Brasil pede à Índia garantia e previsão de entrega de vacinas contra Covid
Para
tentar amenizar o fracasso na entrega de doses da vacina Oxford/AstraZeneca, o
governo brasileiro tem discutido com autoridades indianas a divulgação de um
comunicado público no qual o país asiático garanta que elas serão enviadas ao
Brasil no curto prazo.
Segundo
relatos feitos à reportagem, nos últimos dias negociadores do governo entraram
em contato com diplomatas indianos para solicitar uma posição que arrefeça o
mal-estar criado com a demora no envio de imunizantes contra o coronavírus.
A
avaliação entre auxiliares do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) é que os
sucessivos adiamentos na liberação da carga têm gerado desgaste para o Palácio
do Planalto, que apostava na importação para dá-lo o pontapé na campanha de
imunização no Brasil. Uma cerimônia estava sendo preparada para o ato, mas
acabou desmobilizada diante do fracasso da operação.
Algum
tipo de compromisso público da Índia é visto por aliados de Bolsonaro como uma
forma de ao menos reduzir os danos políticos que o atraso tem causado.
Interlocutores
no Planalto têm a expectativa de que o envio dos 2 milhões de doses ocorra na
próxima semana, mas outros envolvidos nas negociações têm previsões menos
otimistas.
Eles
apontam que as autoridades indianas ainda não deram sinalização de que a
entrega possa ocorrer ainda neste mês.
Quem
acompanha as conversas ressalta que a Índia tem demonstrado irritação com a
insistência do governo Bolsonaro e, principalmente, com a publicidade dada aos
planos de buscar os imunizantes no país asiático. Com o avião adesivado no
Recife (PE) e o Planalto dizendo que ele decolaria na sexta-feira (15), o
governo indiano se viu obrigado a avisar Brasília que a conclusão da operação
não seria possível naquele momento.
A
emissão de uma autorização de venda para o exterior antes mesmo que a Índia
iniciasse seu plano de vacinação seria entendida como um descompromisso com a
própria população.
Interlocutores
menos otimistas alertam ainda que não veem razões para a Índia priorizar o
Brasil antes de atender objetivos geopolíticos mais imediatos, como os países
vizinhos e mesmo nações com quem têm relações mais profundas, como Arábia
Saudita e África do Sul.
O
governo tem enviado sinalizações à Índia para facilitar a publicação da
autorização.
Além
de tentar dar menos publicidade às conversas, a delegação brasileira junto à
OMC (Organização Mundial do Comércio) não manifestou oposição quando os
indianos defenderam recentemente sua ideia de relaxar obrigações sobre patentes
de medicamentos durante a pandemia.
No ano
passado, quando o tema foi discutido na entidade, o Brasil se alinhou aos
Estados Unidos e se opôs à iniciativa era era patrocinada pela Índia e África
do Sul.
Embora
o Brasil não tenha mudado de posição, uma vez que para tanto teria que endossar
o pleito indiano, o silêncio foi uma forma de evitar desagradar Nova Déli no momento
em que o Brasil depende da boa vontade do país asiático.
Desde
dezembro, quando começaram as tratativas entre a Fiocruz e o Serum Institute da
Índia para a compra das 2 milhões de vacinas, o governo brasileiro tem feito
gestões junto à Índia para possibilitar a venda.
No
início de janeiro, Bolsonaro enviou uma carta para o premiê Narendra Modi
pedindo urgência para o tema e o ministro Ernesto Araújo (Relações Exteriores)
apelou para seu contraparte indiano, Subrahmanyam Jaishankar.
Na
terça-feira (19), a Índia anunciou que começaria a exportar vacinas nesta
quarta-feira (20) para seis países. Os destinos são Butão, Maldivas,
Bangladesh, Nepal, Mianmar e Seychelles.
Araújo
está sob forte pressão de auxiliares de Bolsonaro após o atraso na operação
montada para buscar os imunizantes na Índia.
Com o
fracasso da operação, Bolsonaro teve que assistir ao governador de São Paulo,
João Doria (PSDB), ser o protagonista do início da vacinação no Brasil.
Adversário
do Planalto, Doria foi o patrocinador político da Coronavac, vacina
desenvolvida por uma farmacêutica chinesa em parceria com o Instituto Butantan.
Sem os imunizantes da Oxford/AstraZeneca, a Coronavac é a única vacina
disponível no momento no Brasil.
Após
as críticas, Araújo determinou que as divisões do Itamaraty reunissem
informações sobre a situação de imunização em diversos países. O pedido gerou
incomodo entre diplomatas, que consideraram o gesto atrasado e mais um sinal de
que o planejamento da vacinação não estava nas prioridades do governo federal.
As
determinações, encaminhadas pelo comando do ministério a partir da terça (19),
são para que diplomatas enviem ao gabinete de Araújo dados como o início da
vacinação nos diferentes países, os imunizantes escolhidos e a quantidade de
população que já foi protegida. Uma tabela está sendo atualizada com esses
dados.
A
equipe de Araújo também pede dados sobre se os diferentes governos estão
enfrentando dificuldades para comprar matérias primas.
O
chanceler ordenou ainda que os diplomatas informem se os países que estão sob
sua alçada de trabalho são produtores de insumos para vacinas contra a Covid-19
e se eles estão em condições de exportá-los para o Brasil.
De
acordo com interlocutores, havia um monitoramento do atual estágio da vacinação
no mundo através de expedientes enviados pelas embaixadas, mas ainda não tinha
ocorrido uma solicitação do comando da instituição para centralizar essas
informações.
A
corrida por informações de Araújo ocorre no momento em que o Brasil corre o
risco de ver sua campanha de vacinação atrasar ainda mais com dificuldades
encontradas para a compra de matérias primas que estão na China.
Os
dois centros no Brasil responsáveis por fabricar imunizantes dependem da liberação
por Pequim de cargas de insumos.
A
Fiocruz já adiou a previsão de entrega das primeiras doses da
Oxford/AstraZeneca produzidas no Brasil de fevereiro para o início de março,
justamente pelos problemas no fornecimento de insumos.
Com Informações Notícias ao Minuto