Jurados chegaram a consenso sobre as cinco imputações contra o magnata; procuradora-assistente estima que astro possa pegar até 20 anos de prisão
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O júri chegou a um veredito final no julgamento de Sean "Diddy" Combs nesta quarta-feira. O magnata da indústria da música, de 55 anos, foi absolvido em três das cinco acusações às quais respondia. O rapper foi acusado de usar sua fama e sua fortuna para comandar uma organização criminosa que durou uma década, na qual controlaria e manipularia outras pessoas por meio de violência e ameaças.
Segundo a acusação, Diddy as forçava a realizar fantasias e a participar de maratonas de sexo movidas a drogas. O réu, que sempre se declarou inocente, sorriu ao ouvir a deliberação dos jurados. Após a condenação, o advogado da ex-namorada do rapper, Cassie Ventura, falou que ela pretende "continuar lutando pelos sobreviventes" das atividades ilícitas do rapper.
Veja, abaixo, como ficou a decisão final do júri:
Acusação 1, Associação criminosa: INOCENTE
Acusação 2, Tráfico sexual de Cassandra Ventura: INOCENTE
Acusação 3, Transporte para fins de prostituição, relacionado a Cassandra Ventura: CULPADO
Acusação 4, Tráfico sexual de “Jane”: INOCENTE
Acusação 5, Transporte para fins de prostituição, relacionado a “Jane”: CULPADO
Até esta quarta-feira, os jurados haviam chegado a um veredito parcial, mas não haviam alcançado um acordo sobre a acusação de associação criminosa, a mais grave entre as cinco contra o magnata — no inglês, "racketeering", historicamente imputado a gângsters e mafiosos de Nova York. Eles voltaram a se reunir nesta quarta para deliberar e chegaram a um consenso.
Antes dos jurados, Sean Combs entrou no tribunal e olhou para a sua família. Ele deu um leve sorriso e depois se sentou com a cabeça baixa. Após ouvir o veredito, ajoelhou-se e baixou novamente a cabeça, como se rezasse. Ao se levantar, bateu palmas em direção à galeria, que também se pôs a aplaudir. Na sequência, foi conduzido para fora do tribunal pelos oficiais de justiça.
Advogado de defesa, Marc Agnifilo disse que seu cliente "deveria ser solto sob condições apropriadas" ainda nesta quarta-feira, já que foi absolvido dos crimes mais graves, de associação criminosa e tráfico sexual.
A procuradora-assistente Maurene Comey, por sua vez, afirmou que a acusação se opõe à soltura. Ela afirmou que o rapper "continuou a cometer uma série de crimes" mesmo após saber que estava sob investigação e que "provavelmente cometeria novos crimes se fosse libertado". A acusação sustenta que Diddy ainda pode pegar até 20 anos de prisão pelas duas acusações pelas quais foi condenado.
Deliberação tensa
Em nota ao juiz Arun Subramanian, nesta terça-feira, o júri não especificou de antemão se o veredito sobre quatro das cinco acusações contra Diddy era de culpa ou inocência.
"Chegamos a um veredito sobre as acusações 2, 3, 4 e 5. Não conseguimos chegar a um veredito sobre a acusação 1, por termos jurados com opiniões difíceis de conciliar", dizia o texto.
O juiz ordenou que os 12 nova-iorquinos incumbidos de determinar o destino de Diddy prosseguissem nesta quarta com as deliberações da acusação 1, da qual ele acabou absolvido.
Nela, Diddy era apontado como líder de uma organização criminosa que obrigava mulheres a participar de longas orgias com profissionais do sexo.
A fama de Diddy sofreu um duro golpe quando sua ex-companheira de 11 anos Cassandra Ventura entrou com uma ação judicial acusando-o de agressão sexual e estupro. O caso foi resolvido extrajudicialmente, mas gerou uma avalanche de ações cíveis e acusações criminais.
De que Diddy era acusado?
O elemento central da acusação era que Diddy seria o líder de uma organização criminosa de funcionários do alto escalão que "existiam para atender às suas necessidades", e que ele exercia seu poder com crimes como trabalhos forçados, distribuição de drogas, sequestro, suborno, manipulação de testemunhas e incêndios criminosos.
O advogado de defesa ressaltou que nenhum desses indivíduos depôs contra Diddy nem foi nomeado cúmplice. Para condenar o rapper por associação criminosa, o júri deveria determinar que a acusação provou que ele orquestrou com pessoas de sua organização pelo menos dois dos oito crimes que compõem a acusação de crime organizado.
Os oito homens e quatro mulheres que formavam o júri precisavam chegar a uma decisão unânime sobre cada acusação. Eles analisaram os depoimentos das 34 testemunhas que depuseram no julgamento de quase dois meses, assim como milhares de registros telefônicos, financeiros e e-mail apresentados pela acusação.
A defesa alegou que as mulheres que agora o acusam, que participaram de orgias sexuais com profissionais do sexo pagos e organizadas pelo magnata, eram adultas e tomaram suas próprias decisões.
Duas das denunciantes — a cantora Cassandra "Cassie" Ventura e outra ex-parceira, que depôs sob um pseudônimo, "Jane" — tiveram relacionamentos longos com o fundador da Bad Boy Records. A defesa trabalhou para minar sua credibilidade, alegando que elas o fizeram por dinheiro e prazer, e refutou a acusação mais grave, de crime organizado.
'Não é um Deus'
A promotoria apontou que Diddy se sentia "intocável".
— O réu nunca pensou que as mulheres de que ele abusou teriam a coragem de dizer em voz alta o que ele lhes havia feito (...) Isso acaba neste tribunal. O réu não é um Deus — disse a promotora em suas alegações finais.
O advogado de Diddy ressaltou que ele era "um empresário negro bem-sucedido e autodidata". Embora tenha reconhecido que os relacionamentos do rei do hip-hop com suas ex-parceiras eram "complicados" e envolviam violência doméstica, ele não é acusado disso. Embora pouco ortodoxas, as relações sexuais eram consentidas, enfatizou a defesa.
Diddy não prestou depoimento, nem era obrigado a fazê-lo. A defesa não apresentou nenhuma testemunha, o que é comum em julgamentos criminais, uma vez que cabe à acusação provar a culpa do réu.
Fonte: O Globo