'Greening': doença que devasta pomares ajuda a explicar a laranja cara

Produção de laranja pode ser prejudicada com alta incidência de greening — Foto: Reprodução/Programa Globo Rural

A colheita de laranja começou, com expectativa de queda. A produção no cinturão citrícola de São Paulo e Triângulo Mineiro deverá ficar em torno de 232 milhões de caixas de 40 quilos, uma queda de quase 25% em relação à safra passada.

Um fator que tem influenciado a queda na safra é o “greening”, a doença mais destrutiva da citricultura.

Segundo a Embrapa, o greening, também conhecido como "doenças do ramo amarelo" e huanglonbing (HBL), é considerada a doença dos citros de maior importância no mundo, em função da dificuldade de controle, da rápida disseminação e por ser altamente destrutiva.

Com a queda na oferta, o preço da laranja está batendo recordes. A caixa de 40 quilos superou R$ 85 nesta semana em São Paulo, valor mais alto da série histórica do Cepea.

Na propriedade de André Caritá, que tem 50 mil pés, o produtor acredita que a cada dez pés, dois estejam contaminados.

“A gente vem intensificando bastante as pulverizações, tentando combater, mas não está fácil. O greening hoje é nosso principal desafio”, diz o agricultor.

SAIBA TUDO SOBRE O GREENING

O greening, também conhecido como huanglongbing e HLB, é uma doença que ataca todos as lavouras de cítricos, não apenas no Brasil, mas em outros 130 países. Ela não tem cura e já consumiu mais de US$ 2 bilhões nos EUA na tentativa de ser controlada.

O que é o greening?

Greening é uma doença causada por uma bactéria transmitida pelo psilídeo Diaphorina citri , conhecido dos citricultores há 20 anos. O inseto tem coloração branca acinzentada e manchas escuras nas asas, com comprimento de 2 mm a 3 mm, e muito frequente nos pomares nas épocas de brotação das plantas.

Encontrado pela primeira vez na Ásia há mais de 100 anos, foi identificado no Brasil em 2004, nas regiões Centro e Leste do Estado de São Paulo.

Hoje, está presente em todas as regiões citrícolas paulistas e pomares de Minas Gerais e Paraná, além de Argentina e Paraguai, na América do Sul, em quase todos os países da América Central e Caribe, e México e Estados Unidos, na América do Norte.

Tanto a bactéria quanto o psilídeo se reproduzem em todos os tipos de citros (laranjas, tangerinas, mexericas, limas-ácidas e limões). Psilídeos também se reproduzem na planta ornamental Murraya paniculata, conhecida como murta, falsa murta ou dama da noite e que é muito utilizada na arborização urbana e como cerca viva.

O que causa o greening?

Plantas infectadas e psilídeos com a bactéria são os responsáveis pela sobrevivência e disseminação da doença. Os pomares com alta incidência da doença e sem o adequado controle do inseto vetor representam uma séria ameaça aos pomares vizinhos, porque as plantas doentes servem como fonte da bactéria, que será adquirida pelos psilídeos ao se alimentarem ou se reproduzirem nelas.

Ao se alimentarem em plantas sadias, os insetos disseminam a bactéria e a doença pelo próprio pomar e para outras propriedades da região.

Psilídeo Diaphorina citi, transmissor do greening — Foto: Fundecitrus / Divulgação

Entenda o ciclo do greening

A bactéria vive nas ‘veias’ das plantas (vasos do floema), por meio das quais ela se espalha rapidamente para todas as partes da árvore: raízes, ramos, folhas e frutos. Quando há sintomas nas folhas ou frutos da extremidade dos galhos, a bactéria já se espalhou para toda a planta, inclusive parte baixa do tronco e raízes.

É por isso que a poda de ramos com sintomas é inútil e até perigosa. Além de não curar a planta, as brotações que surgem após a poda servem como atrativo para o inseto vetor, que irá adquirir a bactéria e disseminá-la para plantas sadias, provocando novas infecções.

Após a transmissão da bactéria pelo psilídeo, os sintomas do greening começam a aparecer nas folhas das árvores mais ou menos quatro meses depois e continuam a aparecer ao longo do ano. Uma planta infectada, mas ainda sem sintomas, já pode servir de fonte da bactéria para plantas sadias.

É por isto que as laranjeiras devem ser vistoriadas frequentemente por pessoas que conheçam bem os sintomas do greening para que, ao longo do tempo, as plantas doentes sejam totalmente eliminadas de uma determinada área.

