Luiza Brunet faz 60 anos e conta sobre cirurgia: 'Um tumor muito agressivo'

Pedro Bucher

Luiza Brunet faz carinho em Angelina Jolie, uma yorkshire de 17 anos, na varanda de sua casa. Ela faz o gesto enquanto relembra passagens importantes de sua vida. Algumas lembranças são agradáveis, outras nem tanto. Mas forjaram a mulher que completa 60 anos nesta terça-feira. Natural do Mato Grosso do Sul, a modelo viaja pelo mundo desde 2016 compartilhando sua história com outras mulheres. Em 2016, Luiza foi brutalmente agredida por seu ex-companheiro, o empresário Lírio Parisotto. Teve o rosto desfigurado e quatro costelas e um dedo quebrados.

Confira trechos da conversa a seguir:

Quando você olha para a pequena Luiza lá no Mato Grosso do Sul, qual é o sentimento?

Tenho muito orgulho dessa Luiza. Sempre fui uma menina batalhadora, com meus preceitos, firme em seu propósito. No meu auge como modelo, você não tem noção da quantidade de assédio. Eu aparecia pelada na Playboy, viajava à beça, era madrinha da Seleção Brasileira, um ambiente só com homens… Dá para imaginar. Recebia investidas de jogador de futebol, empresários, mas eu não me corrompi. Não estava procurando dinheiro.

Como foi essa transição de símbolo sexual para ativista dos direitos das mulheres?

Nem percebi isso, quando vi já tinha acontecido. Desde menina, tenho corpo livre. Nasci no interior do Mato Grosso do Sul, minha avó era indígena e meu DNA feminino tem muito a ver com a questão da natureza, da liberdade. Ficava de calcinha o dia inteiro até os 8 anos. Era uma criança realmente livre, talvez tenha sido essa a deixa para a pessoa que me abusou aos 12 anos, quando trabalhava de empregada doméstica no subúrbio do Rio.

Porém, o ativismo ficou mais forte a partir de 2016, quando você foi brutalmente agredida por seu ex-companheiro, o empresário Lírio Parisotto, certo?

Desde o momento da denúncia, em 2016, não parei de trabalhar com isso, seja no Brasil ou no exterior.

Ano passado, você chegou a dizer que ainda tinha medo de seu agressor, mas em que sentido?

Não falei isso no sentido emocional. Porém, quando estamos num relacionamento com um homem que tem poder e influência política, você fica achando que a qualquer momento pode ser retaliada, e isso é uma realidade na vida de qualquer pessoa.

Tiveram muitos sinais de que a tragédia poderia acontecer?

Vários. A agressão é o ápice. Tiveram violências emocionais, psicológicas e patrimonial. Lírio chegou a falar que se a gente terminasse ninguém ficaria comigo porque ele era fulano de tal e estava me largando. Cheguei a me perguntar se isso era verdade. Fiquei com a autoestima baixa, muito doente. Era uma relação muito desgastante, uma loucura.

Que tipo de doença?

Emocionais e físicas, como um câncer. Fiz histerectomia total em 2014. Apesar de benigno, o tumor era muito agressivo. Isso acontece porque quando guardamos rancor e outros sentimentos ruins. Seu corpo indica de uma certa forma. Hoje, sozinha, estou saudável por dentro e por fora.

Você e Lírio conversaram em algum monumento depois da agressão?

Não é nunca houve um pedido de desculpas! Isso não existe. Atualmente, essa história não me machuca, de verdade. Nosso começo foi maravilhoso. E o final, depois de seis anos, me transformou na mulher que sou hoje. Hoje, completo 60 anos e estou no meu melhor momento. Falo o que eu quero e não tenho medo de ninguém. Estou livre.

E como é chegar aos 60?

Acho maravilhoso em muitos aspectos. Conquistei minha autonomia financeira muito cedo. Comecei a trabalhar aos 12 anos como empregada doméstica e, aos 17, já casada e emancipada, virei modelo. Trabalhava demais e conseguia me manter bem e ajudar minha família. Trabalhava no Brasil inteiro, estrelava campanhas e catálogos de maiô com a Xuxa, fazíamos muita dobradinha. Eu era muito feliz. Essa independência financeira acabou não permitindo que eu passasse por uma série de violências e abusos ao longo da vida.

Fonte: O Globo



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