Praia de naturismo do ES é opção da rota brasileira para quem quer fazer trilha pelado


Especulações, preconceitos e muita, muita curiosidade são as principais discussões quando o assunto é naturismo. No Espírito Santo, a Praia de Barra Seca, em Linhares, é a única oficial do estado e uma das oficiais do Brasil.

Já conhecida por muitos, o local agora está na rota daqueles que querem fazer a chamada naked hiking ou freehiking. Traduzindo literalmente, pode ser resumido como fazer trilha ou caminhar pelado.

O local fica há cerca de 60 quilômetros do centro da cidade e é preciso atravessar um rio para chegar a trilha que dá acesso à área reservada ao naturismo. Veja como chegar partindo de Vitória.

No local, há embarcações que fazem a travessia dos praticantes. Os telefones estão disponíveis em uma placa na beira do rio. A qualquer momento e em qualquer dia, um dos barqueiros podem ser acionados. O valor para ida e volta é de R$ 10 reais e as viagens são realizadas entre 8h e 17 horas.

Início da trilha para a praia de Barra Seca fica do outro lado do rio - Foto: Iures Wagmaker / Folha Vitória

A prática pode até ser confundida apenas com o fato de ficar nu em um determinado local. No entanto, a filosofia vai muito além do que apenas tirar a roupa.

Os praticantes definem o naturismo como a aceitação do próprio corpo sem os padrões de perfeccionismo impostos por parte da sociedade.

"Ao tirar a roupa em público, nos despimos de todos os tipos de preconceitos existentes em relação ao corpo, a posição social e ao cargo ocupado no trabalho do dia a dia. Não nos importamos com nada mais além do respeito pelo próximo e às causas da natureza, a qual preservamos de uma maneira muito consciente".

Foto: Divulgação / NatES

A declaração é de uma praticante do naturismo que, por questões pessoais, pediu para que não tivesse o nome divulgado. Ela afirma haver preconceitos dentro do núcleo familiar. No entanto, diz que todas pessoas do trabalho sabem que ela é simpatizante do naturismo, inclusive o marido, que também adere à prática.

"Como se trata de uma área onde existem vários ninhos de tartarugas, pedimos também que nos ajudem a cuidar desse espaço, tendo toda a atenção necessária até a desova. Também é orientado o cuidado com a natureza. Cuidar do lixo produzido nas dependências, levando para o continente para ser descartado em local próprio", afirma.

Os praticantes do naturismo no estado fazem parte da Congregação Naturista do Estado do Espírito Santo (Nates), ligado à Federação Nacional de Naturismo (FBRN). Por este motivo, há regras claras que devem ser cumpridas por todos que querem se aventurar à prática.

Foto: Reprodução

De acordo com os praticantes, todos são bem vindos, desde que se disponham a cumprir as regras do naturismo. No local, sempre há presença de casais héteros, solteiros ou viúvos e membros da comunidade LGBTQIAP+.

"Não temos nenhum problema com relação a gênero. O que determina a presença do indivíduo no grupo é o seu comportamento. Se chegar e quiser ficar mais isolado, nós respeitamos a privacidade do indivíduo, mas sempre convidamos a participar das conversas e a fazer as refeições conosco"

Filosofia é baseada no respeito mútuo

Para compreender a filosofia que é o naturismo, é preciso entender que há uma grande diferença com o nudismo, que seria apenas ficar nu por ficar.

"O preconceito maior é em relação ao corpo perfeito. A pessoa está fora de forma imposta pela sociedade e já acha que não consegue tirar a roupa em público. Já para quem está de fora, o pensamento é que já que estamos nus em grupo, temos que fazer sexo grupal. Quando alguém me diz isso, já peço logo para ler a filosofia e depois voltamos a conversar".

Foto: Divulgação / NatES

O naturismo é democrático e não distingue ninguém. Mas é preciso destacar que não é um momento para o desrespeito. Além de ser sinônimo de liberdade, a prática deve ser realizada com base na ética e no respeito mútuo.

"A nudez é obrigatória dentro do espaço reservado à nossa prática. Claro que existe a tolerância para adaptação com quem vai pela primeira vez. Mas, assim que a pessoa não decidir tirar a roupa, ela é convidada a se retirar, pois se entende que ela não está ali como adepta ao naturismo, mas sim para observar a nudez das outras pessoas. Isso não é permitido", disse a praticante.

Não confunda naturismo com ato obsceno

É importante ressaltar que o naturismo deve ser praticado em área específica e reservada para a filosofia. Ficar nu em outros locais abertos pode ser considerado como ato obsceno, o que é proibido no Brasil, pelo artigo 233 do Código Penal.
Praticar ato obsceno em lugar público, ou aberto ou exposto ao público: Pena – detenção, de três meses a um ano, ou multa

O advogado criminalista Vinícius Pedroni explica, no entanto, que o tema é de difícil entendimento, pois o Código Penal não especifica o que é, de fato, considerado com o ato obsceno.

"A jurisprudência tem tentado definir o que é ato obsceno, pois em razão do tipo penal está internamente ligado a valores sociais ou culturais de quando é praticado. Por outro lado, a doutrina, também tem feito sua parte, contudo, em razão da amplitude que o tema oferece, se faz necessário atuação mais objetiva por parte do de quem faz as leis em definir o que é ato obsceno e não deixar a cargo de juízes ou estudiosos da ciência", disse.

Pedroni destaca que é necessário destacar que a questão de ser ou não um crime está vinculado aos valores sociais e morais da época em que foi editado.

"A questão sobre ser crime ficar nu em uma praia comum e não ser crime fazer o mesmo em uma praia naturista, consiste no fato de que a praia onde é liberado, geralmente, tem um espaço próprio definido pelo Poder Público, para que pessoas façam essa prática", esclarece.

A NatES ressalta, ainda, que o uso das redes sociais oficiais de forma a mostrar o naturismo fora das áreas específicas para a finalidade não é bem-visto pela comunidade.

Fonte: Folha Vitória


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