Terremoto que abalou Vitória (ES) com magnitude de 6.1 na escala Richter completa 70 anos
O epicentro do terremoto ocorreu no mar, na cordilheira submarina denominada de Cadeia Vitória-Trindade, aproximadamente 360 km de Vitória (ES), entre os paralelos 20º e 21° S. “A falha atuou e continua atuando como conduto para o magmatismo da Pluma Mantélica de Trindade”, alerta estudo da UFF

Completa 70 anos hoje, 28 de janeiro, um dos maiores terremotos já registrados no Brasil e que ocorreu no Espírito Santo. Eram quase 23h da segunda-feira, 28 de fevereiro de 1955 quando as vibrações de um terremoto de magnitude 6.1 na escala Richter atingiu o Espírito Santo, inclusive Vitória e os municípios vizinhos. “Objetos caíram de móveis, vidraças se partiram e algumas casas foram destelhadas, mas ninguém se feriu seriamente”, registrou na ocasião o jornal O Globo.
De acordo com a Universidade de Brasília (UnB), entidade mais respeitada no Brasil em sismologia, mantém os registros e esse que ocorreu no Espírito Santo consta, mesmo 70 anos depois, como sendo um dos maiores já registrados no Brasil. O tremor foi sentido em Colatina, Guarapari, Cachoeiro de Itapemirim, Cariacica, Vila Velha e em outras cidades capixabas.
Não houve registro de pessoas feridas ou de prejuízos materiais, A única exceção foi a queda de um galpão que recebia e enviava mercadorias aos canoeiros, que ficava na volta do Rabayoli e com fundos para a Baía de Vitória. No Espírito Santo havia nessa ocasião apenas o Edifício Antenor Guimarães, com seis pavimentos, localizado na Praça Costa Pereira, no Centro Histórico de Vitória e que resistiu ao terremoto de 6.1 na escala Richter.

Registro feito por barógrafo
“Na época, a única estação sismográfica brasileira, no Observatório Nacional, RJ, não tinha sismógrafo em operação. Porém, as oscilações do chão em Cuiabá provocaram um registro no barógrafo do Observatório de Meteorologia Dom Bosco, situado na cidade. Quanta ironia, o maior sismo brasileiro dos tempos modernos não foi registrado por um sismógrafo do país, e sim por um barógrafo”, disse em 2015 o professor aposentado da Universidade de Brasília e criador do Observatório Sismológico (SIS/UnB).
Ele completa dizendo que quase uma centena de estações sismográficas espalhadas pelo mundo registraram o tremor, sendo assim possível conhecer sua magnitude, epicentro e, mais tarde, o tipo de falha que o produziu. No seu artigo para o portal da UnB, o professor destaca que o desconhecimento de que era um terremoto de grande magnitude, levou os capixabas as darem duas explicações para a origem do forte tremor: ”A fantasiosa o relacionava com uma explosão nuclear, a simplista, como resultado de uma acomodação de terra"

Detalhamento da região sísmica Zona de Fratura de Vitória-Trindade (ZFVT) | Imagem: UFF
Cordilheira submarina
De acordo com o estudo “Zona de fratura de Vitória-Trindade no Oceano Atlântico Sudeste e suas implicações tectônicas”, realizado em 2006 pela Universidade Federal Fluminense (UFF), em conjunto com a alemã Universidade de Munique e o francês Institut Universitaire Européen de la Mer trouxe com precisão a localização de onde está a fratura que ocasiona sismos: “A Zona de Fratura de Vitória-Trindade (ZFVT), localizada na latitude de 18º40′ na Cordilheira Mesoatlântica (CMA), foi mapeada utilizando-se sísmica de reflexão, gravimetria e isócronas magnéticas.” O estudo é assinado pelas pesquisadoras Eliane da Costa Alves, Marcia Maia, Susanna Eleonora Sichel e Cristina Maria Pinheiro de Campos.
A região “corresponde a um deslocamento axial em torno de 6 km, configurando uma descontinuidade de segunda ordem. O segmento assísmico da ZFVT é definido por uma depressão gravimétrica de direção E-W. Sua extensão para oeste corresponde à Cadeia Vitória-Trindade, representada por altos topográficos individualizados, que limitam desníveis crustais de mais de 400 m e províncias sedimentares de características e espessuras distintas”, diz o resumo do estudo.
O local está cortado pela intrusão de diques (alguns aflorando na superfície) e sills, indica instabilidade tectônica com a movimentação de falhas e ocorrência de estruturas transpressivas (estruturas em flor), elevando toda a coluna sedimentar incluindo o assoalho oceânico, atesta o estudo. “Estas observações sugerem reativações recentes da crosta oceânica com esforços alternantes, ora compressivos ora distensivos, associados a vulcanismos e falhamentos normais”.
E continua: “Evidências geológicas e geofísicas, além do mapeamento do alinhamento de epicentros de terremotos, sugerem que o prolongamento da ZFVT está relacionado ao Alto de Vitória e ao tectonismo e magmatismo na porção emersa, representado pelo Lineamento Sismo-Magmático Alcalino Trindade-Paxoréu / Alto do Paranaíba. Propõe-se que a ZFVT atuou e continua atuando como conduto para o magmatismo da Pluma Mantélica de Trindade.”
Conclusão do estudo sobre a Cadeia Vitória-Trindade
“A Zona de Fratura de Vitoria-Trindade (ZFVT) na Cordilheira Mesoatlantica, localizada na latitude de ˆ 18º40’S,e caracterizada por um pequeno rejeito em torno de 6 km e uma diferença de idade aproximada de 0,5 Ma entre os segmentos da cordilheira. Estas características no deslocamento do eixo da cordilheira mesoceânica mostram que a ZFVT corresponde atualmente a uma descontinuidade de segunda ordem”, inicia a conclusão do estudo.
“A partir do eixo da cordilheira nota-se uma depressão gravimétrica que constitui o segmento assísmico da ZFVT que se prolonga tanto para leste, em direção a margem continental africana, quanto para oeste, na margem continental brasileira. Com base em dados de sísmica de reflexão, observa-se que a porção assísmica ocidental da zona de fratura se prolonga até a Margem Continental Brasileira. Sua extensão para oeste na margem continental corresponde a Cadeia Vitoria-Trindade, definida ´ sismicamente pelo alinhamento de altos topográficos individualizados (característicos de picos vulcânicos), e províncias de sedimentação de características e espessuras sísmica distintas.”, prossegue.

