Capixaba de Barra de São Francisco morre em combate na Guerra da Ucrânia


Técnico de enfermagem de 29 anos foi morto em emboscada russa; família disse ter sido pega de surpresa com ida dele ao combate. Bruno de Paula Carvalho Fernandes deixou esposa e um casal de filhos

Bruno de Paula Carvalho Fernandes, capixaba que morreu na guerra da Ucrânia Crédito: Acervo pessoal

O capixaba Bruno de Paula Carvalho Fernandes, de 29 anos, natural de Barra de São Francisco, no Noroeste do Espírito Santo, foi morto na nessa segunda-feira (1º) durante uma emboscada na linha de frente da Guerra na Ucrânia. O capixaba atuava como voluntário no exército ucraniano desde maio, segundo informações confirmadas pela família.

A decisão de viajar ao país europeu foi tomada em sigilo, e nem mesmo familiares próximos sabiam dos planos de Bruno. A mãe dele, Paula da Silva Gueze, de 46 anos, contou em entrevista na terça-feira (2), que o filho havia dito que trabalharia como técnico de enfermagem, profissão que exercia no Brasil, mas acabou enviado para a linha de combate contra os russos.

"Ele falou comigo que ia trabalhar no hospital, mas só mandava vídeos treinando tiro, em acampamento. Um dia me disse: ‘Mãe, eu não vou mais para o hospital, vou ficar na linha de frente mesmo’. Eu não briguei, porque mãe nenhuma está preparada para receber a notícia que recebi", disse Paula da Silva Gueze, mãe do capixaba morto na Ucrânia

Bruno deixou a esposa, Cecília Fernandes, com quem vivia há quatro anos em Governador Valadares (MG), e dois filhos: uma menina de seis anos, que ele criou desde a gestação, e um menino de cinco anos, filho biológico.

Quando foi emboscado, Bruno estaria em uma missão com outros três combatentes — dois ucranianos e um brasileiro. Apenas o outro brasileiro teria sobrevivido e estaria internado.


Contato com a família antes da morte

A mãe do capixaba disse que conversou com o filho por videochamada na véspera do ataque. Bruno havia sido ferido em combate dias antes e estava em recuperação, mas foi convocado para voltar ao combate.

Ele falou que não tinha condições de ir, estava com a mão esquerda sem movimento. Mas disse: ‘Mãe, não tem jeito, me convocaram, eu tenho que ir’. Ele ligou só para me avisar, disse que não era uma despedida, que voltaria vivo, disse a mãe.

Bruno de Paula Carvalho Fernandes no campo de batalha Crédito: Acervo pessoal

A última mensagem de Bruno para a família foi enviada às 11h21 (horário de Brasília) de domingo (31). Na segunda-feira, por volta das 14h, os parentes receberam a notícia de que ele havia morrido. Segundo relatos repassados à família por outros brasileiros que estão no campo de batalha, Bruno teria sido atingido na cabeça e na perna. Inicialmente, ele teria sobrevivido, mas não resistiu devido à falta de socorro médico


Falta de informações

Desde a confirmação da morte, a família tenta contato com autoridades brasileiras e ucranianas para conseguir informações sobre um possível translado do corpo, mas afirma estar no “escuro”.

Mensagem que foi enviada à família comunicando sobre a morte de Bruno de Paula Carvalho Fernandes, capixaba que morreu na guerra da Ucrânia Crédito: Acervo pessoal

"Estamos desesperados. Um brasileiro que estava com ele confirmou a morte. Mas ninguém nos dá retorno, não sabemos o que fazer. A embaixada não responde, diz que só vai entrar em contato quando a documentação estiver pronta. É uma angústia sem tamanho."

Paula disse ainda que procurou o Itamaraty por orientação de um advogado amigo da família, mas que as respostas recebidas foram apenas que ela deveria seguir com contatos por e-mail com autoridades ucranianas.

A reportagem de A Gazeta também entrou em contato com Ministério das Relações Exteriores para saber se a pasta foi oficialmente informada da morte de Bruno, se acompanha o caso e se dará algum apoio. Em nota, o Itamaraty afirmou que está à disposição da família, mas que não fornece informações sobre cidadãos que procuram atendimento. Veja, abaixo, a nota na íntegra.


Nota do Itamaraty

O Ministério das Relações Exteriores, por intermédio da Embaixada do Brasil em Kiev, permanece à disposição para prestar a assistência consular devida. O atendimento consular prestado pelo estado brasileiro é feito a partir de contato do cidadão interessado ou, a depender do caso, de sua família.

A atuação consular do Brasil pauta-se pela legislação internacional e nacional. Para conhecer as atribuições das repartições consulares do Brasil, recomenda-se consulta ao Portal Consular do Itamaraty.

Em atendimento ao direito à privacidade e em observância ao disposto na Lei de Acesso à Informação e no decreto 7.724/2012, o Ministério das Relações Exteriores não divulga informações pessoais de cidadãos que requisitam serviços consulares e tampouco fornece detalhes sobre a assistência prestada a brasileiros.

Informa-se que o Ministério das Relações Exteriores publicou alerta recente sobre a participação de combatentes brasileiros em conflitos armados em terceiros países.


Carreira na área da saúde

Bruno construiu carreira na área da saúde. Durante a pandemia de Covid-19, fez de cinco a oito transferências diárias de pacientes em Minas Gerais e chegou a trabalhar em ambulâncias do Samu mesmo nos dias de folga, segundo apuração do g1 MG. Em 2022, foi contratado pelo Hospital Regional de Governador Valadares, onde permaneceu até fevereiro deste ano, quando decidiu se alistar no exército ucraniano.

Meu filho sempre foi trabalhador, dedicado à família. Ele acreditou que podia ajudar lá, mas foi enganado. Eles estão mandando os brasileiros para o front e poupando os jovens deles.


Fonte: A Gazeta



Postagem Anterior Próxima Postagem