Homem é preso após invadir terreiro de umbanda armado e ameaçar filhas, mãe de santo e outras pessoas

Adolescente de 14 anos contou que foi ameaçada pelo pai juntamente com a irmã, mãe de santo e outros presentes em terreiro — Foto: Reprodução/TV Gazeta


Homem invadiu local porque não aceita que filhas de 14 e 16 anos sejam umbandistas. Caso foi registrado na noite desta quarta-feira (3), em Vila Velha, na Grande Vitória.

Um homem de 34 anos foi preso depois de invadir um terreiro de umbanda armado durante uma cerimônia religiosa e ameaçar as duas filhas adolescentes, de 14 e 16 anos, a mãe de santo responsável pelo centro e demais pessoas que estavam no local na noite desta quarta-feira (3), em Vila Velha, na Grande Vitória.

De acordo com o boletim da Polícia Militar, policiais foram acionados e, quando chegaram ao local, uma adolescente de 16 anos e outra de 14 contaram que o pai delas chegou ao local dizendo que "iria matar todos que estivessem ali adorando o capeta" e só não atiraria porque haviam crianças presentes.

O homem então tentou agredir as filhas com um pedaço de madeira, mas foi impedido por outros familiares que estavam no local.

Em entrevista à TV Gazeta, a adolescente de 14 anos contou que há quase um ano decidiu ser umbandista, mas o pai não aceita. Ela lembrou o momento em que o terreiro foi invadido pelo pai, na noite desta quarta-feira.

"Ele falou que preferia estar preso e também morto do que ver a gente naquele estado, no caso, no centro. Ficava muito alterado gritando, falando que ia fechar, que ia quebrar tudo", contou a adolescente de 14 anos.

Dayane Santana, recepcionista do terreiro, disse que o homem esteve antes no local buscando pelas filhas.

"Ele gritava querendo as filhas dele: 'eu quero as minhas filhas'. Eu falei: 'calma moço, quem são suas filhas? Você quer entrar? Quer uma água?'. Ele disse: 'não quero nada, eu quero as minhas filhas, eu vou fechar tudo', disse a recepcionista.

A mãe de santo Amanda Nóbrega, de 47 anos, responsável pelo terreiro, disse quando voltou ao local pela segunda vez o homem falou que ia matar todos os presentes, mas ao ver algumas crianças desistiu e disse que voltaria em outra data.

Ameaças continuaram na casa da avó

As adolescentes, então, decidiram ir para a casa da avó localizada próxima ao centro, mas o pai foi atrás e continuou fazendo ameaças e xingamentos contra a religião umbandista.

"Ele subiu as escadas gritando e foi no momento que ele pegou uma pochete, enfiou a mão dentro e tirou uma arma e falou: 'agora vocês vão conhecer quem é realmente o pai de vocês'. Ele viu que tinha umas viaturas passando e guardou a arma", contou a adolescente.

"Começou a gritar com a gente, a xingar a gente, falar que a gente era um desgosto, que preferia morrer a ver a gente daquele jeito, e que ia meter bala em tudo", disse a adolescente.

A adolescente contou ainda que essa não foi a primeira vez que o pai exigiu que ela e a irmã parassem de frequentar o centro. Três meses atrás ele levou as duas para uma praia e fez ameaças com uma faca.

"Levou a gente pra uma praia deserta com um facão na mão. Falou que era pra gente mudar, que era pra gente ir para a igreja, que ele ia levar a gente pra igreja. Eu penso que as pessoas, às vezes, não conseguem se dar bem na vida e colocam tudo em cima de macumba. Essa intolerância religiosa me deixa muito triste porque vindo do meu próprio pai, eu não esperava, realmente".

O homem foi encaminhado à delegacia do Plantão Especializado da Mulher (Pem), em Vitória.

De acordo com a Polícia Civil, David Morais dos Santos foi autuado por posse de drogas para consumo próprio e por praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional, crime previsto no artigo 20 da Lei do Crime Racial (7.716/89).

O homem foi encaminhado ao Centro de Triagem de Viana, onde passará por audiência de custódia.

Canais e locais de denúncia

No Espírito Santo, vítimas de discriminação racial, religiosa, orientação sexual ou deficiência física podem buscar atendimento na Seção de Investigações Especiais, criada em 2019 e subordinada à Divisão Especializada da Região Metropolitana (DRM).

A unidade funciona na Chefatura de Polícia Civil, em Vitória, ou por meio da Delegacia On-line, 190 (Ciodes), em caso de crime em andamento e Disque Direitos Humanos (Disque 100).

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