sema, Tiago Porto.

Fonte: G1


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