Alunos de escola cívico-militar recebem advertência por bandeiras LGBT

Uma das bandeiras distribuídas entre os alunos Foto: Divulgação

Três adolescentes, alunos de uma turma de oitavano ano da Escola Municipal Cívico Militar Presidente Castello Branco, de Joinville, em Santa Catarina, tomaram advertências por estarem com bandeiras LGBT dentro do ambiente escolar. O episódio aconteceu no final de fevereiro e causou revolta entre alguns pais de alunos, o que levou a convocação de um protesto, ocorrido nesta quinta-feira, em frente à escola, localizada no bairro Boa Vista, zona Leste da cidade. Após o episódio, uma das alunas pediu transferência da escola.

Uma aluna da instituição teria decidido levar pequenas bandeiras arco-íris para distribuir entre um grupo de amigos, formado por outros oito alunos. Segundo o relato de Maristela Paes Felipe, mãe de uma das crianças do grupo, um dos monitores da instituição, um militar, viu a distribuição das bandeiras no intervalo e as confiscou:

— Eles já estavam com ressalvas com os monitores, tanto que as bandeiras estavam em envelopes — conta a assistente social, que diz ainda que outras crianças chegaram a esconder as bandeiras por dentro da roupa.

Advertência foi dada a alunos que levaram bandeira LGBT para escola Foto: Reprodução Redes Sociais

O filho de Maristela foi um dos adolescentes que não chegou a levar uma advertência por ter conseguido ocultar a bandeira a tempo. Isso, no entanto, não livrou a mãe de se indignar com a situação:

— Me senti incomodada. Eles (as crianças) estão sempre levantando essas questões. Eles pediram ano passado para fazerem uma semana da diversidade e o pedido foi negado de imediato.

A escola justificou a advertência tendo como base o Regimento Único das Escolas da Rede Municipal de Ensino de Joinville, documento aprovado pelo Conselho Municipal de Educação do município catarinense. As bandeiras arco-íris dos alunos, que tinham entre 13 e 14 anos, seriam "material de campanha", que só poderia ser distribuído com prévia aprovação da escola.

Maristela procurou, então, Jonas Marssaro, presidente municipal da União Nacional LGBT, que convocou a manifestação contra a atitude da escola.

— O erro já começa com a advertência. Os alunos estavam apenas compartilhando entre si uma bandeira LGBT. Usar uma bandeira não significa fazer uma campanha. Pessoas usam adornos por diversos motivos — afirma Marssaro, que disse ainda que pais e alunos demonstraram apoio ao ato desta quinta-feira:— A prefeitura e a direção da escola esquecem o fato de que o artigo 5 da Constituição Federal e o artigo 16 do Estatuo da Criança e do Adolescente é bastante explicito sobre a liberdade de expressão. As pessoas, incluindo crianças e adolescentes, tem direito de expressar suas visões e opiniões.

Uma manifestação aconteceu nesta quinta-feira contra a atitude da escola Foto: Renato Costa / Divulgação

Em nota, a Prefeitura de Joinville disse que "na quinta-feira (24/2), a direção da Escola Municipal Cívico Militar Presidente Castello Branco foi informada pela equipe pedagógica de que três alunas estavam distribuindo materiais de campanha entre os alunos. Após tomar conhecimento dos fatos, a direção chamou as alunas e os responsáveis para conversar e as estudantes foram advertidas. Uma das alunas, por escolha pessoal, solicitou transferência para outra escola. A Secretaria de Educação de Joinville ressalta que preza pela democracia e está aberta para o diálogo com todos os grupos da sociedade civil organizada".

'Não sou adepta da presença dos militares'

De acordo com Maristela, não é a primeira vez que questões relativas à diversidade provocam atritos na escola. Em meados de dezembro do ano passado, o mesmo grupo de aluno pediu permissão para criar uma semana da diversidade, pedido que foi negado pela coordenação. Os próprios alunos, então, fizeram desenhos e bandeiras relacionados ao tema e colaram nas paredes da escola.

Segundo conta, o aviso de que a escola iria se torna uma instituição cívico-militar veio em meados de 2021:

— Eles venderam o melhor e muitos pais foram adeptos. A votação foi toda muito rápida. Eu sou uma mãe que fica em cima. Não sou adepta da presença dos militares e não vejo a necessidade disso ali.

A mãe se refere ainda a abordagem dos militares como sendo, por vezes, "abusiva":

— Alunos que chegaram atrasados ficaram 1 hora copiando o hino nacional. Ficamos numa pandemia por dois anos e essa criançada não aprendeu nada. Por alguns minutos de atraso vão fazer uma turma de oitavo ano copiar o hino nacional por uma aula inteira?

Fonte: O Globo


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