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A manicure Samara Araújo, 25, de Santo André (SP), viveu um dos momentos mais assustadores para qualquer pai ou mãe: quando foi buscar o filho, Lucas, 4, na Emeief João de Barros Pinto, na última quinta-feira (4), descobriu que ele havia fugido e passado cerca de 20 minutos na rua, sem supervisão. O pequeno foi encontrado numa sorveteria por desconhecidos e devolvido à escola. "Entrei em choque total", disse, em entrevista exclusiva à CRESCER.
Segundo a mãe, Lucas saiu pelo portão em que entra a merenda, por volta das 15h30, sem que ninguém percebesse. "Ele estava no parquinho, pediu para ir ao banheiro, viu o portão aberto e saiu", conta. Imagens de uma câmera da rua, recuperadas por Samara, mostram parte do trajeto que o garotinho fez.
Após atravessar ruas movimentadas, sem farol ou faixa de pedestre, o menino chegou a um posto de gasolina. Ele passa por três homens e segue em direção a uma avenida, onde está a sorveteria — faltava só atravessar para conseguir seu tão desejado sorvete.
Lucas chega até a apertar o botão para que o farol feche, mas o proprietário do posto de gasolina, Ricardo Valinho, vai até ele e o impede de atravessar sozinho. Para que o pequeno se acalmasse, ele oferece pagar o sorvete, enquanto isso, pergunta seu nome, idade, onde estuda e aciona a Guarda Civil Metropolitana (GCM). Foram cerca de 20 minutos até que o menino fosse devolvido à escola.
Quando Samara chegou para buscar o filho, aproximadamente uma hora depois, se assustou ao se deparar com guardas na porta da escola. "Tinha um monte de viatura. Quando fui buscá-lo na sala de aula, a professora me informou que a diretora queria falar comigo. Entrei em choque total. Tanto que eu não consegui nem ter uma reação para abrir boletim de ocorrência. Na hora, só foi aberto o boletim de ocorrência da GCM mesmo", explica.
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Ricardo comprou um sorvete para Lucas para ele se acalmar — Foto: Arquivo pessoal |
Segundo a mãe, por ser pequeno, Lucas não compreende muito bem a situação. "Eu perguntei o que aconteceu e ele disse: 'A professora [estava] muito brava e o Lucas fugiu'. Mas ele não fugiu porque não gosta da escola. Quando ele chegou na rua, ele falou que ia tomar sorvete, simples assim", conta Samara. "Ele ainda não sabe se comunicar muito bem e, se tivesse acontecido coisa pior com ele, eu não ia saber", acrescenta.
Assista ao vídeo:
'Ninguém sabe ao certo ainda como ele saiu'
Samara afirma que não recebeu acolhimento da escola. "Ninguém sabe ao certo ainda como ele saiu, porque a escola, até agora, não me mostrou as filmagens. Quem foi atrás dessas imagens [do posto de gasolina] fui eu, que fui conversar com o dono do posto", diz.
Ela também não recebeu mais nenhuma mensagem da escola desde a sua conversa com a diretora no dia do ocorrido. "Parece que a escola agora está com uma outra versão, falando que ele pulou o portão. Só que até ninguém veio falar comigo. Momo que uma criança de 4 anos pula um portão de quase três metros e ninguém percebe? Se isso aconteceu, ele correu ainda mais perigo, poderia ter morrido ali mesmo", afirma.
Na sexta-feira (5), depois que teve tempo de processar tudo, Samara foi a uma delegacia reportar o ocorrido. "Pensei em tudo que poderia ter acontecido e fui à delegacia. Um policial me orientou a voltar na segunda-feira (9), com todas as informações para abrir o boletim. Foi o que eu fiz. Na quinta-feira (11), vou na Delegacia de Ensino também", conta.
Samara quer que a escola seja responsabilizada pelo ocorrido e garanta maior segurança às crianças. "A culpa não é de outra pessoa, a não ser da escola. Meu filho é uma criança de 4 anos, ele não tem noção da gravidade e do perigo que ele estava correndo", destaca.
