Pela primeira vez após morte do seu caçula, Andrea Medice fala com amor sobre o filho e lembra da despedida que tiveram no Dia das Mães.
Leandro e a mãe Andrea Medice. — Foto: Arquivo pessoal
Uma semana após a morte do cardiologista Leandro Medice, de 41 anos, encontrado sem vida em um abrigo de São Leopoldo, no Rio Grande do Sul, no dia 13 de maio, a mãe dele, Andrea Medice, 67 anos, falou pela primeira vez e contou como foi a despedida dos dois em pleno Dia das Mães, antes do médico embarcar para o Sul do país.
Leandro era o caçula de três filhos, após as irmãs Renata, 46 anos, e Flávia, 43. Nesse sábado (18), Andrea disse que o filho era seu melhor amigo.
"É a pessoa que adivinhava os meus pensamentos. Onde estava me ligava, lembrava de mim, onde viajava carregava eu e o pai dele", disse se referindo também a Sergio Medice, de 80 anos.
Sérgio e o filho Leandro Medice. — Foto: Arquivo pessoal
"Eu sempre fui muito amiga dos meus filhos, mas chamava a atenção se precisasse, mostrava o que era certo e não era. Meu filho deu um show de vida! Com ele eu não me preocupava de jeito nenhum, não precisava brigar, ele foi sempre muito bonzinho", lembrou a mãe.
Andrea contou que o filho era estudioso e inquieto. Saiu de casa com 16 anos e foi para Nova Friburgo, no Rio de Janeiro, estudar fisioterapia, que posteriormente já emendou com uma pós-graduação na mesma área.
"Se formou com louvor e era excelente no que fazia. Logo foi trabalhar em hospital e, mesmo bem sucedido e com a agenda cheia, fazendo plantões, cuidando até de alguns familiares de médicos que pediam, se empolgou e resolveu fazer medicina", lrealtou Andrea.
Família do médico capixaba Leandro Medice, que morreu em abrigo no Rio Grande do Sul. Espírito Santo — Foto: Arquivo pessoal
Queria salvar vidas
Com a formação de médico, veio também a residência em cardiologia, os plantões em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e o trabalho como socorrista do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) que, segundo Andrea, era a verdadeira paixão do filho, além do instituto que criou, onde realizava cirurgias capilares.
"Eu tenho pra mim que trabalhar no Samu era o que ele amava fazer. Ele queria salvar vidas. Chegou a entrar e sair umas três vezes quando a escala começava a conflitar com os outros compromissos e plantão. Mas recentemente, tinha me dito que queria voltar e já estava de olho no próximo concurso", contou a mãe.
Médico Leandro Medice, que morreu em abrigo no Rio Grande do Sul, trabalhou para o Samu no Espírito Santo. — Foto: Arquivo pessoal
Andrea falou sobre a homenagem que profissionais do Samu prestaram no enterro do filho, no dia 15 de maio, com direito a ambulâncias e sirenes soando.
"Um colega do Leandro me abordou e falou 'ninguém tem noção do tanto de vida que o seu filho salvou na ambulância'. 'Graças a Deus', eu pensei quando ouvi isso. Era o que ele queria. Então, o sonho dele se realizou", disse emocionada.
Despedida no Dia das Mães
Pais e irmãs do médico capixaba Leandro Medice, que morreu em abrigo no Rio Grande do Sul. Espírito Santo — Foto: Arquivo pessoal
No sábado (11), véspera do Dia das Mães, a família Medice já tinha reserva em um restaurante para celebrar a data no domingo, reunida em um almoço. Entretanto, à noite, veio a ligação do Leandro.
"'Mãe, você vai ficar muito triste se amanhã eu não almoçar com você?', e eu perguntei por que. 'Porque um amigo acabou de me convidar e eu queria ir para o Rio Grande do Sul ajudar quem está precisando'. E na mesma hora eu falei que tudo bem, que eu não ligaria, que ele me daria até um presente fazendo isso. Era tudo que ele queria, ajudar... Então morreu fazendo o que queria, salvar pessoas", contou Andrea.
Às 3h do domingo (12), Dia das Mães, o médico ligou para a mãe para avisar que estava indo.
"Eu disse 'boa viagem, ajude bastante gente. Deus te acompanhe'. E ele respondeu que iria levar uma coisa que as pessoas estavam precisando mais do que remédio, que era carinho e amor. E foi a última vez que eu falei com o meu filho... meu anjo", lembrou bastante emocionada.
Mãe sentiu que filho tinha morrido
Médico capixaba Leandro Medici e a mãe Andrea Medice. — Foto: Arquivo pessoal
Andrea conta que tomou café da manhã na segunda-feira (13) e se recostou no sofá. De alguma forma, a chegada inesperada da filha Renata em sua casa, naquele dia e horário, com a expressão com a qual ela olhou para a mãe e um aperto no coração, a fizeram saber que Leandro tinha morrido antes mesmo de ouvir essas palavras.
"'Leandro morreu!', eu falei e ela consentiu com a cabeça. Eu não sei de onde tirei essa ideia, mas de alguma forma eu senti. Foi o que eu pensei na hora que vi a carinha dela", revelou.
De acordo com Andrea, a família viveu os últimos dias apegada a Deus, tentando lembrar que Leandro não gostaria de ver ninguém triste. É nele que eles pensam quando o desespero se aproxima.
"A gente sempre falou muito de amor, foram muitos 'eu te amo', não ficou faltando nada disso! Não tenho o sentimento de não ter falado algo para ele! [...] Eu sempre amei o meu filho independente do que ele fazia, o meu filho sempre foi orgulho para mim, quem dera que as mães tivessem um filho que fosse 50% do que ele era pra mim. Eu vejo tanta mãe que não aceita o filho, que cria confusão, a gente não pode fazer isso, quando ama uma pessoa, a gente ama completo", alertou a mãe do médico.
Andrea se conforta também em ter ouvido que o filho não sofreu. Para a família, a informação passada foi de um mal súbito e é no que eles acreditam, visto que Leandro era saudável.
Fonte: g1 ES