Após matar psicólogo a facadas em Guarapari, paciente usou cartão da vítima e foi a culto religioso
Marcelo Souza Moreira foi preso suspeito de matar o psicólogo Marcelo Souza Moreira foi preso suspeito de matar o psicólogo em Guarapari, ES — Foto: Polícia Civil do ES/Divulgação
Marcelo Souza, 21 anos, que confessou o crime, também roubou o carro da vítima. "Rapaz muito articulado. Fiquei surpresa pela violência e frieza, em especial após o crime", disse delegada.
O suspeito de matar o psicólogo Silvestre Falcão Santana, no último final de semana, está preso e causou surpresa à polícia pela frieza demonstrada após o crime. Segundo informações divulgadas nesta terça-feira (15), além de confessar o crime, Marcelo Souza Moreira, de 21 anos, realizou gastos em cartões de crédito da vítima, chegou a negociar a compra de um terreno e foi a cultos religiosos normalmente.
Marcelo foi paciente de Silvestre quando era adolescente, ainda com 16 anos. Ele está preso no Centro de Detenção Provisória de Guarapari. Até o momento, a polícia trata o caso como latrocínio (roubo seguido de morte) e diz que a ação do suspeito foi premeditada.
“Tudo indica, pelas provas que foram até então analisadas, uma premeditação. Eles passaram a manhã juntos, saíram da Grande Vitória, foram para Guarapari, almoçaram, foram para clínica na Serra e retornaram para Guarapari. Por volta das 18h, ele [Marcelo] passa mensagem para a namorada dizendo que ia ficar com o carro do tio”, descreveu a delegada, Rosane Cysneiros.
Marcelo e Silvestre tinham uma relação bem próxima, segundo a polícia. Tanto que o suspeito frequentaria a casa do psicólogo várias vezes e tinha acesso até a documentos e senhas de cartões da vítima.
De acordo com a delegada, os dois também jantaram antes da morte do psicólogo. E foram vistos juntos por testemunhas.
“Marcelo fez comida para vítima, até que, entre 21h e 22h, acontece uma dinâmica de agressões físicas, que culminam com os golpes de arma branca, que levam a vítima a óbito”, contou.
Psicólogo confiava em suspeito
O psicólogo Silvestre Falcão Santana foi encontrado morto dentro do próprio apartamento em Guarapari, Espírito Santo. — Foto: Redes sociais
Ainda de acordo com a polícia, Marcelo foi paciente de Silvestre por 6 meses, quando tinha 16 anos, por dependência química.
Logo após o crime, Marcelo usou cartões de crédito de Silvestre e chegou a negociar a compra de um terreno em Guarapari, além de ter mantido uma vida social normal, chegando, até mesmo, a frequentar cultos na Grande Vitória.
“Depois que ele comete o crime, ele leva todos os cartões de crédito da vítima, todas as suas senhas que ele imprimiu no computador de vítima, porque ele tinha acesso não só a todas as senhas, aos arquivos onde ficavam guardadas, mas também senha do computador, do celular, ou seja, era uma pessoa que a vítima tinha uma grande confiança”, apontou a delegada.
A delegada Rosane revelou surpresa com a postura adotada pelo suspeito, que se manteve tranquilo desde o momento em que foi detido.
“É um rapaz muito articulado em sua fala, fiquei surpresa pela violência e pela frieza em especial após o crime”, disse.
Para a polícia, um outro indicativo da relação de proximidade entre os dois é o fato de Marcelo ter saído do presídio em agosto deste ano e Silvestre ter pago um mês de aluguel para ajudar o suspeito a reconstruir a vida fora da prisão.
Envolvimento com o crime desde os 13 anos
A polícia divulgou que Marcelo Moreira tem envolvimento com o crime desde os 13 anos.
Procurada, a Secretaria de Justiça do Espírito Santo (Sejus) informou que o suspeito tem passagens por presídios da Grande Vitória por homicídio, assalto à mão armada e crime de ameaça, e confirmou que ele foi solto pela última vez em agosto.
O paciente deu entrada no Centro de Detenção Provisória de Guarapari e vai responder pelo crime de latrocínio.
O g1 não conseguiu localizar a defesa de Marcelo.
Relembre o caso
Um psicólogo foi encontrado morto dentro do próprio apartamento em Guarapari, na Grande Vitória, neste domingo (13). Silvestre Falcão Santana era conhecido pelo trabalho com dependentes químicos e comunidades terapêuticas. Marcelo Souza Moreira foi preso nesta segunda-feira (14) e confessou o crime. Ele era paciente de Silvestre.
O crime aconteceu na Praia do Morro, um dos principais bairros da cidade e que tem forte apelo turístico. O corpo de Silvestre apresentava lesões nas costas, nuca e pescoço.
Segundo a polícia, os dois foram vistos juntos na sexta-feira (11). No mesmo dia, vizinhos relataram que ouviram uma briga e gritos vindos da casa de Silvestre. De acordo com a investigação, o psicólogo deve ter morrido cerca de dois dias antes de ser encontrado.
Prisão do suspeito
Marcelo Souza Moreira, suspeito de cometer o crime, foi preso utilizando o carro da vítima. A prisão aconteceu nesta segunda no bairro Interlagos, em Vila Velha.
O Marcelo foi encontrado após câmeras do cerco eletrônico identificarem o veículo roubado. A namorada e uma tia dela estavam com ele, além de uma adolescente de 14 anos e uma criança de 1 ano. As duas adultas afirmaram que não sabiam o que havia acontecido com o psicólogo.
"O suspeito não esboçou qualquer tipo de reação para abordagem da equipe. Ele ficou de forma bem tranquila, a equipe deu voz de prisão pelo fato de ele estar com o veículo produto de furto e roubo e durante a detenção o indivíduo afirmou ser o autor do homicídio", explicou o Capitão Rian da Polícia Militar.
Questionado pelos militares, sobre o veículo, Marcelo informou que era de um tio. Com ele, foram encontrados uma bolsa com diversos cartões de Silvestre, chaves, celular, cordão, pulseira, relógio e mais de R$ 1.400 em dinheiro.
Tanto Marcelo quanto as duas mulheres foram encaminhados para a Divisão Especializada de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) de Guarapari. A adolescente e a criança foram entregues a uma tia que se apresentou na delegacia.
O carro de Silvestre, uma caminhonete Hillux, foi apreendido pela Polícia Civil e a perícia foi acionada.
Trabalho com dependentes químicos
O psicólogo era presidente da Federação das Comunidades Terapêuticas do Espírito Santo, responsável pela Pequena Comunidade de Jesus (PCJ), na Serra, Grande Vitória.
De acordo com amigos, o psicólogo era conhecido pelo trabalho com dependentes químicos, tinha pós-doutorado na área e escreveu três livros sobre seu principal tema de estudo.
Em nota, o Conselho Regional de Psicologia (CRP-16) se solidarizou com familiares e amigos do psicólogo Silvestre Falcão Santana. “O Conselho repudia toda forma de violência e reitera que as investigações sejam empreendidas para adoção das medidas cabíveis”.
O corpo de Silvestre foi enterrado nesta segunda-feira (14), em Cachoeiro de Itapemirim, no Sul do Espírito Santo
Fonte:G1 ES