Alvo de polêmica entre astro do cinema e ministro, empanadas argentinas são sucesso a preço baixo nas praias do Rio


'O carioca quer comprar uma empanada por R$ 5 e ainda levar suco', conta vendedor hermano

Argentino Angel Vaca vende empanadas nas praias do Rio há dois anos — Foto: Domingos Peixoto / Agência O Globo

Enquanto, na Argentina, as empanadas estão no centro de uma polêmica sobre a situação econômica do país, no Rio, a dois mil quilômetros de distância de Buenos Aires, a iguaria conquistou seu espaço nas areias das praias. Entre vendedores de milho e mate, o sotaque em espanhol anuncia diversas vezes: "Empanadas argentinas!".

O cerne do debate entre os hermanos é uma declaração do ator Ricardo Darín, que usou a empanada como exemplo num comentário sobre a economia do país. Em entrevista no fim de semana, o artista criticou o novo programa de anistia fiscal lançado pelo governo. Em seu exemplo, ele mencionou que uma dúzia de empanadas custam 48 mil pesos, equivalente a R$ 236 (cerca de R$ 19 ou 4 mil pesos, cada), declaração que foi rebatida pelo ministro da Economia, Luis Caputo.

"As empanadas não custam isso, Ricardito (...) Fica tranquilo, Ricardo, as pessoas comem empanadas gostosas por 16 mil pesos (R$ 79)", escreveu o ministro no X.
Ricardo Darín e Luís Caputo: bate-boca sobre preço de empanadas — Foto: Divulgação/Netflix e Eitan Abromovich/AFP

Nas praias do Rio, o produto é oferecido por cifras menores — cerca de R$ 12 (cerca de 2,4 mil pesos), mas também é possível encontrar ambulantes vendendo a R$ 15, equivalente a 3 mil pesos. Ainda assim, os ambulantes enfrentam a resistência dos cariocas:

— Brasileiro até compra, mas quem é de São Paulo, Minas Gerais, ou do Nordeste. O carioca quer comprar uma empanada por R$ 5 e ainda levar suco — comenda Angel Vaca, argentino de Córdoba que está no Rio há 2 anos justamente pela questão econômica em seu país. — Tem trabalho, mas você não alcança (a renda necessária): tem que ter dois empregos.

Angel Vaca durante venda de empanadas na Praia do Arpoador — Foto: Domingos Peixoto / Agência O Globo

Além da estabilidade financeira, os argentinos que trabalham vendendo empanadas aqui também veem vantagem de os dias serem propícios à praia ao longo de todo o ano. Engana-se, no entanto, quem pensa que todos fazem, artesanalmente, seus quitutes. Muitos compram a iguaria numa fábrica localizada entre Copacabana e Ipanema, estabelecimento que se apresenta como detentor das "melhores empanadas de Mendoza" (cidade argentina) no Rio.

Aos 20 anos, a argentina Gisela Gonzalez veio passar o carnaval no Rio e não foi mais embora. Ela conta que carrega em sua cesta cerca de 25 unidades do produto diariamente entre o Arpoador e o Posto 10. Entre os clientes, além de argentinos, claro, estão outros gringos latinos.

— A maioria dos clientes é chilena. Eles falam espanhol, então é mais fácil — conta ela, natural de Córdoba, que mora no Rio com sua irmã, também do ramo das empanadas.
Gisela Gonzalez, de 20 anos, veio passar o carnaval no Rio e decidiu ficar. Hoje vende empanadas nas praias, como sustento.

A empanada em terras cariocas foi aprovada pela família do professor Mariano Feriolli, de 49 anos, argentino de La Plata, que está de férias no Rio. Segundo ele, a "Argentina é um desastre pelo mesmo motivo que passaram todas as pátrias grandes" da América do Sul, por pessoas que saíram da pobreza e se viram "seduzidas por um discurso" que, em sua opinião, não será cumprido.

— Uma família de quatro pessoas precisa de 2 milhões de pesos (quase R$ 10 mil) para viver com o mínimo. Viver, comer. Não para trocar de carro — explica.

Os vendedores argentinos contam que até encontram brasileiros vendendo o produto. Carlos Gimenez, de Buenos Aires, está no Rio há quatro anos e diz não se incomodar de ver os cariocas comercializando o produto, mas revela que há casos de clientes se dizem enganados por vendedores de esfirra ou de empadas que passam pelas barracas anunciando que venderiam "empanadas". Sobre a polêmica na Argentina, ele faz uma ponderação:

— O Darín não está certo. Aqui, a empanada custa (cerca de) 2.200 pesos argentinos. Ele está falando que lá é 4.500. Acho que está errado. Mas ele é famoso, rico, e compra em lugares top, que a gente não compra — pontua.

Facundo Sutil 9de boné preto) e Carlos Gimenez em Copacabana, com suas cestas de empanadas argentinas — Foto: Domingos Peixoto / Agência O Globo

Seu amigo Facundo Sutil, de Lincoln, de 28 anos, está prestes a completar 2 anos no Rio. A vinda para o Brasil, além da questão econômica, foi motivada pelo desejo de viver uma nova experiência, com um choque de cultura e a chance de aprender outro idioma, o português. Mas a dica principal veio de um conhecido:

— Um parceiro falou que era muito legal (morar no Rio), que dá para fazer de tudo. Só ser sagaz — conta Facundo, que já vendeu caipirinha, açaí e milho antes de entrar no ramo das empanadas.

Fonte:O Globo



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