Pesquisadores defendem que a idade é um conceito relativo e explicam por que cada pessoa envelhece de um jeito diferente
Ruth Mezeck tinha 63 anos quando resolveu fazer um curso de clown (“palhaço”, em inglês), em 1998. Alguns amigos torceram o nariz: “Palhaço não dá dinheiro!” e “Comédia não ganha prêmio!” foram as críticas que ela mais ouviu. Mas Ruth não queria aprender a arte de fazer os outros rirem para ficar rica ou colecionar troféus. Aposentada da Fundação Nacional de Artes (Funarte), queria apenas se reciclar como atriz. O curso, porém, superou as expectativas. Inspirada na personagem Winnie, da peça Dias Felizes (1961), do dramaturgo irlandês Samuel Beckett (1906-1989), Ruth Mezeck criou a palhaça Sassah. Hoje, a “clowntadora” de histórias, como ela própria se autointitula, é a palhaça mais velha em atividade no Brasil. “Tenho 88 anos. Mas, quando pinto o rosto e visto a fantasia de Sassah, passo a ter 25. Quem leva a vida com bom humor vive mais e melhor”, filosofa.
Idade é mesmo um conceito relativo. Não por acaso, os médicos costumam distinguir a idade cronológica da biológica. A cronológica, explicam, é a idade do nosso RG e a biológica, do nosso corpo. Uma nem sempre é compatível com a outra.
Em sua tese de doutorado, Novas Formas de Mensurar e Analisar o Envelhecimento Populacional no Brasil do Século XXI, Anderson Gonçalves, do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), no interior paulista, criou um novo conceito: idade relativa. “O resultado mais interessante da minha pesquisa é a diferença na velocidade em que os brasileiros envelhecem. Pessoas que nasceram no mesmo ano têm características distintas, e essas diferenças têm relação direta com o nível de escolaridade, renda ou domicílio”.
Médicos costumam distinguir a idade das pessoas de duas formas: tem a cronológica, que é a idade do nosso RG, e a biológica, a do nosso corpo. Foto: Hyejin Kang/Adobe Stock
Complicado? Nem tanto! Brasileiros do sexo masculino com 55 anos cronológicos podem ter características de 50,1 anos ou de 60,7 anos relativos. A diferença de idade pode chegar a dez anos e depende do nível de escolaridade. “Em média, quem estudou até quatro anos, tem idade cronológica de 55, mas sua idade relativa é de 60,7 anos. Ou seja, têm características de pessoas mais envelhecidas do que a média da população brasileira com a mesma idade cronológica”, conta o professor. “Por outro lado, aqueles que têm nove anos ou mais de estudo, ao completarem 55 anos cronológicos, têm uma idade relativa de 50,1 anos. Isto é, têm características de pessoas relativamente mais jovens do que os brasileiros com a mesma idade cronológica”, acrescenta.
O exemplo acima se baseia no quesito escolaridade. Resumindo: quem estuda mais tende a ter, segundo a tese de Gonçalves, um envelhecimento mais lento do que o da média da população. Em compensação, quem estuda menos costuma ter um processo mais rápido de envelhecimento.
Mas há outros fatores em jogo, como a renda e o domicílio. “Um homem com 60 anos cronológicos que vive na Região Norte do Brasil têm idade relativa de 67,1 anos, ou seja, características de uma pessoa 7,1 anos mais velha do que a média da população brasileira. Enquanto isso, um homem com 60 anos cronológicos que reside na Região Sul tem, em média, 57,5 anos relativos”, dá outro exemplo.
Fonte: Estadão