COP30: O Brasil agroambiental que o mundo precisa conhecer


Logo da COP30 é exibido em frente a um edifício central em Belém, Brasil • Wagner Meier/Getty Images

Nesta segunda-feira (10) começou, em Belém do Pará, a COP-30, a conferência do clima mais importante dos últimos anos. O fato de ocorrer no Brasil é determinante para reposicionar o país como protagonista no debate climático. Não é uma COP do agro, mas a agricultura é um tema que não pode ficar fora do centro da discussão. O mundo chega para cobrar compromissos e metas, e nós temos uma oportunidade única: mostrar resultados concretos, baseados em dados robustos e na prática diária de quem vive no campo.

Segundo dados oficiais do Cadastro Ambiental Rural (CAR), analisados pela Embrapa Territorial em 2021, aproximadamente 230 milhões de hectares estavam preservados com vegetação nativa dentro de propriedades privadas. Isso representa praticamente um quarto de todo o território nacional, sendo que à época apenas 6 milhões de imóveis rurais estavam registrados no sistema.

Além disso, quando a Embrapa cruzou os dados citados acima com o Censo Agropecuário do IBGE, estimou-se a existência de mais 55,5 milhões de hectares de vegetação preservada em imóveis ainda não registrados no CAR. Somando tudo, são 282,8 milhões de hectares preservados dentro de áreas privadas, o equivalente a um terço do território brasileiro. Para ilustrar: se essa área fosse um país, seria uma grande floresta nativa cinco vezes maior do que a França.

O que mais impressiona é a proporção dentro de cada propriedade rural. Em média, o produtor preserva metade da área que possui: ele planta, cria e produz alimentos em uma parte, e mantém a outra com floresta, mata ciliar, nascente e reserva ambiental. Pode-se dizer que não existe paralelo mundial. Em outros países, o produtor pode usar praticamente toda a área que possui para a produção. Aqui, o produtor pensa em preservar antes de produzir, por força da legislação ambiental mais exigente do mundo, mas também porque o produtor brasileiro compreende o benefício ambiental e econômico de manter vegetação nativa.

Se o planeta quer discutir o clima com seriedade, precisa olhar para essa realidade. No Brasil, a preservação está dentro de fazendas e não apenas em parques ou áreas públicas.

Em São Paulo, essa política ambiental é acompanhada por tecnologia e transparência. O estado se tornou o líder nacional em regularização ambiental, com 200 mil CARs validados. Não é apenas declarar preservação: é comprovar, georreferenciar e disponibilizar publicamente. Validar CAR é transformar discurso em dado auditável. E ainda, o papel do agro na COP não é apenas preservar, é o de oferecer soluções.

São Paulo possui a maior área de cana-de-açúcar do mundo, com quase 6 milhões de hectares plantados, a base da cadeia que nos colocou na vanguarda dos biocombustíveis. Do etanol, evoluímos para o combustível ainda mais limpo, o biometano. Hoje, o biometano produzido no campo substitui diesel em frotas, indústrias e distribuidoras. É energia limpa que nasce de uma planta renovável.

E avançamos ainda mais. Setores como suinocultura, avicultura e bovinocultura já transformam resíduos orgânicos em biogás e biometano. O que antes era um passivo ambiental tornou-se energia renovável e fonte de renda. Nada se perde: o resíduo vira energia, o digestato vira adubo, e o produtor reduz custos com fertilizante e combustível. Na prática, o agro está descarbonizando a produção de alimentos e a matriz energética ao mesmo tempo.

Enquanto isso, nas cidades convivemos com rios poluídos, esgoto sem tratamento e aterros saturados. Ainda assim, parte do discurso ambiental urbano insiste em enxergar o produtor rural como vilão. Falta honestidade nesse debate. O campo não joga esgoto no rio. O campo mantém mata ciliar. O campo produz energia limpa.

Responsabilidade ambiental deve ser cobrada, sim. Mas o agro cumpre regras e metas que setores urbanos sequer conhecem. A COP-30 reunirá países em busca de soluções para reduzir emissões, garantir energia limpa e produzir alimentos em um planeta sob pressão climática. O Brasil pode e deve mostrar que já pratica essa equação de produzir preservando. Não precisamos escolher entre preservar e produzir. Já fazemos ambas as coisas.

Por isso afirmo: o agro brasileiro não é parte do problema climático. É parte essencial da solução.

A COP-30 não pode cair na banalidade de que é preciso ter responsabilidade ambiental. É preciso que fique claro quem preserva, gera energia limpa e garante alimento para o Brasil e para o mundo e como podemos agir conjuntamente para garantir um presente e um futuro sustentável para todos

Fonte: CNN Brasil



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