O psilídeo passa por seis estágios de desenvolvimento de ovo a adulto. Ele adquire a bactéria ao se alimentar nas plantas doentes e a transmite ao se alimentar nas sadias. Tanto a aquisição quanto a transmissão da bactéria ocorrem depois de 15 minutos de alimentação, mas quanto mais tempo ele se alimenta, maiores são as taxas.

A aquisição também é maior quando o psilídeo está na fase de ninfa, e a transmissão maior em brotos do que em folhas maduras. Por isso é que não se deve deixar plantas doentes no pomar. Praticamente todos os psilídeos que se alimentarem e reproduzirem nela irão disseminar a bactéria da doença.

O correto é eliminar a árvore com greening onde quer que ela esteja localizada no pomar e tão logo seja encontrada. Como o psilídeo prefere brotações para se alimentar e reproduzir, a única maneira de proteger uma planta sadia de ficar doente é pulverizá-la com inseticidas. E a aplicação deve ser constante devido ao rápido crescimento dos brotos.

É importante lembrar que a bactéria também pode ser transmitida pela enxertia de borbulhas infectadas em plantas sadias e que mudas contaminadas pelo greening são um importante meio de disseminação da doença. Por esse motivo, é necessário que tenham procedência idônea e sejam produzidas em viveiros telados. Diferente da bactéria do cancro cítrico, a bactéria do greening não é disseminada por sementes, vento, água ou qualquer instrumento agrícola.

Quais os sintomas do greening?

Os sintomas do greening podem ser vistos durante o ano todo, com maior frequência entre o final do verão e o início da primavera. Primeiramente, observa-se a presença de um ou mais ramos com folhas amareladas, quando jovens, e mosqueadas, quando maduradas.

O mosqueado se caracteriza por manchas irregulares no limbo foliar, que alternam gradativamente entre o verde e o amarelo, sem simetria entre as duas metades da folha.

As folhas afetadas tendem a cair e em seu lugar surgem novas brotações pequenas com folhas na posição vertical, como “orelhas de coelho”. Em alguns casos, a nervura da folha fica grossa e mais clara (amarelada), podendo também ficar áspera (corticosa).

Folhas manchadas são sintomas de greening — Foto: Fundecitrus / Divulgação

Os frutos de ramos com sintomas do greening não amadurecem normalmente, adquirem uma coloração verde clara manchada e caem precocemente. Geralmente, ficam deformados, pequenos e assimétricos em relação à columela central. Na região de inserção do pedúnculo, observa-se uma coloração alaranjada.

Ao cortar o fruto, é possível verificar internamente filetes alaranjados na columela a partir da região do pedúnculo, sementes abortadas (necrosadas) e o albedo (parte branca da casca) com espessura maior que a de um fruto sadio. O suco das frutas doentes tem sabor mais ácido, menos doce e mais amargo.

Em plantas novas, a árvore fica toda comprometida em um ou dois anos. Plantas mais velhas podem levar de três a cinco anos para serem tomadas pelos sintomas.

Laranja infectada com greening — Foto: Fundecitrus / Divulgação

Como acabar com o greening?
  • Uso de inseticidas e doses eficazes;
  • Rotação de inseticidas com diferentes modos de ação;
  • Intervalos entre aplicações menores ou iguais a 7 dias nos períodos de brotação;
  • Aplicações de qualidade em todas as partes da planta.

Dentre esses, o que mais contribuiu para a ineficiência do controle do psilídeo e, consequentemente, para o aumento da incidência de greening, foi o uso intensivo e seguido de inseticidas dos grupos piretroide e neonicotinoide que apresentaram ocorrência comprovada de psilídeos resistentes.

A eliminação de plantas sintomáticas é obrigatória até o oitavo ano após o plantio, segundo recomendação do Fundecitrus. A decisão de eliminar ou manter plantas doentes com mais de oito anos cabe ao citricultor, mas, caso opte pela manutenção, é compulsório o controle eficiente do inseto vetor Diaphorina citri. Também é importante eliminar plantas sintomáticas em pomares não comerciais e quintais.

A não rotação adequada de inseticidas com diferentes modos de ação, adotada por grande parte dos citricultores, levou à rápida seleção de populações do psilídeo resistentes a esses dois grupos de inseticidas e, a consequente, perda de eficácia desses produtos no campo, diz a Fundecitrus.

Para reverter este quadro é preciso que haja a interrupção do uso desses inseticidas por todos os citricultores das regiões com problema de controle por no mínimo três meses e que se adote a rotação de inseticidas de outros grupos químicos com 3 a 4 modos de ação diferentes.

O clima também ajuda a entender o cenário de aumento da incidência da doença. Chuvas mais frequentes e temperaturas menos quentes durante a primavera e verão favorecem o aumento do psilídeo e disseminação da bactéria.

Fonte: Globo Rural



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