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Panela antiaderente descascando? Veja como saber se está na hora de trocar — Foto: Freepik |
Práticas e acessíveis, as panelas antiaderentes são conhecidas por facilitar o preparo de alimentos sem grudar.
Isso acontece graças ao polímero politetrafluoretileno (PTFE), material usado no revestimento dessas panelas, que impede que os alimentos se fixem durante o cozimento.
Porém, você possivelmente já ouviu falar que esse material pode “liberar gases tóxicos” ou contaminar sua comida.
Uma parte disso é verdade: o estado do revestimento dessas panelas pode, sim, estar relacionado a problemas de saúde. E os riscos muitas vezes se acumulam silenciosamente com o uso diário.
Por isso, é importante prestar atenção à hora de trocar a panela antiga por uma nova, além de preferir utensílios mais suaves e tomar alguns cuidados com a manutenção dos seus produtos.
Quando trocar a panela antiaderente?
Alguns sinais visíveis e de uso ajudam a identificar que a panela já está pronta para ser aposentada.
“Está riscada? Não funciona mais como panela antiaderente”, diz a gastrônoma Kay Gentile.
Quando o revestimento é arranhado ou começa a descascar, significa que o material pode estar se misturando com a comida
“Se a panela for antiga, isso é de fato um risco. Se é daquelas que estão quase só o alumínio, você já ‘comeu’ todo o revestimento”, afirma Gentile.
Se a panela estiver abaulada, ou seja, sem estabilidade sobre a boca do fogão, pode ser outro indicativo. Em panelas antiaderentes, isso pode acontecer quando ela fica muito quente, o causa degradação do material do revestimento.
Quais são os riscos do antiaderente?
O risco associado às panelas com revestimento antiaderente tem a ver com a liberação de substâncias perfluoroalquiladas, os PFAS, também conhecidas como “químicos para sempre”.
“Essas substâncias não se degradam ou levam anos – cerca de 10 a 11 – para começar uma possível degradação e eliminação”, explica Marília Souza, toxicologista e professora da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP de Ribeirão Preto.
“Como a liberação delas é contínua, a tendência é sempre aumentar as concentrações tanto no organismo humano quanto no ambiente”, conclui Souza.
Segundo Souza, isso acontece principalmente em duas situações: quando a panela é submetida a temperaturas muito altas (acima de 260°C) ou quando o revestimento apresenta rachaduras, arranhões ou descascamento.
Nesses casos, as substâncias químicas que compõem o polímero se desprendem e passam para os alimentos. Apesar de não se converterem em gases tóxicos, essas partículas podem ficar suspensas no ar, o que representa mais uma via de exposição além da ingestão.
“Elas são correlacionadas com vários problemas de saúde, tanto doenças como câncer – que é um dos mais discutidos – quanto outros efeitos importantes”, afirma a toxicologista.
Entre os impactos comprovados, ela cita alterações no neurodesenvolvimento de crianças e recém-nascidos, baixa estatura ao nascer, pré-eclâmpsia em gestantes, além de doenças cardiovasculares e imunológicas.
Grupos específicos da população estão mais vulneráveis à exposição aos PFAS. Souza detalha quem são essas pessoas e por que os riscos são maiores:
- Grávidas, porque a exposição pode levar à pré-eclâmpsia, restrição de crescimento fetal e prejuízos no neurodesenvolvimento do bebê;
- Lactantes, pois os compostos podem ser transferidos pelo leite materno;
- Recém-nascidos e crianças pequenas, já que o metabolismo e o sistema de eliminação de substâncias tóxicas do corpo ainda são imaturos;
- Idosos, porque o organismo já está com funcionamento fisiológico reduzido;
- Pessoas com doenças crônicas ou com o sistema imunológico comprometido.
“É muito diferente a exposição de um adulto saudável e a desses outros grupos. A gente considera esses indivíduos como grupos de risco mesmo”, diz Souza.
Como evitar a exposição a essas substâncias?
De acordo com Souza, a exposição aos PFAS é cumulativa e praticamente inevitável, já que essas substâncias são utilizadas em diversos produtos do dia a dia, graças à sua capacidade de repelir tanto a água como o óleo.
Os PFAs são usados em revestimento antiaderente de airfryers, embalagens de fast food, caixas de pizza, pacotes de pipoca de micro-ondas e até roupas impermeáveis.
“Eles são encontrados até em regiões remotas do planeta, como geleiras, onde nunca houve produção industrial. É extremamente preocupante”, comenta Souza.
Mas dá para reduzir o contato com essas substâncias de algumas formas. A primeira é substituir suas panelas antiaderentes por outras sem esse revestimento.
Gentile recomenda três tipos principais de panela como substitutas ao revestimento antiaderente, mas com ressalvas quanto ao uso correto de cada uma:
- Cerâmica: “Funciona bem. Uso para fazer tudo, não gruda, é muito fácil de lavar. Mas tem que tomar todos os cuidados: não pode arranhar, nem aquecer demais.”
- Inox: “Também funciona, mas a panela tem que ficar muito quente – do tipo que a água ‘pula’ na superfície. Se deixar nessa temperatura, aí não vai grudar.”
- Ferro fundido: “Ela é mais chatinha de manter limpa, tem que cuidar bem, mas, se deixar bem quente, também tem esse efeito de não grudar. Não precisa ser aquela caríssima esmaltada.”
A segunda forma de se proteger contra substâncias químicas tóxicas é apostar em uma alimentação saudável.
Uma dieta rica em alimentos antioxidantes ajuda o organismo a combater o estresse oxidativo causado por substâncias tóxicas. A toxicologista cita frutas vermelhas, peixes ricos em ômega 3, folhas verde-escuras e castanhas como exemplos.
“Esses alimentos ajudam a fortalecer o sistema de defesa do organismo. É um contrabalanço importante diante da exposição a diversos compostos tóxicos, e não só os PFAs”, afirma Souza.
Ela reforça que o ideal é evitar também outras fontes de PFAS, como embalagens de fast-food, alimentos prontos e itens industrializados.
Fonte: G1