Golpista preso em cobertura chegou a dar ‘curso de estelionato’


André Roger Vieira, de 36 anos, colecionava nove mandados de prisão, por delitos como organização criminosa, lavagem de dinheiro, estelionato e furto — Foto: Reprodução

O catarinense André Roger Vieira, de 36 anos, colecionava nove mandados de prisão, por delitos como organização criminosa, lavagem de dinheiro, estelionato e furto, quando foi preso, no último dia 20 de agosto. A polícia o encontrou em uma cobertura no Recreio dos Bandeirantes, na Zona Oeste do Rio. Com sua captura, os agentes buscam desvendar uma complexa rede de identidades falsas adotadas pelo acusado, usadas para escapar da Justiça de Goiás e de Santa Catarina. Segundo a polícia, além de aplicar golpes, ele dava aulas: ministrava um “curso de estelionato”, cobrando R$ 600 para ensinar como fraudar cartões.

O ponto de partida para a prisão foi uma investigação iniciada pela 126ª Delegacia de Polícia Civil de Cabo Frio. André Vieira, usando o nome falso de André Felipe da Silva, alugou um apartamento de alto padrão em um bairro nobre da cidade na Região dos Lagos. O contrato, no valor de R$ 167 mil, foi assinado por 35 meses e incluía seguro-fiança. No entanto, ele não pagou nenhum aluguel, acumulando dívidas que foram absorvidas pelos contratantes e pela seguradora.

Ao registrar a ocorrência, as vítimas apresentaram a cópia do documento falso usado pelo criminoso, que tinha a fotografia verdadeira deVieira. Foi aí que a inteligência da polícia entrou em ação: a partir da foto, a equipe conseguiu chegar à sua verdadeira identidade, descobrir seus mandados de prisão e até mesmo que ele havia registrado o próprio filho com o nome falso adotado.

A audácia do criminoso era tamanha que ele usou um documento verdadeiro, mas com dados falsificados. A polícia suspeita que ele tenha obtido uma certidão de nascimento falsa no Maranhão para conseguir uma CNH legítima no Rio de Janeiro.

A prisão de André Roger Vieira no Rio de Janeiro atinge um esquema milionário de estelionato que, sob a fachada de empresas de ramos variados, causou prejuízos de mais de R$ 3 milhões em diversos estados. De acordo com as investigações, Vieira não agia sozinho, mas como o líder de uma organização criminosa que explorava a boa-fé de franqueados e clientes em 26 cidades do Sul e do Sudeste do país.

Vieira é investigado desde 2020 por diversos golpes. O ponto central de seus negócios era a empresa de celulares KingPhone. Através dela, o criminoso atraía franqueados e consumidores com preços de produtos muito abaixo do mercado, exigindo, contudo, o pagamento total ou parcial antecipado. O estratagema era simples e eficaz: a maior parte dos aparelhos nunca chegava às mãos dos compradores, gerando lucro milionário para o grupo.

O lucro do esquema montado era então direcionado para outras modalidades de fraude. Com o dinheiro dessa atividade criminosa, Vieira expandiu seus negócios, criando a empresa de joias e semijoias KingGold. A estratégia era a mesma: o dinheiro dos clientes era recebido e desviado, mas sem que a entrega dos produtos acontecesse.

Para sustentar a farsa, os integrantes do grupo tinham papéis bem definidos. A aparência de legalidade nas operações em mercados diversos era assegurada pela atuação de uma rede de cúmplices, cada um com um papel específico no esquema: Gabriela Luzia Beltrame e Renan Mendes de Oliveira atuavam como “facilitadores”, fazendo contato direto com possíveis franqueados e clientes.

Já a companheira de Vieira, Suelen Einick, tinha a função crucial de lavar o dinheiro amealhado de forma ilícita. Ela colocava em seu nome carros de luxo, como um Chevrolet Camaro, avaliado em R$ 500 mil, uma Range Rover Evoque, que chega a custar R$ 430 mil, e uma BMW, adquiridos com o lucro proveniente dos golpes. Vieira também abriu uma concessionária, a KingCars Master, para vender veículos obtidos de maneira ilegal.

Um rastro de prejuízos

As investigações da Polícia Civil revelam uma série de crimes, com vítimas em diversas cidades. Somente na KingPhone, o prejuízo pode ter ultrapassado os R$ 3,2 milhões. Vieira e seu grupo também se aventuravam em golpes específicos que somam centenas de milhares de reais, como os ocorridos em Lages (SC) e Cascavel (PR). As vítimas perdiam tanto os valores investidos nas franquias quanto o dinheiro das vendas que repassavam a Vieira, sem nunca receber os produtos.

A organização também era meticulosa na falsificação de documentos para evitar a fiscalização. Notas fiscais da KingPhone eram emitidas com valores de custo, enquanto os produtos eram vendidos por preços muito menores para enganar os órgãos fiscais.

Além de todas as práticas de estelionato e lavagem de dinheiro, o golpista ainda se apropriou indevidamente de R$ 20 mil de um funcionário em Chapecó (SC), alegando que o valor era referente a uma comissão de vendas. A prisão de Vieira, que já tinha uma condenação de 48 anos em Santa Catarina, pode colocar ponto final em uma longa saga de crimes.

Estelionato em alta

Entre janeiro e julho deste ano, segundo dados do Instituto de Segurança Pública (ISP), foram feitos 88.667 registros de estelionato no Estado do Rio — o equivalente a 17 ocorrências a cada hora, em média. O número é o maior da série histórica para o período e representa uma alta de 3% em relação aos mesmos meses do ano passado.

Nos primeiros sete meses deste ano, as áreas de delegacia — as chamadas Cisps, ou Circunscrições Integradas de Segurança Pública — com mais casos foram a da 32ª DP (Taquara), com 3.655 registros; a da 16ª DP (Barra da Tijuca), com 3.043; e a da 35ª DP (Campo Grande), com 2.313 ocorrências. Todas as 137 Cisps tiveram registros deste tipo de crime.

Fonte: Extra


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