Reativação tectônica e vulcânica recente
“Esse alinhamento, limitando desníveis crustais de mais de 400 m entre os segmentos norte e sul, está representado por diversos patamares da elevação vulcânica e também estão associados a falhamentos com rejeitos normais e reversos. A presença desses falhamentos afetando níveis bastante rasos da coluna sedimentar denota uma fase de reativação tectônica mais recente ao longo da ZFVT”, continua a concussão do estudo.
E prossegue: “A partir do eixo da cordilheira nota-se uma depressão gravimétrica que constitui o segmento assísmico da ZFVT que se prolonga tanto para leste, em direção a margem continental afri-cana, quanto para oeste, na margem continental brasileira. Com base em dados de sísmica de reflexão, observa-se que a porção assísmica ocidental da zona de fratura se prolonga até a Margem Continental Brasileira. Sua extensão para oeste na margem continental corresponde a Cadeia Vitoria-Trindade, definida sismicamente pelo alinhamento de altos topográficos individualizados (característicos de picos vulcânicos), e províncias de sedimentação de características e espessuras sísmica distintas.”
“Esse alinhamento, limitando desníveis crustais de mais de 400 m entre os segmentos norte e sul, está representado por diversos patamares da elevação vulcânica e também estão associados a falhamentos com rejeitos normais e reversos. A presença desses falhamentos afetando n´níveis bastante rasos da coluna sedimentar denota uma fase de reativação tectônica mais recente ao longo da ZFVT”, alerta o estudo.
E conclui: “Evidencias geofísicas e geológicas, além do mapeamento do alinhamento de epicentros de terremotos, sugerem que o prolongamento da ZFVT para a plataforma continental está associado a zona de deformação do bordo continental adjacente. Esta região corresponde ao Alto de Vitoria e ao tectonismo e magmatismo alcalino representado pelo Lineamento Sismo Magmático Alcalino Trindade-Paxoréu / Alto do Paranaíba
Brasil tem terremoto sim, dizem especialistas
Em uma publicação de 2018, a BBB News Brasil ouviu diversos especialistas em sismologia. Entre esses o pesquisador Allaoua Saadi, do Instituto de Geociências da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que desmontou o erro é de os brasileiros acreditarem que o Brasil é livre de terremotos. O “entendimento” vem do fato de o País estar sobre uma grande placa tectônica, distante de suas bordas – onde os terremotos são mais numerosos e mais intensos.
O especialista disse que “na verdade, ela (a placa tectônica) é constituída de muitos fragmentos (microplacas) cujos limites podem ser ‘mobilizados’, quando existem ‘tensões’ agindo sobre o conjunto”, explica. No entanto, tranquiliza, ao dizer que os terremotos no Brasil têm no máximo a intensidade de 6 na escala Richter. Por isso, não são esperados terremotos devastadores como acontecem no Japão e Chile com magnitudes acima de 8,0 pontos por exemplo.
Um dos primeiros brasileiros a sentir e registrar um terremoto foi ninguém menos que o imperador D. Pedro II, que estando no palácio imperial, em Petrópolis (RJ). observou a terra tremer às 15h do dia 9 de maio de 1886. A explicação dos estudiosos em sismologia é que o Brasil, mesmo estando no centro da placa Sul-Americana, sofre uma compressão causada pela movimentação da Placa Africana, à leste, e da Placa de Nazca, à Oeste, responsáveis pelos tremores sentidos no Brasil.
Serviço:
Para quem desejar fazer download, o estudo se encontra no portal da Sociedade Brasileira de Geofísica, neste link.
Fonte: Grafitti News