Ele é essencial para absorção de nutrientes e, quando não está bem, você pode enfrentar desde alterações na evacuação até um cansaço difícil de entender
Dividido em duas partes, o intestino é uma parte fundamental do sistema digestivo. Na primeira — o chamado intestino delgado —, os alimentos são quebrados e os nutrientes, absorvidos. Já na segunda porção — o intestino grosso —, ocorre a absorção de água e os resíduos da digestão se transformam em fezes. Mas a importância desse longo órgão não para por aí: há evidências de que ele também está envolvido nas defesas do organismo e faz trocas constantes com o cérebro.
O bom funcionamento intestinal depende de uma série de variáveis, como os padrões de evacuação e alimentação. Agora, como saber quando há algo errado com o órgão?

Certos sintomas no intestino, como mudanças no padrão de evacuação, merecem atenção especial de um profissional de saúde Foto: eddows/Adobe Stock
Médicos ouvidos pelo Estadão apontaram as principais pistas de que há problemas prejudicando o intestino, que vão desde infecções a tumores, e quando você deve buscar a ajuda de um profissional de saúde. “Os sintomas e sinais são dos mais diversos”, avisa Jaime Zaladek Gil, gastroenterologista do Hospital Israelita Albert Einstein. Confira:
1. Diarreia ou constipação
Entre os sinais mais clássicos citados por todos os médicos que ouvimos estão mudanças no ritmo intestinal, como a diarreia, caracterizada por evacuações frequentes e fezes líquidas e/ou pastosas, e a constipação, quando elas se tornam infrequentes, difíceis e/ou acompanhadas por fezes endurecidas.
“São um dos primeiros indícios de que algo pode estar errado”, comenta Marcelo Averbach, coloproctologista do Hospital Sírio-Libanês. Para ele, a persistência dessas alterações por mais de duas semanas e a alternância entre diarreia e prisão de ventre indicam a necessidade de buscar ajuda médica.
Há várias possíveis causas por trás dessas alterações. “Podem sinalizar desde uma dieta desequilibrada até distúrbios mais sérios, como disbiose (um desequilíbrio na composição das bactérias que habitam o órgão, a chamada microbiota intestinal, e que, em condições saudáveis, beneficia o corpo todo), doenças inflamatórias intestinais e até câncer”, afirma Gustavo Patury, cirurgião do aparelho digestivo da Rede D’Or.
2. Inchaço abdominal e gases excessivos
Seu abdômen pode ficar estufado e inchado num quadro de constipação, mas não só: o acúmulo de gases também pode promover essa sensação desconfortável.
É válido ressaltar que gases são comuns e os estufamentos esporádicos são completamente compreensíveis – sobretudo após a ingestão de certos alimentos. Agora, se esses episódios se mostrarem frequentes e atrapalharem a qualidade de vida, vale conversar com um médico. Além disso, atenção redobrada para quando essa distensão vier acompanhada de diarreia e perdas de apetite e peso.
Patury fala que o inchaço pode indicar intolerâncias alimentares (como à lactose), disbiose e até síndrome do intestino irritável.
3. Cansaço
O mau funcionamento intestinal devido a distúrbios pode prejudicar a absorção de nutrientes essenciais, como ferro, vitamina B12 e magnésio, comenta Patury, levando a uma fadiga por vezes sem razão aparente.
“Pacientes relatam ‘mente embaralhada’, sono não reparador e cansaço, mesmo após repouso adequado”, exemplifica o endocrinologista Filippo Pedrinola, líder da equipe médica da clínica Soul 8.
Essa má absorção de nutrientes pode resultar em anemia, de acordo com Averbach. Caracterizada pela da falta de glóbulos vermelhos ou pela presença de glóbulos vermelhos disfuncionais, essa condição tradicionalmente ocasiona um cansaço, que pode ser acompanhado de tonturas e palidez.
Segundo ele, em alguns casos, pequenas hemorragias intestinais crônicas também provocam anemia, mesmo sem que o sangramento seja perceptível — isso pode até ser um sinal de câncer colorretal, alerta.
“É um sintoma menos óbvio, mas pode ser um dos primeiros sinais de doenças silenciosas”, resume.
4. Acne
Segundo Patury, distúrbios intestinais podem ter repercussões na pele, com manifestações como acne, rosácea e eczema (dermatite atópica). “A pele e o intestino estão diretamente ligados pelo chamado ‘eixo intestino-pele’’, explica.
Quando as lesões são recorrentes, resistentes ao tratamento tópico e associadas a sintomas digestivos como gases, diarreia ou inchaço, ele orienta buscar ajuda médica e investigar uma possível origem intestinal.
5. Alteração no crescimento de crianças
Gil alerta que os pediatras precisam ficar atentos à doença celíaca em crianças. Trata-se de um distúrbio digestivo e imunológico em reação ao consumo de glúten, uma proteína presente em cereais como trigo, cevada e centeio.
Como esse quadro provoca uma inflamação crônica do intestino delgado, a absorção de nutrientes básicos pode ficar prejudicada. Isso pode levar a déficits no crescimento das crianças.
6. Sangue nas fezes
Outro sintoma citado por todos os especialistas é o aparecimento de sangue nas fezes. “É um sinal extremamente relevante, principalmente para pessoas com mais de 40 anos de idade”, alerta Gil.
“A presença de sangue, seja visível ou ‘oculto’, detectado em exames, nunca deve ser ignorada. Fezes muito escuras também são sinal de alerta”, complementa Averbach.
Ele pode indicar desde problemas relativamente menos graves, como lesões locais, até questões mais graves, como tumores. Estudos epidemiológicos têm mostrado que o risco de câncer colorretal aumenta significativamente após os 50 anos, mas a incidência sobe já a partir dos 40.
Fonte: Estadão