Amigos colocaram cartazes no portão da casa onde mora sobrevivente de acidente no PR — Foto: Júlia Barros/RBS TV
João Pedro Milgarejo, de 17 anos, foi encaminhado a hospital em Santa Catarina com poucas escoriações e recebeu alta. Ele já está em Pelotas, no Sul do RS, e disse à RBS TV que pretende comparecer ao velório coletivo, previsto para a tarde desta terça-feira (22).
O único integrante da equipe de remo de Pelotas a sobreviver ao acidente ocorrido na BR-376, em Guaratuba (PR), falou com exclusividade à RBS TV nesta terça-feira (22). João Pedro Milgarejo, de 17 anos, contou que, no momento da colisão, estava dormindo no fundo da van, que foi atingida por uma carreta. Nove pessoas morreram.
"Quando eu acordei, nem sabia o que tava acontecendo. Depois que eu fui ver que tava tudo desmoronado. [...] Quando eu saí daquela van, eu já sabia que ia ser só eu, não tinha como mais ninguém sobreviver", relembra.
Após o resgate, o atleta recorda que "apagou" na ambulância. Quando ele lembra de ter retomado a consciência, já estava no hospital de Joinville (SC), para onde foi encaminhado com ferimentos leves.
O jovem recebeu alta na segunda-feira (21) e retornou ao RS com a família a bordo de um avião do governo gaúcho. Ele teve apenas machucados no rosto e torção em um dos pés, que ficou preso ao banco quando a van tombou.
"Meus pêsames por todo mundo que não sobreviveu. Meus amigos, meu treinador e pela família deles, sinto muito", solidariza-se.
Milgarejo disse que pretende comparecer ao velório coletivo. A cerimônia deve ter início na tarde desta terça na sede campestre do clube Centro Português 1º Dezembro, onde os atletas treinavam.
"Eles sempre estavam comigo em qualquer momento, não vai ser agora que eu vou deixar eles", pontua.
O atleta afirma que seguirá remando assim que se recuperar. Pelos colegas e pelo sonho de disputar as Olimpíadas.
"Pretendo continuar remando por eles e pela família deles. Pretendo muito ir pras Olimpíadas ainda, eu não vou desistir tão fácil", projeta.
Os mortos são sete atletas, com idades entre 15 e 20 anos; o coordenador do time; e o motorista da van que transportava a delegação para um torneio realizado em São Paulo.
- Oguener Tissot (coordenador), 43 anos, natural de Pelotas
- Samuel Benites Lopes, 15 anos, natural de São José do Norte
- Henry Fontoura Guimarães, 17 anos, natural de Pelotas
- João Pedro Kerchiner, 17 anos, natural de Pelotas
- Helen Belony, 20 anos, natural de Pelotas
- Nicole da Cruz, 15 anos, natural de Pelotas
- Angel Souto Vidal, 16 anos, natural de Pelotas
- Vitor Fernandes Camargo, 17 anos, natural de Pelotas
- Ricardo Leal da Cunha (motorista), 52 anos
As vítimas eram vinculadas à iniciativa "Remar para o Futuro", realizada em parceria com o clube Centro Português e a Academia de Remo Tissot, e que contava com o apoio da Prefeitura de Pelotas e da Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Milgarejo fazia parte do projeto desde os 14 anos.
'Um milagre'
Ainda em choque e com sentimentos conflitantes, a mãe de João Pedro Milgarejo, Graciele Timm Nolasco, diz sentir gratidão pela vida do filho, mas o pesar pela perda dos outros jovens.
João Pedro teve poucas escoriações e nenhuma lesão grave, o que a mãe atribui a "um milagre". "Graças a Deus ele tá bem. Ele é um milagre. Minha definição hoje é gratidão, porque meu filho nasceu de novo. Só o psicológico dele que a gente vai ter que tratar. Vai ser muito difícil", desabafou Graciele.
No dia anterior ao acidente, o remador conquistou medalha de ouro no Campeonato Brasileiro e dedicou ao pai falecido à mãe. O registro com a declaração, ao lado de três companheiros, foi compartilhado no perfil oficial da Confederação Brasileira de Remo nesta segunda-feira (21).
