VÍDEO | Um mês após enchente, empresários recuperam peças e lavam roupas de jeito inusitado em Mimoso do Sul


A cidade de Mimoso do Sul foi a mais atingida do estado. 18 das 20 mortes aconteceram no local e uma pessoa segue desaparecida. Moradores e comerciantes tentam retomar as atividades e aguardam a liberação de auxílios.

Após chuva, Dinomar dos Anjos, comerciante de Mimoso do Sul, tenta recuperar roupas lavando estoque em córrego.

Um mês após as chuvas que atingiram treze cidades do Sul do Espírito Santo, o g1 foi à Mimoso do Sul, município mais atingido pela tragédia. No local, a limpeza das ruas ainda está acontecendo e comerciantes se esforçam para reabrir os estabelecimentos. Alguns tentam recuperar parte da mercadoria que foi tomada pela lama para tentar reabrir e minimizar os prejuízos.

Um mapeamento das áreas afetadas pela inundação no município, realizado pelo Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN) junto a outros órgãos do governo do estado, traduziu em números a extensão da tragédia.

De acordo com o levantamento, na sede do município, 3.989 imóveis foram atingidos. Um total de 2.996 casas, 12 escolas, 29 estabelecimentos de saúde, 806 comércios e 29 igrejas.

Dez mil pessoas tiveram que deixar as suas casas em algum momento. 18 das 20 mortes provocadas pela enchente aconteceram na cidade, uma pessoa segue desaparecida.

Vale lembrar que a cidade do sul capixaba possui pouco mais de 26 mil habitantes, segundo levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2020.

Outros distritos atingidos foram Ponte de Itabapoana, Santo Antônio do Muqui e Conceição do Muqui, que seguem até hoje com problemas e acessos e estradas bloqueadas inteira ou parcialmente.


Roupas lavadas no córrego

Um exemplo entre os mais de 800 comerciantes afetados pela chuva é o proprietário de uma loja de roupas no centro de Mimoso do Sul, Dinomar dos Anjos.

Dinomar surpreendeu ao dar uma entrevista dois dias após a chuva mantendo o sorriso no rosto. Na ocasião, ele disse que mesmo diante da tragédia mantinha a esperança de conseguir reverter a situação.

Nesta semana, novas placas de gesso aguardavam instalação na loja e o material também para refazer a rede elétrica também está comprado. A estimativa do comerciante é de um prejuízo de R$ 40 mil só com a questão estrutural e mais de 11 mil peças de roupas perdidas.

Um mês depois da chuva, ele conta que tirou mais de três caminhões de mercadoria da loja, que está vazia. Não deu para aproveitar nada, o teto caiu, prateleira e móveis foram perdidos, paredes estão estufadas.

“Depois de uns dias, levei tudo para uma fazenda de uma amiga e comecei a lavar o que podia com mangueira e no córrego. Foram 12 dias de limpeza, com a ajuda de cerca de 10 pessoas”.

Segundo Dinomar, algumas peças como as de linho não puderam ser aproveitadas e foram jogadas fora. Já as que foram lavadas no córrego ainda vão passar por uma lavagem específica em lavanderia.

“A ideia é doar uma parte e vender a preço a um terço do preço a outra parte. É uma luta muito grande, mas a vitória vai vir, porque Deus é conosco!”, desejou Dinomar.


23 mil peças lavadas para reabrir loja

Em Mimoso do Sul, Flávio Alves de Souza lavou o estoque e gastou mais de R$ 50 mil na limpeza de 23 mil peças, entre sapatos, cintos e roupas. Espírito Santo — Foto: Bernardo Bracony

Flávio Alves de Souza é vizinho de loja do Dinomar. Tem o seu comércio há 25 anos. Também lavou o estoque e gastou mais de R$ 50 mil na limpeza de 23 mil peças, entre sapatos, cintos e roupas.

“Recuperei 90% do que tinha na loja. Foi um desafio feito em três frentes, 5 mil peças lavadas em um sítio, manualmente, e o restante em lavanderias nas cidades de Cachoeiro de Itapemirim e Colatina”.

Flávio pretende reabrir a loja nesta terça-feira (23). O que foi instalado no local não é mais de madeira como antes, agora é de aço.

