Governo federal foi informado do risco de falta de oxigênio 6 dias antes do colapso em Manaus



O Ministério da Saúde foi informado no dia 8 de janeiro sobre o estado crítico do estoque de oxigênio nos hospitais de Manaus, seis dias antes do insumo acabar em vários hospitais da capital amazonense, de acordo com manifestação da Advocacia Geral da União enviada ao Supremo Tribunal Federal.

O ofício foi uma resposta a uma determinação do ministro Ricardo Lewandowski, que na sexta-feira deu 48 horas ao governo para apresentar um plano de assistência a Manaus.

Na manifestação, a AGU diz que o governo foi informado pela empresa fornecedora por e-mail no dia 8 sobre a situação dos estoques e aí alterou o plano da visita da equipe do ministério a Manaus para incluir uma “inspeção das localidades de armazenamento e manejo de oxigênio hospitalar”.

A visita, que teve a participação do ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, aconteceu apenas três dias depois, no dia 11. Em fala na capital amazonense, o ministro reconheceu que sabia da crise. Em um evento com a cúpula da saúde no Estado, o ministro disse que era preciso ter calma.

“Estamos vivendo crise de oxigênio? Sim”, afirmou, acrescentando que a crise envolvia também a falta de leitos de UTI. Pazuello contou ainda que chegou a ser cobrado em família pela falta de Oxigênio nos hospitais. “Quando eu cheguei na minha casa ontem, estava a minha cunhada, com o irmão sem oxigênio nem para passar o dia. ‘O que você vai fazer?’ ‘Nada. Você e todo mundo vão esperar chegar o oxigênio e ser distribuído.’ Não tem o que fazer. Então, vamos com calma”, disse o ministro.

De acordo com o ofício da AGU, o ministério enviou os primeiros cilindros de oxigênio gasoso —13,9 mil litros— no dia 12, quatro dias depois do aviso. Outras remessas foram feitas entre os dias 13 e 16 e o governo assumiu a negociação para reposição de oxigênio pela empresa fornecedora.

Entre as medidas listadas pela AGU para apoio ao Amazonas —cujo sistema de saúde está em colapso desde o início do mês=- está o envio de medicamentos, inclusive 120 mil comprimidos de hidroxicloroquina. Durante a visita, técnicos e o próprio ministro enfatizaram a necessidade de um suposto “tratamento precoce” para evitar que os atingidos pela Covid-19 chegassem a ser hospitalizadas.

Sob o comando do presidente Jair Bolsonaro, o ministério defende o uso da hidroxicloroquina, medicamento para malária, e a ivermectina —usada contra parasitas como piolhos— como um coquetel que impediria o agravamento da doença. Não existe, no entanto, nenhuma comprovação científica de que os medicamentos funcionem.

Nesta segunda-feira. Bolsonaro comentou a situação de Manaus mas voltou a dizer que a culpa não é do seu governo federal.

“Tem um problema em Manaus, lamentamos as mortes, culpam o governo. Nós mandamos bilhões para os Estados. Agora, quem detecta a falta de medicamentos é o secretário de Saúde estadual e municipal. Daqui a pouco vai faltar band-aid no RJ e vão querer me culpar... a gente sabe que isso é a luta pelo poder”, disse a apoiadores na saída do Palácio da Alvorada.

Bolsonaro comentou ainda comentários de opositores sobre o governo da Venezuela ter concordado em autorizar o envio de oxigênio produzido pela White Martins no país. Apesar do apoio do país vizinho, aproveitou para criticar o governo de Nicolás Maduro.

“Agora falam que a Venezuela está fornecendo oxigênio para Manaus. É a White Martins, uma empresa multinacional que está lá também. Agora, se o Maduro quiser dar oxigênio para nós, vamos receber, sem problema nenhum. Agora ele podia dar auxílio emergencial para seu povo também. O salário mínimo lá não compra 1 quilo de arroz”, disse.


Reuters
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