PEDOFILIA | Mães denunciam aliciamento de menores por pedófilos em jogos on-line, em Nova Venécia


(Matéria produzida por Elias de Lemos - Jornal Correio 9)

DEPOIS que a reportagem do Correio9 começou a apurar a primeira ocorrência trazida ao jornal, outros casos foram aparecendo.


Criados para divertir e educar crianças, adolescentes e adultos, os jogos on-line viraram uma febre. No entanto, eles também se tornaram meios de assédio, aliciamento, abusos e pedofilia. Uma mãe procurou a Redação do Correio9 para relatar o que aconteceu com sua filha, uma pré-adolescente de 13 anos. “Só estou procurando o jornal porque acho importante alertar outros pais e mães sobre esse perigo”, explicou a mulher.

Há outros casos. Para não expor as crianças, nem as famílias, os nomes não serão revelados. A mãe narrou que trabalha o dia inteiro e a filha fica com a avó aposentada e, como toda criança, a menina gosta muito de passar o tempo jogando, pois a avó deixava. Foi assim que o pedófilo começou a assediar a garota.

No jogo on-line, as praticantes interagem entre si. Neste caso, o criminoso se passou por uma pessoa com a mesma idade da menor, foi conquistando a confiança dela, até começar uma tortura psicológica que aprisionou a garota: “Ele começou a pedir fotos dela, ela falou que não podia, mas ele agiu com ameaças, dizendo que conhecia toda a família dela, que sabia onde ela mora e que se não fizesse o que estava pedindo, ele mataria todo mundo”, disse a mulher moradora do Bairro Ascensão.

“Começamos a notar mudanças no comportamento dela, foi ficando mais agitada, nervosa e desobediente; então, começamos a desconfiar de que havia algo estranho com ela. Com isso, a minha filha maior de idade teve a ideia de vasculhar o telefone da minha mãe, que a menor usava para jogar”, explicou.

Ela continua: “Foi desse modo que descobrimos o que estava acontecendo. O que minha filha encontrou na lixeira do aparelho foi assustador. Fiquei chocada e revoltada. Ele mandou fotos dele nu, com o membro ereto, se masturbando. Uma coisa nojenta, além da violência contra uma menor”.

A mulher conta que ficou desnorteada ao tomar conhecimento do que estava acontecendo tão perto dela: “Como se não bastasse o que já falei, ele exigiu fotos dela. E o pior: com medo, ela mandou. Ele exigiu que ela tirasse uma foto com o dedo e outra introduzindo uma caneta na vagina. Chorei quando vi aquela foto e fiquei imaginando o sofrimento porque minha filha estava passando calada. Ela é uma criança, não sabe nada dessas coisas. Mas, foi muito ameaçada”, desabafou a mulher emocionada.

Ela convidou a menina para ir passear na praça: “Chegando lá, nos sentamos em um banco e começamos a conversar até eu chegar ao assunto. Aí perguntei a ela se não tinha nada para me contar. Ela disse que não, mas eu insisti, e quando disse o que queria saber, ela entrou em desespero”.

“Chorando, ela me falou: ‘não mãe, ele falou que sabe onde a gente mora e que vai matar todo mundo lá de casa se eu contar para alguém’. Aí eu disse: filha, se você contar tudo à mamãe eu vou proteger você”.

“Em seguida ela disse: ‘mãe, você pode me matar porque eu sei que a senhora não vai gostar mais de mim, então pode me matar’. Aquilo me cortou o coração e eu disse: não filha, a mamãe nunca vai deixar de gostar de você. Eu só quero te ajudar, pode ficar tranquila. Aí ela se acalmou”, relatou a mulher.

A mãe foi aconselhada a procurar a Delegacia de Polícia Civil. No entanto, lá, teve uma surpresa: “Fui atendida por um escrivão. Quando disse a ele o que precisava, fiquei chocada com o que ele me disse. Falou que a culpa era minha, que eu deveria ter vigiado mais, assim teria evitado”.

Ela mostrou as fotos ao escrivão que, segundo ela, não registrou nenhum boletim e a aconselhou a voltar, investigar por conta própria e se encontrasse mais alguma prova, então ela deveria voltar à Delegacia para registrar o caso.

