Ucrânia anuncia retomada de atividades nos portos para exportação de grãos

Órgão em Istambul, formado por membros da Rússia, Ucrânia, ONU e Turquia, fará a inspeção dos navios a fim de garantir que não transportem nada além de grãos.

Produtores de trigo fazem colheita em Melitopol, no sul da Ucrânia — Foto: AP Photo

A Ucrânia anunciou, nesta quarta-feira (27), que as atividades nos portos do país foram retomadas para viabilizar a exportação de grãos, bloqueados desde o início da invasão russa, há seis meses. Um Centro de Coordenação Conjunta, responsável pelo controle dos embarques de cereais ucranianos via Mar Negro, foi inaugurado oficialmente em Istambul. O órgão fará a inspeção dos navios que partem da Turquia e que ali chegam, a fim de garantir que estes não transportam nada além de grãos.

Sediado em uma academia militar, o centro será administrado igualmente por cinco "representantes da Rússia, assim como da Ucrânia, da ONU e da Turquia, incluindo militares e civis", ou 20 no total, informou o ministro da Defesa turco, Hulusi Akar, durante uma breve cerimônia nesta quarta-feira.

"Aqueles que vão trabalhar aqui sabem que os olhos de todo o mundo estão sobre eles", insistiu o ministro turco, esperando que o Centro de Coordenação Conjunta (CCC) “contribua melhor para atender às necessidades humanitárias e a paz coletiva".

O anúncio ocorre poucos dias depois que Ucrânia e Rússia assinaram acordos em Istambul, sob mediação da ONU, para aliviar a crise alimentar global e criar "corredores seguros" no Mar Negro a partir dos portos de Odessa, Chornomorsk e Pivdennyi.

Cerca de 25 milhões de toneladas de grãos, em particular trigo, estão estocadas desde o início do conflito nos portos da região de Odessa devido à presença de navios de guerra russos e de minas colocadas por Kiev para defender sua costa. Ambos os países estão entre os maiores exportadores de grãos do mundo, mas ainda são necessários esforços para garantir a segurança dos cargueiros, enquanto os produtos já estão em falta nos mercados mundiais.

O CCC deve registrar e monitorar os navios mercantes que farão parte dos comboios, garantir seu acompanhamento via internet e por satélite, fazer com que os navios sejam inspecionados "por equipes conjuntas nos locais apropriados" no momento do carregamento nos portos ucranianos e na chegada aos portos turcos. Se necessário, a desminagem será decidida e organizada "pelas partes". "No entanto", acrescentou o ministro, "não precisamos disso nesta fase".

Segurança das rotas marítimas

"A saída e entrada dos navios nos portos marítimos será feita formando um comboio que acompanhará o primeiro navio. Mas isso será precedido pelo árduo trabalho dos hidrógrafos" para determinar rotas seguras, afirmou a Marinha ucraniana. As autoridades de Kiev enfatizaram que não confiam em Moscou para garantir a segurança dos navios.

Essa é a mesma posição da Polônia, para quem a Rússia "não é confiável" para honrar o acordo para a exportação de grãos ucranianos de Odessa, de acordo com as palavras do primeiro-ministro polonês nesta quarta-feira. "No dia seguinte à assinatura [do acordo], as forças armadas russas atacaram Odessa", lembrou Mateusz Morawiecki em uma entrevista coletiva. "Significa que tais acordos não podem ser considerados totalmente críveis, porque infelizmente é assim que a Rússia é," concluiu.

O acordo alcançado em Istambul foi comprometido, no último sábado (23), por um bombardeio russo em Odessa. O ataque gerou uma onda de críticas internacionais, embora Moscou tenha enfatizado que visou apenas a infraestrutura militar, o que, para o Kremlin, não inviabilizaria o embarque de grãos.

Para o ex-almirante americano Fred Kenney, que representará as Nações Unidas na operação, "a primeira função" desse novo sistema é "garantir a navegação segura dos navios cargueiros. Tudo será feito nesse sentido", explicou. "O acordo abrange cereais, produtos alimentícios e fertilizantes", completou, sem especificar se as normas se aplicam, também, a alimentos da Rússia. Moscou exigia poder exportar seus próprios produtos agrícolas sem estar sujeito a sanções ocidentais.

Um porta-voz adjunto do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Ivan Nechayev, garantiu nesta quarta-feira: "Somos fiéis às obrigações e contamos com a implementação efetiva dos acordos de Istambul". Porém, ele lembrou que "a questão das exportações de trigo ucranianas e a da normalização das exportações russas" devem ser resolvidas "em conexão" uma com a outra.

Após o ataque russo a Odessa, um dia após a assinatura do acordo de exportação, a Turquia disse estar "preocupada". "O ataque em Odessa preocupou a todos", reforçou o ministro turco das Relações Exteriores, Mevlut Cavusoglu, na manhã desta quarta-feira. "Este não é o tipo de ataque para impedir o funcionamento do porto. Mas não deve ser repetido. Esperamos que o acordo possa funcionar sem problemas", sublinhou.

Bombeiros combatem chamas após ataque russo ao porto de Odessa, na Ucrânia — Foto: Press service of the Joint Forces of the South Defence/Handout via Reuters

Fonte: G1


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