Covid-19: oito em cada dez pacientes têm disfunções cognitivas pós-infecção
80% dos participantes de uma pesquisa apresentaram perda de memória, dificuldade de concentração, problemas de compreensão ou confusão em algum nível
A memória
era uma aliada da produtora Ivana Sarmanho, de 55 anos. Sabia datas de
aniversário, o lado e a faixa exata de uma música em um disco de vinil. Mas
isso mudou. Após a covid-19, vieram episódios de esquecimento e alterações no
sono. Ivana, que teve um caso leve da doença, está entre as voluntárias de um
estudo que apontou a relação entre infecção pelo vírus e disfunções cognitivas.
De acordo com a pesquisa realizada no Instituto do Coração (InCor), do Hospital das Clínicas, 80% dos participantes apresentaram perda de memória, dificuldade de concentração, problemas de compreensão ou confusão em algum nível. "Com a infecção, há a invasão das vias aéreas, que causa dessaturação de oxigênio", explica a neuropsicóloga Lívia Stocco Sanches Valentin, que conduziu o trabalho. "O sangue chega rarefeito ao cérebro, que fica comprometido, causando AVC e isquemia, e atingindo as funções neuropsicológicas."
O
estudo usa uma ferramenta desenvolvida por Lívia em 2010, a MentalPlus, game
que avalia as disfunções neurológicas em pacientes com sequelas de anestesia
geral profunda. "Como já usava o MentalPlus, abri mais um protocolo de
pesquisa para avaliar as funções cognitivas na covid e vimos o estrago",
conta a pesquisadora.
Segundo
o estudo, a memória de curto prazo de 62,7% dos participantes foi afetada. Já a
de longo prazo mostrou alteração em 26,8%. Na primeira fase do trabalho, foram
analisados 185 pacientes. Hoje, são 430 e o InCor ainda aceita voluntários.
A meta
de Lívia é apresentar os resultados finais para a OMS, para que a metodologia
seja usada no diagnóstico e no tratamento de disfunções cognitivas. Ivana, que
soube do estudo dois meses depois da infecção, já sente a melhora. "Mas
tenho um caminho a percorrer."
Com informações jornal O Estado de S. Paulo
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