Pelados na praia: como é viver no único condomínio naturista do ES


A única praia naturista do Espírito Santo, onde é permitido tomar banho de sol e de mar totalmente pelado, inspirou de tal forma seus frequentadores que eles decidiram que não ficariam sem roupa apenas naquela faixa do litoral.

Essa turma abraçou a filosofia do chamado naturismo de tal forma que construíram um condomínio residencial, onde roupa também é a última preocupação.

A proeza começou lá em 1999, quando um grupo de 10 adeptos resolveu fundar o Condomínio Barra Seca. O nome é o mesmo da praia, localizada no distrito de Barra Seca, em São Mateus, cidade da Região Norte.

O refúgio fica bem pertinho da praia, que é localizada numa península. Para chegar à areia, é necessário pegar carona de barco, que é fornecido pela parceria dos condôminos com uma pousada local.

Atualmente, o condomínio conta com dez unidades, sendo oito proprietários e três moradores fixos. Por lá, o que impera é a liberdade mas de acordo com a vontade de cada um.

Quem quiser permanecer vestido, pode. Quem quiser ficar como veio ao mundo, é bem-vindo também, que é o caso da maioria dos que ali frequentam.

"Surgiu em 1999 com 10 pessoas que frequentavam a praia. Veio mais da necessidade de ter um apoio, um lugar para ficar quando vínhamos a Barra Seca. Na época havia poucas pousadas, poucos lugares para ficarmos hospedados, então decidimos fundar o condomínio", conta o professor Mauro Salvador Toscano, 62 anos, síndico e presidente da Associação de Naturistas do Espírito Santo (Nates).

Mantendo a casa em ordem

Toscano, que mora na Serra, administra o Barra Seca de longe. Ele conta que ,por lá, tudo funciona como em qualquer outro condomínio. Trabalhar sem roupa não espanta ninguém de lá.

"Temos um jardineiro que mora lá mesmo, o que ajuda bastante. Quando algum morador ou proprietário está passando tempo por lá e precisa de algo, me telefona e diz exatamente qual manutenção precisa ser feita", explica.

Divulgação Arquivo Pessoal

O síndico conta ainda que não consegue passar mais do que um mês sem ir até o local. "Quando vou, passo direto um mês, um mês e meio. Compro tudo que é necessário, faço todas as compras".

E engana-se quem pensa que só capixabas frequentam o condomínio. Neste mês, Guarapari foi sede do Congresso da Federação Nacional de Naturismo, e recebeu adeptos do país inteiro. Eles aproveitaram para conhecer Barra Seca e, claro, o cantinho do professor e companhia.

"Recebemos pessoas o tempo todo. No dia do congresso, foram umas 12 para a praia e uns seis ou sete foram conhecer o condomínio. Também recebemos amigos, parentes, família", disse.

Uma história de amor

O síndico conta que a paixão pelo naturismo é antiga, ainda dos seus tempos de solteiro. E que o movimento preconiza a comunhão com a natureza e, também, o bem-estar com o próprio corpo. 

Foto: Divulgação Arquivo Pessoal

Além dele, a esposa e os dois filhos também são adeptos do estilo de vida e partilham com ele todas as sensações e experiências que a prática proporciona.

"É algo meio difícil de ser claro, porque a pessoa só vai entender quando chega lá, tira a roupa e se sente à vontade para curtir. Estar em contato com a natureza, como veio ao mundo, sem roupas, sem preconceito", destaca.

"Não importa se a pessoa é alta, baixa, gorda, magra, a profissão dela, nada disso importa. Depois é que vamos nos conhecendo melhor, sabendo da vida e caminhada uns dos outros, criando ainda mais união", finalizou.

Lar, doce, lar

Além do síndico, quem também se entregou totalmente à vida natural foi o aposentado Geraldo Magela Bichara, 73 anos. Ele é um dos moradores fixos do Barra Seca e largou toda a agitação das grandes metrópoles como São Paulo e Nova Iorque, para morar no condomínio.

"Aqui é meu porto seguro. Sempre procurei um refúgio, escapar das grandes cidades e encontrei isso aqui. Vou a Linhares duas vezes por mês, faço compras, pago contas, corto o cabelo e volto rapidinho", relatou.

Bichara é frequentador do condomínio e da praia há 20 anos e adquiriu uma casa no local para se estabelecer em definitivo há sete anos.

Ele conta que sempre teve vontade de viver desta forma, mas que seu primeiro contato com o naturismo real aconteceu em 1969, quando se mudou para os Estados Unidos.

Foto: Divulgação Arquivo Pessoal
Foto: Divulgação Arquivo Pessoal

"Eu sempre fui um naturista mesmo sem saber. Sempre gostei de ficar nu, tomar banho nu em rio. Realmente cheguei a conhecer o verdadeiro naturismo quando me mudei para os Estados Unidos em 1969", recorda.

O aposentado ainda celebra os dias tranquilos no Barra Seca e se mostra, mais do que tudo, grato pela existência do condomínio.

"Se não fosse o condomínio, eu teria que inibir a minha vontade de ficar nu. Aqui não existe nenhum preconceito, cada um vive como bem-quiser, com ou sem roupa", opina.

Praia de Barra Seca só é liberada para quem vai sem roupa

A praia de Barra Seca foi inaugurada em 1994 e, até 2018, pertencia ao município de Linhares. Naquele ano, por meio de uma lei estadual, o território passou a fazer parte da cidade de São Mateus.

Para chegar até lá, é necessário realizar a travessia de barco, por um valor de R$ 10 (ida e volta). As viagens respeitam as regras da Marinha do Brasil e só podem acontecer durante o dia. Assim que o sol se põe, são encerradas.

A praia conta com o reconhecimento do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (Ibama) como área de preservação ambiental, por conta da desova de tartarugas marinhas e cuidados com a vegetação nativa.

Por conta destas restrições, o local deve permanecer intocado por construções de alvenaria e todas as estruturas são feitas de madeira ou palha.

Os cuidados com a região ficam por conta dos próprios frequentadores. A entrada é liberada a qualquer um que queira conhecer a praia, desde que tire a roupa.

Fonte: Folha Vitória - Repórter Guilherme Lage


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