FURA-FILA: Ministério Público desmente Safadão e divulga valores de acordo negado por ele


O Ministério Público do Ceará desmentiu o cantor Wesley Safadão, nesta sexta-feira (29), sobre os valores do acordo do caso de "fura-fila" da vacinação contra Covid-19 que coloca o cantor, a esposa, Thyane Dantas, e a assessora, Sabrina Tavares, como suspeitos.
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Safadão, Thyane e Sabrina recusaram o acordo oferecido pelo Ministério Público do Estado na quinta-feira (28) e o cantor alegou que não aceitou porque queriam que ele pagasse uma quantia de quase R$ 1 milhão.

"Ontem tivemos mais um capítulo da história da vacina, tivemos uma reunião ontem pela manhã, com Ministério Público e infelizmente não chegamos a um acordo por dois motivos: 1- Queriam que eu me declarasse culpado; 2 - Queriam que eu pagasse uma quantia equivalente a quase um milhão de reais, sendo que para um cidadão comum é infinitamente menor o valor", disse Safadão no Instagram.

Porém, nesta sexta-feira (29), o Ministério Público do Ceará publicou uma nota sobre o caso da vacinação irregular e afirmou que o valor sugerido de prestação pecuniária para Wesley Safadão foi o de 360 salários mínimos, o equivalente a R$ 396 mil. A mesma quantia deveria ser paga por Thyane Dantas. Já a assessora pagaria 25 salários mínimos, equivalente a R$ 27,5 mil.

"O Acordo faz parte de procedimento do MPCE que apura suposto caso de “fura-fila” da campanha de vacinação contra a Covid-19 pelos três suspeitos em Fortaleza no dia 8 de julho de 2021. O MPCE ofereceu a proposta de pagamento de prestação pecuniária de 360 salários mínimos para Wesley, 360 salários mínimos para Thyane e 25 salários mínimos para Sabrina, de forma que o valor total seja designado para entidade pública ou privada com destinação social. Cada quantia foi calculada pelo Ministério Público considerando parâmetros legais e a estimativa da capacidade econômico-financeira de cada investigado", diz trecho da nota.

O MPCE afirmou que os três investigados ofereceram o pagamento da quantia em 50 salários mínimos, o que não foi aceito. O Ministério Público do Ceará também desmentiu a fala de Wesley Safadão sobre ser obrigado a "se considerar culpado".

"Quanto ao Acordo de Não Persecução Penal, a Lei Processual Penal exige que, para a celebração do acordo, haja confissão circunstanciada dos fatos, de forma que o MPCE não exigiu declaração de culpa dos investigados, mas a própria legislação determina isso no artigo 28-A do Código de Processo Penal. Considerando a natureza pública da investigação, o Ministério Público não aceitou o pedido de sigilo de eventual confissão proposto pelos suspeitos", diz a nota.

Como o acordo não foi feito, a investigação criminal não foi encerrada. Até o momento, a defesa de Wesley Safadão, Thyane e Sabrina não apresentou nova proposta.

Relembre o caso

Em 8 de julho de 2021, Thyane Dantas furou a fila da vacina contra a Covid-19. Ela tinha 30 anos e, na época, o calendário municipal de vacinação previa a aplicação em pessoas com 32 anos ou mais. Já Wesley Safadão e a produtora Sabrina Tavares estavam agendados para serem vacinados no mesmo dia no Centro de Eventos do Ceará, mas foram a outro posto de vacinação, num shopping. O caso é alvo de duas investigações — na Polícia Civil e no Ministério Público — e gerou um processo administrativo na Prefeitura de Fortaleza, em que uma servidora pública foi identificada e deve responder pela facilitação. Oito pessoas foram indiciadas pela Polícia Civil.

O Ministério Público do Ceará classifica a vacinação do trio como "ilegal, imoral e criminosa", conforme revelaram as investigações. Para chegar à conclusão que deu base ao despacho, a apuração analisou imagens do North Shopping Jóquei, onde os três foram se vacinar, além de documentos e depoimentos colhidos. Segundo o órgão, houve atuação direta do amigo e ex-funcionário Marcelo da Silva Matos, conhecido como "Marcelo Tchela".

"Ao tomar ciência da necessidade do cantor, de sua esposa Thyane e da assessora Sabrina de se vacinarem com imunizante amplamente aceito no exterior, em especial no México e nos Estados Unidos, onde o cantor fará shows nos meses de outubro e de novembro deste ano, conforme publicamente anunciado em suas redes sociais, [Marcelo] decidiu intervir nesse processo, de forma a viabilizar a aplicação naqueles da vacina JANSSEN/Johnson & Johnson, dose única", afirma o MP.

No dia 29 de setembro, Wesley, Thyane, Sabrina e outras cinco pessoas foram indiciadas pela Polícia Civil do Ceará por irregularidades na vacinação. O casal e outras cinco pessoas deverão responder na Justiça estadual pelos crimes de peculato e infração de medida sanitária. Segundo a Polícia Civil, as penas somadas podem chegar a 13 anos de prisão. A produtora do cantor, Sabrina Tavares, foi indiciada apenas pelo crime de infração de medida sanitária.

Segundo o MP, Marcelo da Silva Matos entrou em contato com uma pessoa que teria contatos e influência na rede municipal de saúde do município de Fortaleza e já havia trabalhado para Marcelo durante a campanha dele para vereador em Fortaleza no ano passado. De acordo com o Ministério Público, ela teria acionado uma servidora que atuava no setor de logística da vacinação da Secretaria Regional III, onde fica o posto em que o trio se imunizou irregularmente. No dia da vacinação, a servidora ligou para um terceirizado da Servnac que atuavam no shopping onde o trio foi vacinado. Ela disse que levaria os três para serem vacinados.

Marcelo foi ao shopping com os três e subiu com a produtora do cantor para a imunização; Thyane e Wesley ficaram no estacionamento aguardando "sinal verde". Ao recebê-lo, o casal subiu de elevador e foi encaminhado pelo funcionário terceirizado e também pelo supervisor do local. Os três não passaram pelo setor de registros, nem pelo de triagem da imunização.

Fonte: iG


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