O capixaba que perdeu o rim duas vezes, mas nunca a esperança: "Não quis saber de desistir"


Vagno Prates da Silva, 42 anos, brinca que comemora dois aniversários por ano: em janeiro e em outubro. Naquele outubro de 2020, em meio ao pico da pandemia de coronavírus, ele fez o segundo transplante de rim.

"Nasci de novo, ainda mais porque havia perdido o primeiro rim transplantado por causa de um acidente de trânsito. Comemorar o Natal hoje, após dois anos de retransplante, é motivo de muita felicidade e vitória para mim. A gente tem que focar na disciplina e não desistir nunca", reforça.

A trajetória de Silva faz parte de uma série de histórias que o Folha Vitória publica até domingo (25) dentro do clima de Natal, com relatos de quem superou desafios ou se coloca a serviço do bem comum.

No caso de Silva, ele já havia recebido um rim em dezembro de 2012. Já vivia com o novo órgão transplantado quando, em 2017 se envolveu num acidente de carro.

"Fiquei inconsciente, fui socorrido e quando despertei já tive que voltar a encarar as sessões de hemodiálise. O rim não havia suportado o trauma", relembra.

Na sessão de hemodiálise, o paciente necessita ficar conectado a uma máquina que faz o papel do rim, retirando as substâncias tóxicas, água e sais minerais do seu corpo. Naturalmente, os rins é que cumprem eliminando os resíduos do corpo por meio da urina.

A filtragem é feita por meio de agulhas e pode levar em torno de quatro horas ou conforme prescrição médica. Silva tinha a rotina de comparecer a essas sessões três vezes por semana.

"As pessoas acham que depois da sessão, quem faz diálise sai recuperado, andando por aí. Há os efeitos colaterais. Tem gente que se sente mal, com náuseas, precisa descansar. Enfim, é uma rotina difícil e sofrida", relembra.

O morador de Guarapari havia sido diagnosticado com uma nefrite, uma inflamação que prejudica o funcionamento dos rins, ainda na infância. Foi feito um tratamento ao longo dos anos, mas o médico da época, segundo ele, não deu as orientações necessárias. 

Foto: Reproducao/ Arquivo Pessoal

Assim, em 2008, ele só tinha 15% do funcionamento dos rins. Teve que ir, no ano seguinte, para a hemodiálise. Ficou nessa terapia por três anos. Em 2012, foi transplantado no Hospital Meridional após aguardar na fila da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa). A qualidade de vida deu um salto. Aí veio o acidente.

Mas se a vida, na sua concepção, quis dar uma rasteira, ele resolveu dar uma rasteira nela também.

"Não perdi a fé, não quis saber de desistir. Eu sempre encarei a doença de frente. A hemodiálise era um meio de sobrevivência e encarei desse jeito. Foquei no tratamento e na disciplina. Até que veio a segunda chance numa hora em que estava tudo dizendo que não daria certo", desenvolve.

A segunda chance apareceu num momento em que o mundo enfrentava o auge da pandemia de coronavírus. As cirurgias foram canceladas naquele ano pois a prioridade era o tratamento das vítimas da covid-19, que davam cada vez mais entrada nos hospitais.

"E também havia o risco porque eu estava sofrendo infecção por uma bactéria. Mas, tudo foi feito e deu certo. A equipe médica ficou surpresa com o resultado da cirurgia e a minha recuperação", comemora.

Desde 2020, ele não precisa mais recorrer à hemodiálise. Ainda usa medicamentos, ainda tem uma movimentação limitada por causa da perna direita, mas nada comparável ao quadro que enfrentava antes dos dois transplantes.

"O segundo rim veio no aniversário do meu acidente. Essa data ficou significativa para mim e quando chega o Natal eu só tenho sentimento de gratidão e vejo o quanto foi legal e fundamental o apoio da família dando suporte", acrescenta, sem esquecer da importância de incentivo para que a população participe mais de ações de doação de órgãos.

Fonte: Folha Vitória


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