Como Endrick passou a valer R$ 400 milhões aos 16 anos no Palmeiras

Já vendido ao Real Madrid, atacante deu demonstrações ao Verdão e empresários desde o início da carreira que tinha um talento acima do padrão

Em menos de seis meses, Endrick assinou seu primeiro contrato profissional pelo Palmeiras, estreou pelo time principal e bateu recordes, conquistou o Brasileirão e foi vendido ao Real Madrid por um valor que pode chegar a 72 milhões de euros (R$ 400 milhões). Tudo isso aos 16 anos de idade.
Qualquer um que acompanhou um pouco da trajetória do centroavante desde a base do Verdão sabe que seu crescimento é meteórico. Mas como isto aconteceu? O talento do jovem impressionou ao clube e seus empresários quase que imediatamente.

Endrick durante jogo-treino na pré-temporada do Palmeiras — Foto: Cesar Greco

– Seria pretensioso demais dizer que quando fizemos o primeiro contato com o Endrick (em julho), imaginávamos que seis dos dez maiores clubes do mundo manifestariam interesse em avaliar como seria possível ter um jogador que ainda tinha 15 anos – recordou ao ge Thiago Freitas, responsável técnico da TFM Agency, empresa que representa Endrick.

Antes de fechar com o Real Madrid, Endrick também foi procurado por times como Barcelona, Paris Saint-Germain e Chelsea. Isto ainda antes de o jogador completar 16 anos, idade mínima para assinar o primeiro contrato profissional.

Os olhares dos europeus se viraram de vez para o palmeirense a partir da Copinha, quando ele, aos 15 anos de idade, foi um dos principais nomes na campanha do título inédito do Palmeiras, com seis gols em sete jogos, e acabou eleito o craque do torneio.

Dentro do Verdão, João Paulo Sampaio, coordenador das categorias de base, não demorou para decidir captar Endrick.

Ao ser informado que o rival São Paulo não ficaria com o atacante, então com 11 anos, o dirigente assistiu a um vídeo de lances da criança e imediatamente pediu para que avisassem à família que o Palmeiras poderia dar um emprego ao seu pai e uma chance na equipe. Depois disso, foram 188 partidas e 161 gols pela base alviverde, além de títulos do sub-11 ao sub-20.

Com o crescimento do assédio europeu, a família escolheu ter a TFM como representante de Endrick assim que ele fizesse 16 anos. A empresa tem se destacado por trabalhar com jogadores jovens e intermediou algumas das principais vendas do mercado brasileiro, como Vinicius Júnior do Flamengo ao Real Madrid, e Gabriel Martinelli, do Ituano para o Arsenal.

Endrick durante a pré-temporada do Palmeiras — Foto: Cesar Greco

– Nossa agência tem dois profissionais dedicados a avaliação de jovens atletas e, consequentemente, a captação deles como clientes, das suas famílias, dos seus pais. E por padrão, acompanhamos no Brasil todas as competições relevantes do sub-14 em diante – contou Thiago Freitas.

– O Endrick é um atleta que se destacou disputando o Paulista Sub-15, o Efipan, antes de completar 14 anos. Ele ingressou em uma base de dados nossa como um atleta com potencial diferente dos demais. E ficou para nós o registro que no futuro ele poderia ser um cliente nosso.

– Fomos surpreendidos pouco tempo depois, cerca de quatro meses após vermos em uma competição, por captadores, observadores, que regularmente nos fazem indicações de atletas, informando que a família buscava um assessoramento mais qualificado. Quando então recebemos eles e passamos a orientar. Já sabendo que era um atleta que fugia do padrão dos demais – completou.

Mesmo entre os empresários, acostumados a trabalhar com jogadores de muito potencial, a trajetória de Endrick foi vista como um certo ineditismo.

Além da explosão física e velocidade que chamam a atenção desde o início, o atacante encantou o escritório que hoje o representa pela capacidade de improviso.

– Ele não é o que os clubes tanto procuram hoje. Um atleta esguio, alto, magro, que vai se destacar por ter 1,85m... mas não tínhamos dúvida que ele era um atleta diferenciado, independentemente da estatura que tiver no futuro. Ele deixava claro que seria uma exceção, como foi Bernard, como é Messi, como é Soteldo, baixinhos que infernizam adversários – pontuou Freitas.

– O Endrick mostrava ser capaz de perceber quando era melhor finalizar de pé esquerdo ou direito, era uma atleta que não tinha limitação a isso. Mostrava um conjunto de alternativas muito grande. Mas o que mais impressionou foi a capacidade de ele gerar imprevistos.

Endrick durante treino do Palmeiras na Academia de Futebol — Foto: Cesar Greco

A capacidade de misturar a explosão de arrancadas com a frieza na frente do gol fez até com que o palmeirense fosse comparado, em tom de brincadeira, com dois grandes atacantes brasileiros.

– Lembro de ter visto um gol dele, salvo engano com o Corinthians, que ele arranca pelo meio, explode, e quando vai se aproximando o goleiro, toca por cima com uma leveza incompatível com a arrancada que ele iniciou. Eu brinquei, falei: "meu Deus, é uma mistura do que o Ronaldo fazia, com o que o Romário fazia com a bola quando se livrava dela". Essa capacidade de misturar explosão com frieza impressionou – detalhou o responsável técnico da TFM.

O que Palmeiras e empresários viram, o Real Madrid viu também, por isso aceitou fazer uma das maiores transferências da história do futebol brasileiro. Endrick só vai para a Espanha quando fizer 18 anos, em 2024, e até lá terá uma temporada e meia pelo Verdão. Sua estreia em 2023 acontecerá neste sábado, contra o São Bento, pela primeira rodada do Campeonato Paulista.

O crescimento rápido, o assédio, a negociação com um dos maiores clubes do mundo são pontos que poderiam gerar preocupação quanto a um deslumbramento. Mas quem o conhece acredita que nada disso será um problema.

Leila Pereira confirma a venda de Endrick, do Palmeiras, ao Real Madrid — Foto: Reprodução

– Se você olhar para os gols que ele fez na última temporada, vai ver que vários são frutos de trabalho árduo, não um talento especial. É um atleta mais inteligente que os demais, sem dúvida (...) Poucas vezes vimos um atleta absorver tão bem as orientações e instruções, com a clara noção de que um futebolista é um atleta de alto rendimento, cuja formação é pautada no sacrífico – afirmou Thiago Freitas.

– O Endrick tem um diferencial enorme da maioria dos demais. É muito raro encontrar um atleta do potencial dele, assediado como ele é, que segue querendo fazer algo melhor, queimar outras etapas. Já é um atleta que pode usufruir dos diversos prazeres que um bom salário pode dar para qualquer jovem. Você não vê ele envolvido com a rotina de um jovem artista, que está desfrutando de algo muito bom, sinalizando que ele continua focado e concentrado. Pode ter certeza, enquanto ele estiver no clube vai seguir obstinado, chato, buscando fazer algo mais – completou.

– O Endrick é o jogador que o mundo quer saber o que está acontecendo, sempre respeitando as origens dele no Palmeiras, tudo que o clube fez e faz por ele. Temos de achar este equilíbrio. A procura e interesse de jornais do mundo todo aumentou, e a gente tem o desafio de controlar, sabendo que o Endrick é jogador do Palmeiras. Temos de trabalhar o lado primeiro humano e o lado esportivo com a identidade dele. É um atleta de muita personalidade, orientado e preparado, mas que seja sempre ele – encerrou Marcel Moreira, responsável pela comunicação de Endrick.

Fonte: GE

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