Gritos, falta de escuta e incoerência nos limites são alguns fatores que podem influenciar o comportamento infantil
As crianças aprendem observando — e muito do que expressam emocionalmente vem do que vivenciam em casa. Quando o ambiente familiar é marcado por gritos, punições, descontrole ou ausência de escuta, elas passam a enxergar o mundo como um lugar ameaçador e reagem com agressividade. A seguir, especialistas explicam quais atitudes dos pais mais contribuem para esse comportamento — e por que é possível mudar essa realidade.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_19863d4200d245c3a2ff5b383f548bb6/internal_photos/bs/2025/A/E/dO8wxsRwmzUirsceSUBA/criancas-agressivas.jpg)
1. Resolver conflitos com gritos ou punições físicas
Quando o adulto perde o controle e reage com agressão, a criança entende que a força é uma forma aceitável de impor vontade. “A criança aprende por modelagem. Quando é agredida, ela internaliza que ‘quem ama também machuca’ e que a força é um meio legítimo de resolver conflitos”, explica a psicóloga Katherine Sorroche, especialista em parentalidade. A pediatra Loretta Campos reforça: “Se um pai ou mãe costuma resolver tudo aos gritos, a criança entende que esse é o modelo de resolução de problemas.”
2. Ignorar ou desvalorizar as emoções da criança
Frases como “não é nada”, “engole o choro” ou “para de drama” podem parecer inofensivas, mas ensinam a criança a reprimir sentimentos. “Quando os pais minimizam as emoções, a criança aprende a guardar o que sente — até que essas emoções explodem em comportamentos agressivos”, explica Katherine Sorroche. Segundo Loretta Campos, a falta de escuta emocional gera irritação: “Ao não se sentir compreendida, a criança reage com raiva, porque não sabe como expressar a frustração de outro modo.”
3. Ser incoerente nas regras e limites
Quando o adulto hoje permite e amanhã pune, a criança vive em imprevisibilidade. “A falta de consistência gera ansiedade e raiva, porque o cérebro infantil precisa de contorno para se sentir seguro”, diz Katherine Sorroche. Para Loretta Campos, o oposto — o excesso de permissividade — também favorece comportamentos agressivos: “Quando tudo é permitido e não há limites claros, a criança não aprende a lidar com o ‘não’ e tende a reagir de forma explosiva diante de frustrações.”
4. Expor a criança a brigas e hostilidade entre adultos
O clima emocional da casa é absorvido pelas crianças, mesmo quando elas não participam diretamente das discussões. “Quando há brigas constantes, silêncio hostil ou estresse crônico, elas interpretam o ambiente como perigoso e expressam isso em forma de agitação ou agressividade”, explica Katherine Sorroche. Loretta Campos complementa: “Presenciar discussões agressivas ou falta de respeito entre os pais ensina, de forma inconsciente, que essa é a forma ‘normal’ de se relacionar.”
5. Usar ironias, sarcasmos ou castigos humilhantes
A forma como o adulto se comunica também influencia o comportamento da criança. “Ironias, sarcasmos e punições que envergonham não ensinam — ferem. A criança aprende a reagir com dor, não com reflexão”, aponta Loretta Campos. Essas atitudes rompem o vínculo de segurança e fazem a criança reagir defensivamente, como explica Katherine Sorroche: “A agressividade, nesses casos, não é uma escolha ruim, mas uma resposta de defesa a uma sensação de ameaça ou solidão.”
Como reverter o comportamento agressivo?
Ambas as especialistas reforçam que nunca é tarde para mudar. “O cérebro infantil é plástico, e as relações têm poder de cura”, lembra Katherine Sorroche. O caminho envolve reconhecer os erros, pedir desculpas e oferecer novos modelos de convivência baseados em diálogo e afeto.
Loretta Campos destaca que “as crianças são muito receptivas à mudança quando percebem que o ambiente está diferente”. Mostrar calma, resolver conflitos com respeito e reforçar o vínculo emocional são passos fundamentais para que a agressividade dê lugar à segurança e à empatia.
Fonte: Revista Crescer