“Mandei fazer as prateleiras, expositores e também as prateleiras do estoque em aço, nada mais de madeira ou MDF. Eu tenho medo de acontecer de novo. [...] É recomeçar e ponto, não tem que questionar, olhar pra trás. É olhar para cima e para frente. E assim vamos vivendo, um dia depois do outro, sem programar muito”, disse.


Compra no comércio local

Prefeitura de Mimoso do Sul faz um apelo para que as pessoas comprem no comércio local. Espírito Santo. — Foto: Bernardo Bracony

O prefeito Mimoso do Sul, Peter Costa, está confiante na recuperação da cidade e enumera as etapas que já foram realizadas.

“Esse mês foi o mais difícil da minha vida, com certeza, de muito trabalho, mas as coisas estão começando a voltar a sua normalidade, especialmente falando sobre a limpeza. As doações estão chegando e a gente pede ainda a ajuda de voluntários para ajudar com limpeza e distribuição de recursos. Estão chegando cerca de 200 a 300 kits de doações de eletrodomésticos para famílias mapeadas pelas equipes de assistência social, em parceria com o governo do estado, e a pessoas já começaram a receber".

De acordo com o prefeito a obra de dragagem dos quatro rios que passam pela cidade já começou a acontecer e, atualmente, a maior dificuldade da cidade é em relação às estradas rurais.

"Mimoso do Sul é o segundo maior município do Sul do Espírito Santo em extensão territorial. A Prefeitura está em contato com o Departamento de Edificações e de Rodovias (DER), para tentar solucionar isso o mais rápido possível, com liberação dos acessos", disse.

Peter Costa, prefeito de Mimoso do Sul. Espírito Santo — Foto: TV Gazeta


O prefeito faz um apelo para que as pessoas comprem no comércio local.

"O dinheiro precisa circular na cidade, a gente precisa que as pessoas comprem no comércio local. A gente ouviu reclamações de que os preços estão mais altos em algumas lojas e as equipes de fiscalização do município estão de olho nisso. Também recebemos a informação de que lojas de outras cidades estavam vindo aqui para vender móveis em tendas na rua, mas isso não pode, já atuamos e a situação foi resolvida", explicou.


Montanha de lama

Parque de Exposições de Mimoso do Sul virou lixão improvisado. Espírito Santo — Foto: Bernardo Bracony

A lama e o entulho que foram recolhidos nas ruas de Mimoso do Sul foram colocados em dois locais. Um grande lixão foi criado na entrada da cidade e outro, ainda maior, foi improvisado no Parque de Exposições da cidade.

A ideia é levar o material do Parque de Exposições para um aterro sanitário em Cachoeiro de Itapemirim, mas o custo desse transporte e não existe previsão para que isso aconteça.

“A gente não tem como mudar isso agora, não temos esse dinheiro, vamos precisar do apoio do governo do estado. Seriam necessárias algo perto de 9 mil viagens de caminhão para fazer o transporte de todo o resíduo”, explicou o prefeito.


Montanha de roupas

Tão impressionante quanto a montanha de lixo é a quantidade de roupas que lotam o Ginásio de Esportes de Mimoso do Sul. Para entrar no local é preciso passar - literalmente - por cima de uma montanha de roupas.

A cidade não precisa mais de doações de roupas e o município faz um apelo para que as doações desses itens parem de chegar. Atualmente, o mais necessário são voluntários para ajudar na limpeza de casas.

Quem perdeu tudo e precisa de roupas para a família entra, senta sobre as peças, procura e escolhe o que pode servir. A maior parte dos sapatos está do lado de fora do ginásio e, neste caso, o desafio é encontrar os dois pés do mesmo par.

A lavradora Marinete dos Santos (no centro da imagem, de blusa estampada) mora na região de São Pedro, no interior de Mimoso de Sul. Espírito Santo — Foto: Bernardo Bracony

A lavradora Marinete dos Santos, é da região de São Pedro, no interior de Mimoso de Sul, e foi ao local em busca de doações.

“Eu peguei roupas, principalmente pra roça. Vamos entrar no período de colheita do café e a gente não pode parar. Agora lá tá bom, passou um pouco a destruição. Eu consegui pegar muita coisa aqui, se procurar muito a gente acha sim”, falou.



Fonte: g1 ES



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