Agricultores levam tiros de capangas de empresa: 'Disseram que vinham para matar'

Agricultor é levado a hospital após ter sofrido agressões no Acará. — Foto: Reprodução

Trabalhadores rurais afirmam ter sido surpreendidos, na madrugada de sexta (1º), por um grupo com dezenas de homens fortemente armados em um projeto agrícola no ramal São Lourenço, que fica na localidade Vale do Bocaia, na zona rural do Acará, nordeste do Pará. 

Houve pessoas feridas; também há relatos de uso spray de pimenta e bombas de efeito moral contra as vítimas. Casas e um barracão foram destruídos pelos seguranças e havia mulheres e crianças no local, segundo testemunhas.

Agricultores são alvo de tiros e têm casas e barracões destruídos por seguranças de empresa produtora de dendê no Pará. — Foto: Reprodução

Os relatos apontam ainda que os homens chegaram por volta das 5h30 em tratores e ônibus, sem qualquer mandado judicial. "Eles disseram que vinham para matar", afirma vítima, que preferiu não ser identificada.

Um vídeo feito após a tensão mostra as motos usadas pelos agricultores. Os veículos ficaram com diversas marcas de tiros e amassados. Motores também teriam sido levados.

"Trouxeram vândalos aqui para destruir nossos bens, que suamos tanto para conseguir, entendeu? Olha o que eles fizeram com o tanque das motos...", afirma uma vítima.

No ataque, um agricultor, que vive na região do projeto agrícola no ramal São Lourenço, ficou ferido, após ter sido amarrado e agredido pelos seguranças. Ele recebeu golpes na cabeça, chegou a ser internado no Hospital do Acará e depois transferido para o Pronto Socorro Municipal Mário Pinotti, em Belém.

O caso foi registrado na Delegacia de Polícia Civil do Acará. Na tarde de sexta (1º), a policiais iniciaram as investigações e perícias foram feitas no local. Em nota, a corporação não quis dar mais detalhes, mas disse que a Superintendência Regional do Baixo Tocantins instaurou um inquérito para apurar o caso. O g1 solicitou também mais informações oficiais à Secretaria de Segurança Pública (Segup), mas ainda aguardava resposta até a última atualização da reportagem.

No projeto agrícola vivem cerca de 60 famílias de agricultores e faz parte de parceria com a então empresa Biopalma. A área é marcada por conflitos devido à expansão do cultivo de dendê. Desde o início da exploração, e com a intensificação a partir da década de 80, trabalhadores rurais, inclusive remanescentes de quilombos na região, começaram a ser tirados dos locais de origem. Muitos venderam as terras e outros acabaram sendo forçados a deixarem as moradias.

Os agricultores afirmam que o grupo é ligado à segurança da empresa Brasil BioFuels (BBF), que comprou em novembro de 2020 a Biopalma, empresa produtora de óleo de palma da mineradora Vale. O chefe de segurança da empresa esteve no local, segundo os trabalhadores. Eles relatam ainda que o conflito ficou mais forte na região, após a aquisição do empreendimento, que possui uma das maiores produções de óleo de dendê da América Latina.

Informações no site da BBF apontam que a empresa atua em quatro polos de produção de palma no Pará, que ficam na região do vale do Acará e no Baixo Tocantins, atuando em cerca de 56 mil hectares de palma de óleo plantadas e 6,8 mil hectares em projetos de agricultura familiar. O empreendimento tem expectativa de produzir 200 mil toneladas de óleo vegetal até 2022.

Até a última atualização, a empresa BBF não havia se posicionado sobre as denúncias.

PM é acionada para ocorrência no Acará — Foto: Reprodução

Fonte: G1


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