Fogão a gás: eletrodoméstico está associado a riscos à saúde, mas é possível minimizá-los; entenda


A queima do gás de cozinha pode aumentar a probabilidade de problemas respiratórios, incluindo asma em crianças

A queima do gás nos fogões ou no forno gera uma fumaça com compostos tóxicos. Foto: Unsplash Unsplash

O crescente aumento no número de evidências científicas sobre os potenciais riscos à saúde dos fogões a gás levou a Comissão de Segurança de Produtos para Consumo dos EUA a analisar a possibilidade de regulamentar esses eletrodomésticos. O alerta americano gerou preocupação entre os brasileiros sobre a segurança dessa fonte de energia para cozinhar, amplamente utilizada no país. Mas afinal, usar gás – em botijão ou encanado – para cozinhar realmente representa um risco a saúde?

Especialistas ouvidos pelo GLOBO e pelo The New York Times afirmam que o risco existe, mas ele pode ser substancialmente minimizado com medidas simples como o uso de coifa, uma boa ventilação no local e ter o eletrodoméstico em boas condições de uso.

— Não dá para dizer que o risco é zero, mas ele certamente não é grande se todas as operações que envolvem gás forem feitas em ambientes bom ventilados e com boa exaustão — avalia o pneumologista Eduardo Algranti, coordenador da Comissão Científica de Doenças Respiratórias Ambientais e Ocupacionais da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT).

Muito se fala sobre a poluição atmosférica do ar, gerada por automóveis, indústrias, queimadas, etc. Mas não é de hoje que a poluição interna - ou indoor - do ar, gerada pela queima de compostos dentro de casa para cozinhar ou como fonte de aquecimento preocupa as autoridades de saúde. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a poluição do ar doméstico foi responsável por cerca de 3,2 milhões de mortes em 2020, incluindo mais de 237 mil mortes de crianças menores de 5 anos. No entanto, a organização afirma que a maior parte da poluição danosa é originada pelo uso de querosene, biomassa (madeira, esterco animal e resíduos de colheitas) e carvão.

O GLP e o gás natural – ambos disponíveis no Brasil para uso em cozinha - são considerados fontes limpas de energia para a saúde pela OMS, desde que seu uso seja feito em fogões bem regulados, com emissões que atendam as metas definidas pela organização.

O patologista Paulo Saldiva, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) e um dos maiores especialistas sobre poluição do ar no país, explica que o maior risco ocorre quando o fogão não está bem regulado.

— Se o fogão não estiver bem regulado, o gás não é queimado com eficiência e isso leva à formação de mais partículas danosas, que penetram nos pulmões e na circulação, como o monóxido de carbono — explica Saldiva.

De acordo o patologista, indicadores de que o fogão está desregulado são o escurecimento do fundo da panela ou da parede da cozinha.

Perigos potenciais de fogões a gás para a saúde

A queima do gás nos fogões ou no forno gera uma fumaça com compostos tóxicos, mesmo que você não consiga vê-la. Os mais prejudiciais são o dióxido de nitrogênio e o monóxido de carbono. Há também liberação de partículas minúsculas conhecidas como PM2,5. Todos esses compostos causam irritação no pulmão.

— Com relação aos produtos da queima de gás, a exposição principalmente a óxidos de nitrogênio é irritante das vias aéreas. Em crianças e adultos com propensão a doenças respiratórias, isso pode ser mais um fator complicador da doença. Mas, do ponto de vista de saúde pública, essa é uma discussão que precisa ser levada com muito bom senso — diz o pneumologista Eduardo Algranti, coordenador da Comissão Científica de Doenças Respiratórias Ambientais e Ocupacionais da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT).

Um estudo publicado no ano passado descobriu que as famílias que usam fogões a gás em casas com pouca ventilação, ou sem exaustores, podem ultrapassar o padrão de exposição segura a óxidos de nitrogênio em apenas alguns minutos.

Outro estudo, publicado em dezembro, concluiu que fogões a gás podem estar ligados a quase 13% dos casos de asma em crianças e adolescentes nos Estados Unidos. Acredita-se que os sintomas de asma também podem ser agravados pela queima do gás nas residências. Crianças e adultos com problemas respiratórios crônicos correm maior risco desses efeitos prejudiciais dos fogões a gás.

Evidências adicionais também associaram esse tipo de eletrodoméstico com o aumento de poluentes capazes de gerar problemas de saúde que, além da asma, vão desde sangramento nasal, dores de cabeça e irritação de garganta a fadiga e náusea.

Além da queima, o vazamento de gás por si só gera riscos à saúde. Pesquisadores americanos coletaram 234 amostras de gás natural não queimado em 69 casas ao redor de Boston e encontraram 21 poluentes tóxicos, incluindo benzeno, um composto cancerígeno. Por isso, a recomendação é manter sempre a manutenção em dia.

Vale ressaltar que a maioria dos estudos foi feito nos Estados Unidos ou na Europa, onde as casas são mais fechadas e têm menos ventilação. No caso do Brasil, especificamente, os especialistas alertam para outro problema: uma parte da população ainda utiliza a queima de biomassa, em especial madeira, para cozinhar ou aquecer as residências durante o inverno.

— Isso é um problema muito maior de risco à saúde — alerta Algranti.

Mas e quanto ao aquecedor a gás, utilizado em muitas residências para esquentar a água do chuveiro? Antigamente, quando esses equipamentos eram instalados dentro do próprio banheiro, havia risco. Hoje em dia, como em geral eles ficam fora de casa ou na lavanderia e têm uma coifa que joga a fumaça para fora, o risco é bastante reduzido. De qualquer forma, é preciso estar atento a possíveis vazamentos de gás e o ideal é o ambiente seja bem ventilado.

Apesar das evidências, especialistas afirmam que essas descobertas não significam que pessoas que usam fogão a gás para cozinhar irão adoecer.

— Só porque você tem um fogão a gás não significa que você certamente desenvolverá asma ou câncer — disse Eric Lebel, pesquisador sênior do P.S.E. Healthy Energy, um instituto de pesquisa científica e política sem fins lucrativos com foco em energia e meio ambiente.

Para quem quer realmente eliminar esse risco e tem condições, o ideal é optar por fogão de indução e forno elétrico. Mas a boa notícia é que existem formas simples de mitigar possíveis riscos à saúde de cozinhar com gás.
  • Ventilação: Um ambiente bem ventilado é a principal forma de utilizar um fogão a gás de forma segura, pois o ar fresco diminui a concentração de poluentes atmosféricos. Abra as janelas, a porta ou até mesmo, coloque um ventilador, para tentar ventilar a cozinha o máximo possível quando estiver usando seu fogão.
  • Exaustor/Coifa: Especialistas recomendam sempre ter uma coifa ou ao mesmo um exaustor na cozinha e utilizá-lo sempre que ligar o fogão, mesmo que seja apenas para ferver água, por exemplo. Para quem tem apenas um exaustor, que tem filtro, mas não elimina a fumaça para o ambiente externo, também pe recomendado abrir uma janela ou usar um ventilador.
  • Tente usar o fogão com menos frequência: As pesquisas mostram que quanto maior a exposição, maior o impacto. Eletrodomésticos e utensílios como micro-ondas, torradeira, sanduicheira e chaleira elétrica podem ser bons aliados nessa missão.
  • Purificador de ar: Um purificador de ar com um filtro HEPA pode ajudar a reduzir o nível de concentração de óxidos de nitrogênio em casa. Para quem pode comprá-los, a orientação é colocá-lo na cozinha ou próximo a ela.
Fonte: O Globo


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