Renato Casagrande
afirma que nunca vivemos uma situação semelhante a essa da pandemia da
Covid-19, que por enquanto não existe solução à vista e que o que deve ser
feito agora é preservar vidas reduzir o impacto sobre as pessoas e os mais
vulneráveis. Ele também defende que o PSB adote uma política industrial
A Fundação João
Mangabeira (FJM), do PSB, realizou nesta segunda-feira 13/4 a sexta edição do
Pense Brasil, que discutiu o tema A crise sanitária no Brasil e seus
reflexos no combate à pandemia. Realizado de maneira virtual, o evento contou
com a participação do governador do Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB),
que falou a partir de Vitória (ES); do ex-deputado federal e professor da
Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC), Odorico Monteiro,
que estava em Fortaleza; e do ex-governador da Paraíba e presidente da FJM,
Ricardo Coutinho, que falou de João Pessoa.
Em sua apresentação,
Ricardo Coutinho classificou o governador Renato Casagrande como um dos
melhores quadros que a política do Brasil produziu nestas últimas décadas,
tendo sido deputado, senador, vice-governador e duas vezes governador do
Espírito Santo, presidiu a FJM e está na vanguarda da luta contra a Covid-19.
Sobre Odorico
Monteiro, Coutinho lembrou que ele é ex-deputado federal pelo PSB-CE – e,
“quiçá, futuro deputado federal” –, médico, doutor em saúde coletiva pela
Unicamp, pós-doutorado na Universidade de Montreal, no Canadá, pesquisador em
ciência, tecnologia, produção e inovação em saúde pública da Fiocruz, e coordenador
do mestrado em ciência de saúde da família da UFC. Definiu o médico como “um
guerrilheiro” na luta permanente em prol da construção da reforma sanitária e
do SUS.
O governador socialista, Renato Casagrande e o combate ao
coronavírus
Renato Casagrande
começou dizendo que essa geração nunca vivenciou uma situação como a trazida
pela pandemia do coronavírus e que talvez a referência mais próxima do que
estamos vivendo seja a Gripe Espanhola de 1918. “Nós estamos vivendo uma crise
que, por enquanto, não tem solução, porque não tem tratamento e não tem vacina.
O que nós, governantes e cidadãos brasileiros e do mundo, temos que fazer é
tomar medidas que reduzam o impacto dessa crise; que façamos uma passagem por
essa crise com menor impacto na vida das pessoas”.
Ele reconheceu que as
pessoas às vezes ficam muito angustiadas com os governadores, prefeitos e com o
ministro da Saúde porque o comércio foi fechado e a atividade econômica foi
reduzida. “Quem poderia imaginar que uma cidade como Nova York um dia estivesse
fechada? Ou que as cidades turísticas da Europa ficassem às moscas? Mas as
pessoas acham que o problema nunca chegará aqui ou que ele é menor do que o de
outros países. No Espírito Santo, muitos acreditam que a situação de São Paulo ou
do Rio de Janeiro não chegará aqui. Isso é uma dificuldade para que se
sensibilize as pessoas nesse momento”, assinala.
O governador disse
que, como essa é uma crise mundial, ela só se reverterá se os governos centrais
atuarem firmemente. Ele citou o exemplo de Donald Trump, que começou
desdenhando, mas depois teve que injetar grande quantidade de recursos na
economia americana.
Para Casagrande, há
dois grandes objetivos dos governos nessa crise: preservar vidas e diminuir o
impacto da crise sobre as pessoas mais pobres e vulneráveis.
Em relação ao Brasil,
ele afirmou que não existe uma coordenação nacional. Se houvesse, nós
poderíamos construir um caminho juntos, coordenando esforços de União, Estados
e municípios. Mas não temos isso e, desse modo, é preciso conviver com tal
realidade. Para o governador, nós poderemos chegar ao pico do contágio em
determinado momento – não sabemos quando –, depois atingir um platô, e só
depois ocorrerá uma queda. Por isso, nosso comportamento terá que se alterar
por muitos meses. Mas ninguém pode prever nada ainda. “Tem gente que achava que
o vírus não ia se comportar muito bem em um clima quente. Mas ele está se
alastrando como nunca no Amazonas, no Ceará, no Amapá”.
O distanciamento social como caminho
Casagrande diz que a
única maneira de barrar a transmissão mais rápida do vírus e dar tempo de nos
prepararmos para enfrentá-lo adequadamente é o isolamento dos grupos de risco,
o distanciamento social, a não-aglomeração e a redução da interação. “Não para
evitar que as pessoas sejam contagiadas, mas para reduzir o tempo e a
velocidade desse contágio”, ele afirma. “Temos que ter uma disciplina asiática
para conseguir resultados de forma objetiva. Mas há dificuldades; começamos com
um isolamento maior nos Estados e hoje ele é menor”, reconhece. “As pessoas
acham que a situação não é tão grave e começam a
relaxar”.
O que fazer para que
essa passagem da crise seja menor? Ele diz que o governo federal tomou algumas
medidas acertadas nas áreas econômica e social, mas que muitas delas ainda não
foram implementadas. Linhas de financiamento para empreendedores, por exemplo,
ainda não foram regulamentadas pelo BC.
