Médico acusado de envenenar pacientes para exibir 'habilidades de reanimação' é condenado

Médico acusado de envenenar pacientes para exibir 'habilidades de reanimação' vai a julgamento na França; 12 pessoas morreram — Foto: ARNAUD FINISTRE/AFP

O anestesista francês Frédéric Péchier, de 53 anos, foi condenado à prisão perpétua após meses de julgamento por envenenar intencionalmente 30 pacientes — dos quais 12 morreram — em um suposto plano para demonstrar suas habilidades de reanimação e prejudicar colegas de profissão. Ele atuava em duas clínicas de Besançon, no leste da França, quando os pacientes sofreram paradas cardíacas em circunstâncias suspeitas, entre 2008 e 2017.

Doze pessoas não resistiram. A vítima mais jovem, de apenas quatro anos, morreu durante uma cirurgia de amígdalas. A mais velha tinha 89 anos.

O julgamento, que teve início em setembro, encerrou uma investigação de sete anos que chocou a comunidade médica francesa. O caso ocorre meses depois da condenação do ex-cirurgião Joël Le Scouarnec a 20 anos de prisão por abusar sexualmente de quase 300 pacientes, em sua maioria crianças, entre 1989 e 2014.

"Você será preso imediatamente", declarou a presidente do tribunal de Besançon, Delphine Thibierge, ao acusado, que compareceu em liberdade durante mais de três meses de julgamento e ouviu a sentença sem expressar qualquer emoção.

A família do anestesista, que sempre o apoiou, estava presente no tribunal. Após o anúncio dos primeiros veredictos de culpa, suas filhas, chorando, deixaram o local.

O tribunal seguiu o parecer do Ministério Público, que havia solicitado a pena de prisão perpétua para Péchier, apontado como "um dos maiores criminosos da história por ter utilizado a medicina para matar".

A Justiça também impôs um período de 22 anos durante o qual ele não poderá solicitar a liberdade condicional. Os advogados do anestesista anunciaram que pretendem apresentar recurso contra a sentença.

Pai de três filhos, Péchier sempre se declarou inocente. Ele já estava proibido de exercer a medicina e respondia em liberdade sob medidas de controle judicial.

Caso 'sem precedentes'

— Esperei por isso durante 17 anos — afirmou Amandine Iehlen, cujo pai morreu aos 53 anos após uma cirurgia de rim em 2008. A autópsia revelou uma overdose de lidocaína, anestésico local.

O promotor Étienne Manteaux classificou o episódio como "sem precedentes na história judicial francesa".

A investigação foi aberta em 2017, depois que uma mulher de 36 anos sofreu uma parada cardíaca suspeita durante uma operação. As suspeitas logo recaíram sobre Péchier.

Dos 70 dossiês médicos analisados, a Justiça considerou 30 casos de pacientes que sofreram paradas cardíacas em operações na Clínica Saint-Vincent e na Policlínica Franche-Comté.

De acordo com os investigadores, Péchier teria manipulado bolsas de anestesia de colegas para provocar emergências em sala de cirurgia, nas quais poderia intervir e exibir seus supostos talentos de reanimação.

— Ele é acusado de envenenar pacientes saudáveis para prejudicar colegas com os quais tinha conflitos — disse Manteaux: — Péchier era o primeiro a responder quando ocorria uma parada cardíaca — acrescentou.

'Se achava o Zorro'

O médico sustenta que os envenenamentos decorreram de "erros médicos" de outros profissionais. "Estão me acusando de crimes atrozes que não cometi", disse em 2017.

Segundo o MP, ele contaminou bolsas de infusão com potássio, anestésicos locais, adrenalina e até heparina, para provocar parada cardíaca ou hemorragias em pacientes atendidos por colegas.

O objetivo: "abalar psicologicamente" os profissionais de saúde com quem estava em conflito e "alimentar sua sede de poder", afirma a acusação do MP.

Entre colegas, era visto de maneiras opostas: alguns o descreviam como um "anestesista estrela", enquanto outros o consideravam arrogante e manipulador.

Um ex-companheiro de trabalho declarou que Péchier tinha "certeza de que era o melhor" e que "se achava o Zorro".

Uma avaliação psicológica realizada em 2019, duramente criticada pela defesa, apontou uma "personalidade controladora" e "traços perversos". Outros exames, no entanto, não identificaram transtornos específicos de personalidade, descrevendo-o como um homem inteligente.

Péchier também teria enfrentado episódios de depressão. Em 2014, tentou suicídio. Em 2021, caiu da janela da casa dos pais enquanto estava embriagado.

Para Frédéric Berna, um dos 55 advogados das vítimas, dificilmente o tribunal ouvirá uma "explicação sincera e honesta de Péchier".

— É realmente alguém que não aceita um não como resposta e constantemente tenta impor sua opinião à força — afirmou.

Antes da abertura do julgamento, o acusado declarou que "não estava particularmente ansioso", mas que lutaria "uma última vez" para que "isso termine".

Fonte: O Globo


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