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| Imagem: Reprodução |
O cérebro humano não amadurece em ritmo constante; ele muda de marcha ao longo da vida. Um estudo da Universidade de Cambridge, na Inglaterra, revelou que a organização neural passa por etapas bem definidas, marcadas por viradas estruturais profundas.
Os dados, publicados na Nature Communications, são baseados em mais de 3.800 exames de ressonância magnética de pessoas entre 0 e 90 anos. Eles apontam cinco grandes fases separadas por quatro transições críticas.
Em vez de um crescimento contínuo, as conexões cerebrais se reorganizam em “saltos”, alterando a eficiência, a comunicação interna e as prioridades funcionais do sistema nervoso em cada etapa.
Segundo a pesquisadora Alexa Mousley, que liderou a análise, mapear essa cronologia ajuda a entender por que certos desafios cognitivos e emocionais emergem em idades específicas. Mais do que curiosidade científica, o achado abre caminho para estratégias mais precisas ao longo de toda a vida.
As 4 viradas do cérebro humano
Do nascimento aos nove anos
Do parto aos nove anos, o cérebro expande conexões em larga escala e, em seguida, descarta ligações pouco utilizadas para ganhar eficiência.
Além disso, a mielinização (processo de formação da bainha de mielina) acelera a condução elétrica, o que melhora a coordenação motora e impulsiona capacidades cognitivas emergentes. Nesse período, as redes passam a se organizar de forma mais hierárquica, integrando sinais sensoriais, emocionais e raciocínio.
Nas décadas seguintes, o cérebro entra em uma juventude prolongada que combina alta plasticidade com estabilização progressiva das principais rotas de comunicação. Enquanto isso, redes se especializam e ganham eficiência, o que facilita o processamento simultâneo de informações complexas.
Por fim, a poda sináptica continua calibrando o sistema, priorizando os circuitos mais ativos no cotidiano.
Aos 32 anos
Aos 32 anos, ocorre a virada adulta mais expressiva, quando a organização juvenil cede lugar a um arranjo típico da maturidade. A partir daí, entre 32 e 66 anos, a arquitetura se mantém estável, embora ajustes graduais continuem.
Além disso, o período equilibra plasticidade suficiente para aprender com a estabilidade necessária ao desempenho de tarefas complexas.
Aos 66 anos
Por volta dos 66 anos, inicia-se uma transição ligada ao envelhecimento inicial: conexões de longo alcance enfraquecem gradualmente. Entretanto, comunicações locais dentro de áreas específicas mostram preservação relativa e, muitas vezes, compensam as perdas distantes.
Assim, tarefas que exigem integração entre regiões, como planejamento complexo ou multitarefa, tendem a ficar mais exigentes.
Aos 83 anos
Aos 83 anos ou mais, a quarta virada conduz a um modo de comunicação predominantemente local, e as interações entre hemisférios e entre lobos tornam-se mais raras do que na vida adulta jovem. A variabilidade individual cresce, influenciada por contexto e hábitos.
Impactos no cotidiano e fatores moduladores
Educação continuada, atividade física regular, estímulo cognitivo constante e sono de qualidade modulam a velocidade e a intensidade dessas mudanças. Nesse sentido, pessoas com rotinas mentalmente ativas tendem a preservar o desempenho mesmo quando a conectividade de longo alcance declina.
Conhecer a fase em que cada indivíduo se encontra orienta escolhas de treino, terapia e prevenção.
A cronologia também orienta políticas públicas e práticas clínicas. Por exemplo, as escolas podem reforçar competências em períodos de alta plasticidade, enquanto os serviços de saúde ajustam intervenções quando sinais de declínio surgem.
Assim, dificuldades de aprendizagem ou memória que emergem em idades particulares ganham contexto e respostas mais eficazes.
A mensagem prática permanece clara: alinhe educação, hábitos e cuidados à fase cerebral atual. Desse modo, o cérebro aproveita o pico de aprendizado nos primeiros anos, sustenta maturidade entre 32 e 66, e prolonga autonomia após os 66 e 83.
Fonte: Escola Educação


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