Mãe relata pânico do filho ferido por sinalizador em jogo do Fla

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Thiago foi atingido por um sinalizador durante a partida entre Universidad Católica e Flamengo

A partida entre Flamengo e Universidad Católica (confira galeria de fotos abaixo) nesta quinta-feira pela Libertadores era apenas a segunda vez em que pequeno Thiago Sepúlveda, de 10 anos, assistia ao rubro-negro in loco. Sua estreia em um estádio foi em 2017, quando os dois clubes se enfrentaram no mesmo San Carlos de Apoquindo. Após ser atingido no rosto por um sinalizador, lançado por um torcedor chileno no jogo de ontem, o menino, abatido, disse à mãe que não quer saber mais de futebol.

Além de Thiago, um idoso que estava na torcida do Flamengo ficou ferido por objetos arremessados pelos rivais chilenos, entre eles garrafas e pedras. Com os ânimos exaltados desde o início da partida, torcedores da Católica protagonizaram cenas de violência sobretudo após o terceiro gol da equipe carioca, que venceu por 3 a 2.

Foi nesse momento que a jornalista Danielle Carvalho, mãe de Thiago, deixou o jogo de lado na tentativa de proteger o filho. Virou-se para a arquibancada onde estavam os chilenos e se postou na frente do garoto. Mesmo assim não viu o sinalizador que atingiu o menino.

— Começaram a lançar coisas pro meu lado. Então, deixei de ver a patrida para ver o povo jogando. Eu fiquei como um escudo. Demorei um minuto para dar conta de que meu filho tinha sido atingido. Não vi nada vindo na minha direção. Até que olho para trás e vejo meu filho caído no chão, com sangue e o olho fechado — contou Danielle ao EXTRA.

Segundo ela, torcedores do Flamengo que estavam perto ajudaram a socorrer o menino. O grupo pediu para a segurança liberar o acesso e facilitar a chegada à ambulância, mas os funcionários não atenderam de imediato. Um dos rubro-negros então desceu com Thiago no colo pelas escadas da arquibancada enquanto gritava que havia uma criança ferida. Só então conseguiram auxílio.

— Estava tão orgulhosa de ver meu filho feliz, cantando. De poder compartilhar essa paixão com ele. Não consigo entender como chegou ao rosto do Thiago. Não sei se deu a volta, o que aconteceu — afirmou a mãe. — Era para ser uma noite feliz, mas terminou com meu filho aos prantos e ferido — emendou, emocionada.

Em lágrimas e assustado, Thiago foi amparado por funcionários e torcedores do Flamengo na saída do estádio. Ele foi examinado por um médico, que constatou sinais de queimadura. Inicialmente, suspeitava-se que ele havia sido atingido por uma pedra.


'Mãe, estou com medo'

— O Thiago ficou com a marca de queimadura em volta do olho. E ele me disse: 'Mãe, eu senti algo quente'. Foi sinalizador. Saía aquela fumaça vermelha, e lançavam. Poderia ter sido pior. O médico disse que foi leve, mas por mais alguns centímetros ele poderia ficar até cego — afirmou Danielle. — Meu fiho está muito afetado, triste. Ele me falou: Mãe, não consigo parar de pensar. Estou com medo, não quero saber de futebol agora'. E eu não quero que ele tenha essa imagem.

Após o episódio, Danielle também registrou ocorrência na delegacia. Imagens compartilhadas nas redes sociais, denunciadas inclusive por torcedores da Católica, mostram um homem arremessando o artefato em direção aos rubro-negros. O clube chileno afirmou em nota que avalia medidas criminais contra o agressor e pediu ajuda para identificá-lo.

O Flamengo também condenou, em nota, os ocorridos durante a partida. Fora os objetos lançados, um torcedor foi flagrado imitando um macaco em direção aos rubro-negros. É o quarto episódio de racismo envolvendo clubes brasileiros apenas nesta semana.

De acordo com a mãe, o clube chileno ainda não entrou em contato com ela nem ofereceu qualquer tipo de assistência. Danielle conta que alertou policiais sobre a conduta dos torcedores rivais e que os rubro-negros viram quem arremessou o sinalizador, mas os agentes e funcionários da segurança nada fizeram.

— Falei que tinha visto quem foi, pedi para me levarem para prendê-lo, mas ninguém me deu confiança. Se tivessem me ouvido, ele estava preso agora — disse Danielle. — Criaram problema para eu entrar com guarda-chuva, e tinha chovido no dia anterior. Mas os torcedores da Católica tinham garrafas, pedra, sinalizador. Como entraram com isso? — indaga.

Danielle, que se mudou de Cabo Frio (RJ) para a capital chilena Santiago há 14 anos, cobra agora uma investigação e punição do responsável. Ao lado do filho, espera ainda poder reviver momentos de alegria nos estádios, com a certeza de que casos como esse não ficarão impunes.

— Não podemos normalizar mais um caso de violência. Esse torcedor tem que ser punido.
Fonte: O Globo


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