![](https://conteudo.imguol.com.br/18/2023/10/10/pecuaria-boi-gado-1696937394550_v2_900x506.jpg)
Existem várias armadilhas no mercado financeiro e uma delas é a garantia de alto retorno em pouco tempo. Foi com essa promessa que um dos mais famosos esquemas de pirâmide financeira abalou o Brasil no final da década de 1990. O golpe enganou mais de 30 mil investidores, deixou um prejuízo de bilhões e ficou conhecido como "Boi Gordo".
Início do esquema no país
A empresa Fazendas Reunidas Boi Gordo vendia cotas de investimento em fazendas de gado. O nome da empresa ganhou notoriedade no mercado por oferecer um investimento visto como lucrativo e seguro por meio de um processo de engordar os bois.
Investidores aplicavam o dinheiro para a compra de arrobas de boi magro, que é a unidade de peso utilizada para medir a massa dos bovinos. O segundo passo era engordar o animal nos meses seguintes com a garantia de retorno sobre o peso inicial.
Grupo existia desde 1988 e, em 1996, começou a oferecer ao público os investimentos em animais. Na prática, as pessoas adquiriam títulos e o valor só poderia ser resgatado após 18 meses com lucros superiores a 40%. Criação de gado nelore era nas regiões Sudeste e Centro-Oeste.
Slogan principal era "quem tem cabeça investe com gado". Com um marketing agressivo, alcançaram investidores de todos os estados e também de outros países. Famosos como Marisa Orth, Benedito Ruy Barbosa e até Antonio Fagundes, o garoto propaganda, caíram no golpe. Celebridades do mundo do futebol, como o ex-jogador Vampeta, também acreditaram que o investimento era uma boa ideia. Todos seguem na fila para ter seu dinheiro de volta.
![](https://img.youtube.com/vi/dnV-Gu3oalw/sddefault.jpg)
Propaganda era feita nos intervalos da novela "Rei do Gado", que foi uma verdadeira febre entre os brasileiros. Comercial protagonizado por Antonio Fagundes vendia rentabilidade média de 3,23% ao mês. A Taxa Selic fechou em 23,94% ao ano em 1996.
Colapso do esquema de pirâmide financeira
A realidade nos bastidores era bem diferente: ao invés do pagamento vir do lucro da engorda dos bois vinha da entrada de novos investidores. É assim que o esquema de pirâmide funciona: quem entra paga o suposto retorno de quem já é investidor. A base mantém o retorno do topo, de onde vem o termo "pirâmide".
Quem recebia os rendimentos iniciais acreditava que o investimento valia a pena. Isso fortaleceu a sensação de que era algo sólido e seguro. Porém, só os primeiros investidores tiveram essa sorte.
Em 2001, o esquema do "Boi Gordo" desmoronou e tentaram acordo na justiça. Os pagamentos aos investidores pararam de acontecer e as queixas começaram. O dinheiro dos recém-chegados não era mais o suficiente para retornar aos mais antigos.
A Fazendas Reunidas Boi Gordo fez uma concordata (acordo entre empresas e devedores) em 2003. Mais de 30 mil pessoas perderam dinheiro e a empresa faliu, passando para frente a situação catastrófica.
Prejuízo estimado passou de R$ 2,5 bilhões e hoje a dívida atualizada equivale a R$ 6 bilhões. A empresa tinha dezessete fazendas em seu nome, que foram leiloadas entre 2017 e 2018, rendendo R$ 540 milhões.
Milhares de investidores sem dinheiro
Vítimas do golpe puderam se cadastrar no site da Massa Falida de Fazendas Reunidas Boi Gordo S.A. e Coligadas. O objetivo foi organizar as pessoas que esperam receber ao menos uma parte do montante investido. Também existe a Associação dos Lesados pela Fazenda Reunidas Boi Gordo S/A (ALBG) e Empresas Coligadas e Associadas.
Aos poucos, através dos leilões das propriedades do grupo, o valor foi devolvido. Mas o caso segue sem ter uma solução definitiva e as pessoas tiveram que arcar com o prejuízo.
A maioria ficou sem receber nada. Os credores se cadastram em um dos sites das organizações e entram na fila para receber parte do que vem do leilão. Quem recebeu algum também não recebeu o valor inteiro do que investiu.
A Fazendas Reunidas Boi Gordo faliu de fato em 2004. Nesse meio tempo, se desfizeram de tudo, fazendas, maquinário, gado e até sêmen para reprodução.
Dono do esquema não foi preso
Paulo Roberto de Andrade foi a mente por trás do "Boi Gordo". O empresário não foi punido criminalmente. O Superior Tribunal de Justiça (STJ) anulou a ação penal contra ele, reconhecendo a prescrição do processo.
Em 2003, já em concordata, Andrade vendeu o controle acionário a dois grupos, Golin e Sperafico. Ambos eram conglomerados do ramo do agronegócio. Assim, nomearam José Roberto da Rosa como gerente da fazenda.
Há a alegação de que Rosa seria um funcionário fantasma. Durante a investigação do Ministério Público, descobriram que o gerente só existia em procurações, que seu RG e seu CPF foram feitos a partir de uma certidão de nascimento falsa e que suas assinaturas seriam de um contador dos novos donos. Outra suspeita é que o dinheiro foi enviado para o exterior e voltou ao Brasil em esquema de lavagem de dinheiro, com a compra de terras. Nos últimos anos, parte foi recuperada e são as propriedades em leilão.
Fonte: Uol