Manifestações de pesar
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) lamentou a morte da delegação. "Não há palavras que possam descrever a dor de perder um filho ou neto. A dor é irreparável. Meus sentimentos e solidariedade aos familiares e amigos das vítimas", disse.
Natural de Pelotas, o governador Eduardo Leite (PSDB) disse que "esses jovens eram exemplos de dedicação, superação e orgulho para todos nós. Estavam no auge de suas carreiras, conquistando medalhas e levando o nome do nosso Rio Grande ao topo em uma competição de grande relevância nacional, o Campeonato Brasileiro Unificado, disputado em São Paulo".
Acidente na BR-376: manifestações do presidente Lula e do governador do RS, Eduardo Leite — Foto: Reprodução/RBS TV
A prefeita de Pelotas, Paula Mascarenhas (PSDB), decretou luto oficial de sete dias. "Eles partiram de forma inesperada, deixando uma dor imensa em todos nós. Que possamos encontrar consolo nas lembranças que eles nos deixaram, e na esperança de que seu legado de amor, determinação e companheirismo continue vivo em cada um de nós, inspirando nossas ações e nossas vidas", disse.
O ministro do Esporte, André Fufuca (PP), destacou que quatro vítimas eram beneficiárias do programa Bolsa Atleta. "Em nome de toda a comunidade esportiva, expressamos nosso profundo pesar por essa tragédia que afeta a todos. Desejamos força e coragem para enfrentarem essas perdas irreparáveis e colocamos o Ministério do Esporte à disposição para auxiliar naquilo que for necessário", falou.
A presidente da Confederação Brasileira de Remo, Magali Moreira, divulgou uma nota em nome da entidade em que "se solidariza com a dor de amigos familiares dos atletas, da equipe do Centro Português e Remar para o Futuro, atingidos pela tragédia".
O clube de futebol Grêmio Esportivo Brasil, que perdeu três integrantes de sua delegação em um acidente de ônibus em 2009, manifestou pesar pela tragédia. "Neste momento difícil e de grande dor, desejamos força aos familiares, amigos e toda a comunidade pelotense", afirmou, em nota.
O Esporte Clube Pelotas também lamentou o acidente. "O Esporte Clube Pelotas está de luto pela tragédia envolvendo os atletas do projeto vitorioso Remar para o Futuro que retornava para cidade após competição em São Paulo", disse a entidade.
Grêmio, Internacional e Juventude, clubes gaúchos da série A do Campeonato Brasileiro de futebol, também se solidarizaram diante da tragédia.
Carreta container tomba sobre van e mata nove pessoas de equipe de remo na BR-376 no Paraná — Foto: Corpo de Bombeiros
O acidente
O acidente ocorreu após uma carreta contêiner tombar sobre a van que transportava a equipe de remo na BR-376, por volta das 21h40 de domingo, em Guaratuba, no litoral do Paraná.
De acordo com a Polícia Rodoviária Federal (PRF), o acidente aconteceu no km 665, sentido Santa Catarina. A van saiu de São Paulo e tinha como destino o município de Pelotas. Por conta do acidente, a rodovia ficou interditada por 15 horas e chegou a registrar 22 quilômetros de congestionamento. A pista no sentido Santa Catarina foi liberada às 11h57 de segunda, de acordo com a concessionária Arteris Litoral Sul.
A PRF informou que a suspeita é que a carreta perdeu os freios e colidiu na traseira da van. Com o impacto, a van bateu em outro carro, rodou na rodovia e, em seguida, foi arrastada para fora da pista pelo caminhão, que tombou sobre ela.
Investigação
A Polícia Civil do Paraná investiga se a carreta que tombou sobre uma van que transportava integrantes de um time de remo perdeu os freios antes do acidente. A polícia pretende ouvir o motorista do caminhão, um homem de 30 anos.
"O procedimento vai ser devidamente instaurado pela Delegacia de Delitos de Trânsito de Curitiba, inicialmente pela prática do crime de homicídio culposo na direção de veículo automotor. Já temos a identificação do condutor do caminhão, que provavelmente será ouvido nas próximas horas para que possa contribuir no esclarecimentos dos fatos", disse o delegado Edgar Santana.
Fonte: G1 RS