Local é cenário de histórias que atravessam gerações no Espírito Santo e ajudam a fortalecer a fé em Nossa Senhora
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A lenda dos Cavaleiros da Penha serviu de inspiração ao pintor Benedito Calixto. (Divulgação/Convento da Penha) |
Com mais de 450 anos de história e localizado a 154 metros de altitude, o Convento da Penha é um dos pontos turísticos mais visitados do Espírito Santo. Além de atrair milhares de devotos de Nossa Senhora da Penha todos os anos, o lugar também é cercado por lendas que alimentam o folclore e o imaginário capixaba.
Uma dessas histórias conhecidas é a da Fonte de Nossa Senhora. A tradição conta que, logo no início da construção do convento, uma nascente brotou no alto do penhasco, garantindo a água necessária para a obra. Mas, assim que a construção foi concluída, a fonte secou repentinamente.
Em uma das suas publicações, o escritor, professor e folclorista Guilherme Santos Neves explicou que é comum que templos religiosos venham acompanhados de lendas. “O tema lendário é, todavia, comum a várias imagens, quer no Brasil, quer noutras terras”, escreveu.
Conheça 5 contos que fazem a fé em Nossa Senhora se unir à cultura popular capixaba:
1. Painel da Virgem
O folclorista Guilherme Santos Neves, no livro “Coletânea de estudos e registros do folclore capixaba”, contou, dentre todas as lendas sobre a Penha, a mais conhecida entre os capixabas: a lenda do Painel da Virgem.
Segundo relatos, em 1558, o frei Pedro Palácios trouxe da Europa uma tela representando Nossa Senhora com o Menino Jesus. Ele ergueu uma capelinha ao pé do morro para abrigar a imagem e construiu uma gruta onde passou a morar.
Um dia, o painel desapareceu. A notícia correu pela vila, e os moradores começaram a procurar. Para surpresa de todos, a tela apareceu no topo do morro. No dia seguinte, o sumiço se repetiu e, mais uma vez, a imagem foi achada no alto das pedras entre os dois coqueiros. O fenômeno ocorreu uma terceira vez, reforçando a crença de que Nossa Senhora queria morar lá em cima.
Assim se deu a construção da Ermida das Palmeiras em 1566, em cima do penhasco, que mais tarde seria o Convento de Nossa Senhora da Penha.
Conheça a história da santa que apareceu em cima da pedra
2. História da imagem
Outra lenda envolve a própria imagem de Nossa Senhora da Penha. Conta-se que um encarregado ficou responsável por encomendar a escultura em Portugal, mas acabou esquecendo de fazê-lo. No dia anterior ao seu retorno ao Brasil, um desconhecido lhe entregou a imagem esculpida em madeira, seguindo todas as descrições feitas pelo Frei Pedro Palácios.
3. Os cavaleiros da Penha
O historiador Marcus Vinícius Sant’Ana lembrou de uma história que remete ao século XVII, quando os holandeses tentaram saquear o convento. Ao avistarem os navios inimigos se aproximando da baía, os moradores correram para o alto do morro e pediram proteção a Nossa Senhora da Penha.
De repente, uma densa névoa desceu sobre a região, encobrindo completamente os invasores. Anos depois, os holandeses tentaram outra investida e foram surpreendidos por misteriosos cavaleiros que surgiram das nuvens para proteger o convento. Nenhum habitante jamais havia visto esses guerreiros antes, e eles ficaram conhecidos como os Cavaleiros da Penha.
Guilherme Santos Neves lembra, em suas publicações, que, além das lendas, "é natural que o povo, devoto de Nossa Senhora da Penha, também lhe dirija ou dirigisse, através da poesia, o seu testemunho lírico e cantante". Dos muitos versos que foram recolhidos pelo folclorista, pode ser citado um que faz referência à lenda dos Cavaleiros da Penha:
[...]
Fui no Convento da Penha,
Todos subiram, eu fiquei…
Dai-me a mão, Nossa Senhora,
Que eu também subirei...
Nossa Senhora da Penha
Tem o seu manto de alegria.
Deus lhe deu os seus soldados
Pra defender a baía.
4. Vindas da Santa à Vitória
Rezam as lendas que a imagem de Nossa Senhora foi a Vitória duas vezes. A primeira ocorreu quando uma epidemia assolou a região, levando os fiéis a buscar a imagem da santa para pedir proteção. Logo após, a epidemia acabou.
Já em 1769, uma grande seca atingiu o Estado, comprometendo plantações e secando rios. Mais uma vez, a imagem foi levada em procissão marítima até Vitória. Enquanto toda a vegetação da região sofria com a estiagem, a mata ao redor do convento permanecia verde, aumentando ainda mais a crença nos milagres da santa. Depois que a imagem chegou a Vitória, os fiéis pediram o milagre da santa. Pouco depois, a chuva começou a cair.
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O quadro de Benedito Calixto, "O Milagre da Seca", fica exposto no Convento da Penha. (Divulgação/Convento da Penha) |
5. Milagres da Penha
O historiador Marcus Vinícius Sant’Ana acredita que, com o passar dos anos, novas lendas dificilmente surgirão, especialmente com a diversificação das manifestações de fé. No entanto, ele aposta que os relatos sobre milagres atribuídos a Nossa Senhora da Penha continuarão sendo passados de geração em geração, mantendo viva a tradição da Festa da Penha e a devoção dos capixabas.
Como exemplo recente, o historiador cita a história sobre um casal durante a pandemia de Covid-19. A esposa, angustiada com o estado de saúde do marido internado na UTI, subiu ao convento e fez uma prece pedindo pela sua recuperação. Pouco tempo depois, ele apresentou melhora e deixou o hospital, reforçando a crença de que a intercessão de Nossa Senhora da Penha continua presente na vida dos devotos.
Assim, entre histórias de fé, lendas e milagres, o Convento da Penha segue como um dos maiores símbolos do Espírito Santo, onde tradição e devoção caminham juntas há séculos.
Fonte: A Gazeta