No Espírito Santo,
explica o governador, até agora houve 500 casos de pessoas contaminadas e 16
mortos, mas ele admite que o número de infectados deve ser maior, pois não
há testes em larga
escala para dimensionar o problema. No início de março, para cada 11 testes, 1
dava positivo; hoje são 3 ou 4. Mas o Estado não ficou parado. “Desde quando a
situação se agravou, lá na Ásia, começamos a nos preparar para que tivéssemos
mais leitos nos hospitais. Hoje temos reservado para a Covid-19 em torno de 160
leitos de UTI e vamos chegar em julho com 445 leitos de UTI. Fizemos
investimentos fortes em obras, ampliações. Nos relacionamos com hospitais
filantrópicos para que eles possam liberar leitos”. Casagrande disse que o
maior problema do Estado no combate à pandemia é a falta de equipamentos; não
há respiradores para todos os leitos ainda. “Conseguimos comprar 99
respiradores, mais 50, recebemos doações de 30 de uma empresa local, vamos
receber alguns do Ministério da Saúde, mas ainda assim não chegaremos aos 445
necessários”. É uma situação que ainda traz incerteza, ele admite.
A desindustrialização do Brasil
O governador deixou
claro que a falta de uma política industrial provocou uma desindustrialização
do Brasil e tirou a soberania do país. “Hoje nós somos dependentes da China, da
Índia, dos Estados Unidos, da Coreia. Numa crise como essa não tem nenhuma
indústria brasileira que fabrique respiradores”. Para ele, o Brasil não teve
uma estratégia de se tornar soberano na área industrial. Casagrande não tem
nenhuma dúvida: o PSB precisa pensar em uma política industrial. “Não tem
nenhuma atividade que se sustente se não tivermos uma política industrial. A
indústria alimenta qualquer outra atividade. Então, para que o Brasil tenha
soberania, é necessário ter uma forte política industrial, defendida pelo nosso
partido, pela FJM, pelas nossas gestões”, assinalou.
As dificuldades no combate à pandemia
Além da falta de
respiradores, Casagrande admitiu que o país e o Estado podem ter escassez de
profissionais de saúde “se a população brasileira não tiver disciplina”.
Ele lembra que o
vírus foi trazido para o Brasil por pessoas de alta renda, mas que agora o
problema está atingindo as camadas populares, em regiões onde a dificuldade de
isolamento é muito maior. O desafio será grande, reconhece. E há que se
assinalar que hoje municípios e Estados investem mais no sistema de saúde do
que o governo federal. “Foi uma curva que se inverteu: no passado, a União
investia mais, mas hoje não”, revelou.
A pandemia e a economia: a demora do governo federal
O governador falou
também do impacto da crise na atividade econômica. Ele disse que algumas medidas
do governo federal para enfrentar esse impacto são boas, como a manutenção do
FPE e do FPM, especialmente para o Nordeste e para o Norte do país. Para o
Espírito Santo, ele disse, a preservação do ICMS é mais importante. Mas outras
medidas que o governo anunciou, principalmente na área econômica, precisam ser
executadas. “Há um desespero no setor industrial, especialmente das micro e
pequenas empresas, mas também das médias empresas, porque as linhas de
financiamento não chegaram ainda”, disse.
O governo do ES está injetando recursos na economia e
agindo na área social
“Nós aqui no Espírito
Santo adotamos várias medidas, como dar validação de certidão negativa por mais
de 90 dias; suspender recursos em todas áreas de governo também por 90 dias,
para que o setor produtivo não tenha problemas com a burocracia; validar
licenças ambientais; e postergar também por 90 dias, o requerimento do ICMS do
Simples Nacional. Aprovamos na Assembleia um fundo de aval de R$ 100 milhões;
abrimos duas linhas de financiamento: uma para o microempreendedor de até R$ 5
mil, sem correção nenhuma, com seis meses de carência; e outra para
microempresa de até R$ 31.500, com correção pela Selic”.
Mas Casagrande lembra
que o papel dos Estados é de complementar o trabalho do governo federal, que
tem o poder de emitir títulos. “É ele que tem que atuar com força na economia
para diminuir o impacto da crise nas pessoas”.
Na área de
assistência social, o governador informou que o Estado também complementa o
trabalho do governo federal. “Ampliamos os recursos do fundo de assistência
social; estamos antecipando o repasse do fundo de assistência social; ampliamos
o repasse para o município comprar cesta básica, kit higiene, kit limpeza;
estamos fornecendo cestas básicas para a economia solidária e quase 100 mil
cestas básicas de merenda escolar para alunos cadastrados no cadastro único do
governo federal. Além disso, liberamos R$ 21.600.000 do Fundo Cidades para
assistência saúde ou assistência social”, informou. “Nós não poderíamos esperar
o governo federal”, acrescentou.
Ele lembrou também
que a sociedade capixaba se mobilizou em diversos movimentos solidários, tendo
criado o Espírito Santo Solidário, em que as pessoas entregam cestas básicas
nas unidades de bombeiros.
Casagrande concluiu
lembrando que o Estado lançou um aplicativo chamado Escolar, que permitirá
fazer chegar à rede estadual e municipal, pela TV, conteúdos pedagógicos.
Na sua intervenção,
Ricardo Coutinho disse que muitas vezes nós subestimamos a capacidade de
realização dos Estados. Ele ressaltou a importância das cestas básicas para
estudantes carentes ocorrida no Espírito Santo, pois a maioria dos
subempregados acaba tendo dificuldades para se submeter a uma quarentena.
Coutinho disse também
que o aval de R$ 100 milhões anunciado pelo governo capixaba é fundamental,
pois as pessoas precisam acreditar que depois da pandemia haverá um futuro.
Fonte: Fundação João Mangabeira