“Se fui procurar a Delegacia é porque entendi que lá era o lugar para resolver. Ele me disse para eu investigar, mas eu não sou policial. Não tenho nenhuma prática nisso! Se fosse para investigar por minha conta, não teria procurado a polícia”, explicou a mulher.

Diante dessas informações, a reportagem do Correio9 procurou o chefe da Delegacia de Nova Venécia, delegado Douglas Sperandio, pedindo informações.

Questionado sobre o atendimento prestado pelo escrivão, o delegado disse que este não é o atendimento padrão. Ainda segundo ele, na Delegacia de Atendimento a Mulher, que também apura crimes sexuais, não tem nenhum escrivão, que todos os atendimentos são feitos por mulheres.

Ele respondeu que não tem conhecimento do fato, que nada foi registrado na Delegacia: “Estou achando estranho esse fato. Peça a ela para me procurar para vermos o que ocorreu. Pois todos os fatos são registrados.

Porque não me passaram nada! Peça a ela para me procurar o quanto antes. O caso será apurado sim. Peça pra ela me procurar ainda hoje”, disse o delegado na manhã desta quinta-feira (30).

Em seguida, a reportagem informou à mulher sobre a resposta do delegado Douglas. Ela disse ao Correio9 que ficou com tanta raiva depois que procurou a Delegacia pela primeira vez, que acabou apagando todos os arquivos. Mas, explicou que vai tentar recuperar e em seguida vai procurar o delegado.

Não é um caso isolado
Depois que a reportagem do Correio9 começou a apurar a primeira ocorrência trazida ao jornal, outros casos foram aparecendo.

Outra mãe, residente no Bairro Rúbia, também falou à reportagem sobre o assédio ao seu filho de 12 anos. O ritual é o mesmo: igualmente a história anterior, o garoto também gosta de jogos on-line.

Ela relatou que o filho, normalmente extrovertido, começou a ficar muito calado e quase não brincava: “Meu filho é igual pipoca, pula e corre o dia inteiro, sempre muito alegre, brincalhão e muito risonho. De uma hora para outra ele começou a apresentar um semblante triste e ficava muito calado. Então eu desconfiei que pudesse haver algo errado. Perguntei muito, mas ele não falava.”, explicou ela.

Preocupada com o menino, ela não encontrava nenhuma explicação, até que a irmã dela, tia do garoto, encontrou as pistas no celular.

O pedófilo não agiu diferentemente do primeiro caso relatado neste texto. Ele enviou fotos ao menino exigindo que a criança fizesse o mesmo: “Ele ameaçou dizendo que sabia onde meu filho mora, que conhecia toda a família e que se ele contasse a alguém, ele mataria todo mundo”.

Depois disso, o garoto abandonou a prática e não quer saber mais de jogos eletrônicos.

O terceiro caso, idêntico aos narrados até aqui, ocorreu no Bairro São Francisco, onde uma menina de 11 anos também foi vítima do assédio. A mãe da garota relatou que a filha começou a ficar muito nervosa, triste e chorava muito. Foi assim que ela conseguiu conversar e extrair a confissão da garota: “Ela me disse que um homem havia mandado fotos dele pelado para ela e que estava exigindo que ela também mandasse para ele”, disse a mãe.

Segundo ela, desde então, fiscaliza tudo o que a menina faz na internet e proibiu jogos on-line. No entanto, ela, também, não procurou a Polícia.

Modo de agir
Em quase todos os casos o modus operandi do pedófilo é o mesmo: ele se especializa no jogo, cria um perfil falso se passando por menina ou menino, mente a idade e se passa por criança ou adolescente.

Em seguida, o abusador procura se destacar no jogo, começa a participar de grupos, chats e das comunidades de jogadores, que costumam existir nas plataformas, as quais servem para a troca de experiências entre os participantes. Mas que, infelizmente, também são utilizadas por criminosos.

Onde denunciar
Em Nova Venécia, casos de violência contra a mulher, a criança e crimes sexuais devem ser denunciados na DEAM (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher).

O delegado Douglas Sperandio orienta que todos os casos devem ser levados ao conhecimento da Polícia.





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