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O caso ocorreu o Emeief João de Barros Pinto — Foto: Arquivo pessoal |
Até agora, Lucas não retornou mais à escola. "Ele está em casa desde o dia que aconteceu, eu não mandei mais porque eu não consigo. E ele ama ir para escola. Ele está em casa pedindo para ir para escola, mas eu não consigo", afirma.
O vídeo de Lucas correndo pelo posto de gasolina teve uma grande repercussão e, embora muito internautas também terem ficado indignados com o ocorrido, outros atacaram o menino e a mãe. "Tiveram comentários falando que o menino é mal-educado, sem nem conhecer o meu filho, falando que a culpa foi dele, que eu queria fama. Só quero que não aconteça com outras crianças, só isso", afirma Samara.
O que diz a prefeitura?
Em nota à CRESCER, a Prefeitura de Santo André explicou que a Secretaria de Educação, que é quem administra a escola, está apurando os fatos e que estão sendo tomadas ações para reforçar a segurança das crianças na rede de ensino. Leia na íntegra:
"A Prefeitura de Santo André informa que a escola, ao perceber a ocorrência, tomou imediatamente todas as providências cabíveis necessárias para garantir a segurança e o bem-estar do aluno e dos demais estudantes, bem como o acompanhamento adequado à criança envolvida e à sua família.
A Secretaria de Educação instaurou processo administrativo para apuração dos fatos, com a seriedade e a responsabilidade que a situação exige, assegurando que todas as circunstâncias sejam devidamente analisadas.
Todas as ações necessárias estão sendo tomadas para proteger a criança, oferecer suporte à família e reforçar as condições de segurança em toda a rede de ensino. O município reafirma seu compromisso com a promoção de um ambiente escolar seguro, acolhedor e de respeito para todos os estudantes."
A CRESCER também entrou em contato com a Emeief João de Barros Pinto, mas não obteve resposta até a publicação desta reportagem.
Não é um caso isolado
Não é a primeira vez que algo assim acontece na Emeief João de Barros Pinto, a auxiliar de cozinha Francisca de Jesus, 39, conta à CRESCER que passou por uma situação semelhante com seu filho, Theo, 4, em 25 de fevereiro deste ano. "Por volta de 11h55, eu cheguei na sala do meu filho e não o encontrei, fui até a secretaria para perguntar por ele, depois fui ao pátio onde tinha vários funcionários e ninguém soube responder onde ele estava", lembra.
Ela foi informada que a professora não tinha comparecido à escola naquele dia e foi orientada a falar com a substituta. "Ela me mostrou outra criança nada a ver com o meu filho. Nesse momento, começou o meu desespero, sai junto com uma funcionária a procura dele, olhamos em tudo quanto é canto e nada. Nesse momento, eu já estava pensando o pior, pois era como se ninguém o tivesse visto ele naquele dia. Na minha cabeça, alguém tinha o levado", recorda.
Para o seu alívio, cerca de cinco minutos depois, um funcionário chegou segurando Theo. "Ele tinha o encontrado no segundo quarteirão, próximo a uma avenida movimentada. Ele foi acompanhando um coleguinha da sala dele, que estava sendo levado por uma moça que não conhecia meu filho e não tinha percebido que ele estava indo junto atrás deles", conta.
No momento em que viu o filho, não pensou em mais nada, apenas o levou para casa. "Na hora, fiquei sem reação e não falei nada, só depois mandei um áudio para direção falando que iria abrir um boletim de ocorrência. A moça que me atendeu pediu calma e para ir lá conversar com a diretora. Fui lá no outro dia conversar, e ela me prometeu que não iria mais acontecer, que lá era seguro. Ela meio que me coagiu para não fazer a ocorrência e acabei não fazendo", finaliza Francisca.
Fonte: Crescer