'Perdi 24 kg em nove meses com Ozempic, mas os efeitos colaterais me fizeram pensar em desistir muitas vezes', diz empresária

Juliana Miola, de 37, usou Ozempic por nove meses, após engordar 20 kg. — Foto: Edilson Dantas / O Globo

"Comecei a tomar Ozempic em março de 2023 depois de engordar 20 kg. Nove meses depois, com 24 quilos a menos, atingi meu peso desejado e parei. Foi uma experiência bem-sucedida, com acompanhamento médico. Mas essa não foi a minha primeira vez com o remédio. Em 2022, já tinha tomado o Ozempic por alguns meses, por conta própria.

Essa medicação foi uma febre né? Todo mundo toma. Então, conversando com amigos que tinham emagrecido, eles contaram que o médico tinha receitado Ozempic e passaram pra mim a prescrição deles. 'Toma 40 cliques, uma vez por semana'. Clique é a picada. Fiz isso e o efeito não foi o mesmo. É como se o remédio não tivesse efeito bom nem ruim.

Falei com outra pessoa, que também tinha usado e ela disse que eu tinha que fazer uma dose pequena, todo dia. Tentei, mas também não fez efeito. Desisti. Eu estava passando por um problema pessoal bastante delicado. Meu marido tinha sofrido um AVC e eu precisava me dedicar a ele. Quando tentei o Ozempic pela primeira vez, eu já tinha engordado 5 kg. Mas depois de apenas quatro meses, engordei mais 15 kg. Foi quando decidi procurar ajuda.

Meu marido foi o meu maior incentivador porque ele é uma pessoa que se cuida muito. Ele sempre falou que eu deveria procurar ajuda, que eu não podia ficar daquele jeito porque, no fim, também é uma questão de saúde.

Tenho 1,60 de altura e estava pesando 78 kg. Meu peso sempre foi entre 58 kg e 60 kg. Mas disso para quase 80 kg, é muita diferença. Nada serve. Perdi a agilidade para tudo, tinha dificuldade até para colocar um calçado. Eu já sentia muitas dores nas pernas, nas articulações, principalmente nos joelhos, e tudo isso se tornou, de fato, um grande problema.

Em março do ano passado, procurei a Dra. Claudia (endocrinologista Claudia Cozer, do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo), que me receitou o Ozempic. Na hora, eu falei: 'Doutora, desculpa, mas eu já usei e não adianta. Não vai resolver'. Ela insistiu que eu tentasse por pelo menos um mês e, caso não desse certo, seguiríamos para outras linhas de tratamento. Ela também pediu para que eu tomasse outra medicação, manipulada, que ajudaria na questão da ansiedade e do transtorno alimentar, que eu tenho.

Mesmo sem acreditar muito, comecei o tratamento. Para minha surpresa, a associação do Ozempic com essa outra medicação para ansiedade funcionou. Logo nos primeiros dias, já senti diferença. Meu apetite por doces, que era o que eu mais consumia, caiu drasticamente.

Mas também passei muito mal. Tive náusea, empachamento e mal-estar constantes. Se eu comia, passava mal. Se não comia, também, porque eu tinha fraqueza. Se comia algo muito gorduroso, tinha diarreia.

Passava mal com qualquer comida, mas principalmente com doces e alimentos gordurosos, como fast-food e salgadinhos, que eram praticamente a base da minha alimentação antes de começar o tratamento. Tanto que, no começo do tratamento, eu insistia nesses alimentos. Parecia que eu tinha que ter um chocolate em casa. Toda vez que eu ia ao mercado, comprava doce. Nas primeiras três semanas, cheguei a ter crises de vômito porque eu comia doce ou salgadinho. Mas segurei firme.

Passei a me acostumar a ficar sem esses doces e a entender essa nova rotina. O meu paladar mudou. Comecei a comer muitas frutas e legumes porque era o que caia melhor. Eu só conseguia comer uma quantidade pequena dessas coisas também, mas era algo que me fazia bem e não me enjoava. Se eu estava fraca ao longo do dia, comia meia banana, por exemplo. Isso já me deixava satisfeita. Depois de umas 2 horas, comia a outra metade. Nem chimarrão, que tenho o hábito, conseguia tomar. Enchia uma cuia e tomava só dois goles porque ficava enjoada.

