Empresária mora nos EUA há mais de 20 anos e acabou de se mudar para a Flórida, mas teve que sair do estado com a mãe por causa do furacão Milton. Marido e filha ficaram para trás.
Ana e a mãe Maíde no carro deixando Tampa, na Flórida, por causa da passagem do furacão Milton. — Foto: Arquivo pessoal
A empresária capixaba Ana Picerno, natural de Linhares, no Espírito Santo, mora nos Estados Unidos há mais de 20 anos e se mudou para Tampa, na Flórida, há apenas um mês, mas teve que deixar a cidade às pressas na última segunda-feira (7) por causa da passagem do furacão Milton.
O poderoso furacão deve tocar o solo na Flórida fim da noite desta quarta-feira (9) ou madrugada de quinta pelo horário de Brasília, e já lançou chuva e ventos fortes sobre a área de Tampa Bay nesta quarta.
Ana mora com o marido, uma filha e o genro e estava recebendo a visita da mãe, que mora no Brasil. A casa dela fica a 20 minutos da praia e, segundo a brasileira, mesmo que as autoridades não tenham determinado que os moradores dessa região deixassem suas casas, eles já se preparam para recorrerem a abrigos, caso a situação se agrave.
"O governador da Flórida já estava avisando 'saiam todos que estão perto da praia'. Minha casa não está de frente para o mar, está a 20 minutos. Mas com ondas de quatro metros, eu fiquei com muito medo", contou.
Ana decidiu deixar Tampa acompanhada da mãe. O marido, a filha e o genro ficaram na cidade.
"Você ter que deixar parte da família para trás é muito difícil. Você já está com aquele medo dentro de você. Mas eu pensei: se eu ficar aqui com a minha mãe aqui e for uma coisa muito pior, como que eu vou para abrigo com a minha mãe?", falou Ana.
Ela se mudou temporariamente para o apartamento do filho mais novo, em Atlanta. A viagem de Tampa à Atlanta leva em média 6 horas, mas Ana e a mãe passaram mais de 18 horas na estrada.
"Quando eu coloquei mamãe no carro e comecei a sair, o trânsito já estava horrível. Quando eu olhei uma placa escrito 'Ocala', que geralmente fica a uma hora e meia da minha casa, eu já tinha levado seis horas até lá", relatou.
'Coração apertado'
"A gente não sabe o que vai acontecer. É muita notícia que vem de todo lado, é meteorologista falando... tá todo mundo assustado"
Ana e o marido moravam na Pensilvânia e se mudaram para a Flórida para ficar mais perto da filha. A brasileira disse que já sabia que o estado é conhecido pelos furacões, mas não esperava que um tão forte passasse em tão pouco tempo desde a mudança de cidade.
"Eu estou aqui em Atlanta e meu coração está apertado. Meu marido, minha filha e meu genro estão em Tampa, a família do meu genro está em Sarasota"
Corrida ao supermercado
A capixaba conta que na segunda-feira, viu a mudança de tempo na Flórida.
"O tempo fechou e começou um pouquinho de chuva. Eu falei: não vou esperar. A vida da gente está em jogo. Não vou ficar com minha mãe aqui"
Ana relata que no domingo (6) foi à igreja pela manhã e passou no supermercado na volta pra casa, mas itens como água já estavam faltando.
"Não tinha lugar para estacionar, foi horrível. Quando estacionei e entrei, não consegui mais pegar água. Ainda tinha comida, algumas coisas, mas o supermercado estava lotado", contou.
Mas, segundo a empresária, no dia seguinte, os estoques de água já estavam sendo repostos em alguns supermercados.
"Eu espero que não seja uma tragédia tão grande, igual todos estão falando que vai acontecer. Eu espero que eu volte pra casa, encontre a minha filha, meu esposo, meu genro e até um pavão de estimação que a gente cria! Espero que nossos animais, nossa família estejam todos lá. Espero que a minha casa esteja de pé. Orem por nós", finalizou.
'Esta é sua última chance', alertam autoridades sobre necessidade de moradores deixarem Tampa
Ruas vazias em Treasure Island, na região de Tampa (Flórida), antes da chegada do furacão Milton — Foto: The City of Treasure Island, Florida/Reuters
Em meio à iminente chegada do Milton à região, as autoridades locais emitiram alertas urgentes para que os moradores evacuassem ou enfrentassem baixas chances de sobrevivência.
O Centro Nacional de Furacões (NHC, na sigla em inglês) enfatizou que não era certo onde exatamente o centro de Milton atingiria a terra na noite de quarta-feira, pois o trajeto do furacão poderia "oscilar", mas toda a região de Tampa Bay e pontos ao sul enfrentam grande risco. Ventos de força tropical estavam logo ao largo da costa ao meio-dia, informou o NHC.
Fonte: G1 ES