Comia meio por obrigação. É bem difícil. Mas entendi que a dinâmica do tratamento era essa. A combinação certa com os alimentos. Minha mãe fez bariátrica há 15 anos e comparo muito o meu tratamento com a cirurgia dela. Tudo o que ela comia, tinha que ser em pequena quantidade e pouco gorduroso, senão ela passava mal. Quando eu estava tomando Ozempic, parecia que eu fiz uma bariátrica, porque eu não tinha vontade de comer e comia porções muito pequenas.

Se passava pela minha cabeça desistir? Claro. Frequentemente. Muitas vezes pensava 'não quero mais'. Mas ao mesmo tempo, preferia sentir esse mal-estar a sentir fome e vontade de comer doce.

Meu marido, como falei, foi a minha maior motivação porque ele é uma pessoa que nunca desanimou ou desistiu. Ele ficou tetraplégico e está há 10 anos em uma cadeira de rodas, sofreu dois AVCs, mas se cuida e está sempre em busca de novos tratamentos.

O apoio da família e de quem está com você é muito importante e ajuda muito porque senão, chega em um ponto que você acha que simplesmente tem que aceitar o corpo que tem. Mas também tem uma questão de saúde, então eu precisava ter persistência e não desistir.

Durante todo o tratamento, não precisei aumentar a dose do remédio. Em três meses, eu perdi cerca de 15 kg. Foram mais seis meses para chegar nos 54kg, que é o que estou hoje. Quanto eu atingi 58kg, que era o peso que eu tinha antes e que tínhamos definido na primeira consulta que seria o meu peso ideal, reduzimos a dose para uma de manutenção.

Lembro que na minha primeira consulta, a Dra. Claudia disse que eu tinha compulsão alimentar, principalmente por doce, e que eu precisaria de auxílio médico e medicamentoso. Isso foi bom porque vi que não era coisa só da minha cabeça. Agora sei que meu emocional tem muito a ver com a forma como ganho de peso. Os períodos que eu engordei muito foram os que passei por momentos difíceis na minha vida.

Ainda tem muito preconceito com o ganho de peso. As pessoas acham que quem tem problema com álcool ou comida, é por falta de força de vontade. Eu já tinha tentado dieta. A primeira coisa que eu fazia era tentar me controlar e não comer doce. Mas é algo mais forte. Quando você vê, já foi. Para mim, o medicamento foi um alívio. Pensei "tem ajuda". Acho que a medicina e os remédios então aí para isso, ajudar quando precisamos.

Fiquei com medo de parar o Ozempic e voltar a engordar. Mas mesmo sem o medicamento, é diferente de antes. A minha alimentação mudou bastante atualmente. Tinha o hábito de me servir duas vezes nas refeições. Hoje, não consigo mais. É uma porção e pronto. As vezes que exagerei, passei mal. Hoje, já não consigo mais comer a quantidade que eu comia antes.

Nunca estive tão magra como agora e isso acabou me motivando e me cuidar mais. Não vou dizer que eu não gosto de fast-food, mas não tenho mais aquela vontade diária que tinha antes. O mesmo vale para o doce. Como, mas em pequenas quantidades e esporadicamente. A dor no joelho passou. Não sinto mais dores nas pernas, consigo colocar um calçado sem dificuldade, me sinto mais leve e melhor. Não me arrependo, de jeito nenhum.

Hoje, procuro nem comprar mais doces. Primeiro, porque não tenho vontade, mas também porque tenho medo de ter em casa e cair nessa armadilha do açúcar de novo. Agora vem a fase manutenção. Vou fazer plástica, quero começar a fazer academia e também acompanhamento nutricional porque acho que preciso de ajuda especializada para manter a alimentação correta".
*Em depoimento à Giulia Vidale

Fonte: O Globo



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