Estudantes de medicina dormem no chão e denunciam plantões exaustivos e abusivos no internato: 'Condições deploráveis'


Alunos da Unoeste de Guarujá afirmam que são submetidos a plantões abusivos de trabalho durante estágio obrigatório. Instituição nega acusações.

Estudantes de Medicina denunciam condições de internato da Unoeste Guarujá (SP) — Foto: Arquivo Pessoal

A Universidade do Oeste Paulista (Unoeste), acusada de falsificar a assinatura do estudante de Medicina Roberto Fakhoure, também é alvo de denúncias sobre as condições oferecidas para o internato (estágio obrigatório) de alunos do mesmo curso. Ao g1, universitários afirmaram que são submetidos a plantões exaustivos e abusivos de trabalho no Hospital Santo Amaro.

Em nota, a universidade afirmou que as informações "não refletem a realidade do curso e do dia a dia dos nossos estudantes" (veja posicionamento completo mais abaixo).

Fakhoure diz que teve a assinatura falsificada em um documento após questionar a reprovação em uma disciplina. O advogado dele acredita que a reitoria tenha feito a falsificação para impedir que o estudante recorresse ao campus do interior paulista e denunciasse as "condições sub-humanas" do internato no litoral.

Ao g1, dois estudantes do curso - que preferem não se identificar - confirmaram as denúncias de Fakhoure. De acordo com eles, a universidade não oferece a infraestrutura adequada para que os alunos façam o estágio necessário no centro obstétrico do Hospital Santo Amaro.

Os estudantes contaram que foram submetidos a plantões de até 24 horas, sem tempo ou local para descanso.

"A gente passou por vários médicos, por várias condições deploráveis. A gente foi obrigado a dormir no chão, entre outras coisas erradas que a gente via dentro do hospital e tinha que compactuar", denunciou um universitário.

Alunos denunciam condições de internato da Unoeste Guarujá no Hospital Santo Amaro — Foto: Arquivo Pessoal

Segundo ele, os alunos se revezavam durante a madrugada para descansarem. Senão, eles corriam o risco de reprovar na disciplina. "Nunca teve horário fixo de descanso, uma hora determinada. O que tivesse que acontecer no hospital, a gente tinha que estar lá em cima", revelou.

O estudante contou ainda que a coordenação do curso não mantém boa comunicação para tratar do assunto com os alunos. "A nossa carga é super mais elevada, muito maior e mais desgastante do que qualquer outra faculdade [...]. Fora isso, tentam implementar mudanças durante a gestão. Você assina o contrato, como vai ser a forma de avaliação, e vira e mexe, eles mudam durante o decorrer do curso".

Outro universitário afirmou que os estudantes são submetidos a mais de 60 horas semanais de trabalho e os orientadores do internato já chegaram a reclamar até dos horários de almoço dos alunos.

"Eles usam alguns alunos, como o Roberto, como exemplo, nos mostrando que coisas pequenas podem gerar grandes punições, fazendo com que alunos trabalhem sob pressão diante a uma extensa carga horária e ainda tenha medo de pequenos momentos de descanso pelas punições exacerbadas", desabafou.


O que diz a universidade?

Em nota, a Unoeste afirmou que o curso de Medicina do campus Guarujá possui nota máxima na avaliação do Ministério da Educação (MEC). "O internato é realizado em hospital e unidades de referência na região, e a instituição preza pelo bem-estar dos estudantes e pela excelência do atendimento à comunidade", pontuou.


O que diz o hospital?

Também em nota, o Hospital Santo Amaro afirmou que possui compromisso em proporcionar bons ambientes de trabalho e descanso para os médicos e estudantes de Medicina. "Como parceiros da Unoeste na formação dos alunos, o diálogo entre as instituições é amplo e permanente, o que garante que as necessidades e sugestões dos estudantes sejam atendidas".


Acusação de falsidade ideológica

Roberto Fakhoure, de 43 anos, estudante de Medicina de Guarujá, no litoral de São Paulo, acusa a Universidade do Oeste Paulista (Unoeste) de falsidade ideológica. Ele alega que teve a assinatura falsificada em um documento após questionar a reprovação em uma disciplina. Ao g1, ele afirma ter contratado uma perícia técnica particular que comprovou a falsificação.

Roberto Fakhoure, de 43 anos, questiona reprovação em disciplina de faculdade de Medicina, em Guarujá (SP) — Foto: Arquivo Pessoal

O aluno registrou um boletim de ocorrência por falsidade ideológica na Polícia Civil e, ao lado do advogado Michael de Jesus, pretende denunciar o caso na Justiça. Ele segue reprovado e, por isso, não poderá participar da colação de grau com a turma no fim deste mês.

Ao g1, Roberto disse que não conseguiu recorrer da reprovação porque teve a assinatura falsificada na ata de uma reunião sobre a nota que o reprovou em uma disciplina em 2023. No documento, constava que o estudante havia entendido os motivos da reprovação e aceitado tal decisão.

No entanto, o aluno garantiu que não assinou nenhum termo com esse teor. Roberto confirmou ter participado de uma reunião na data do documento, mas ressaltou que nunca concordou com a reprovação.

Segundo o relato, ele descobriu que não teria como entrar com um recurso sobre a dependência (DP) na disciplina quando procurou o conselho do campus principal da Unoeste, no interior de São Paulo, e foi informado de que havia concordado com a reprovação na reunião em Guarujá.

De acordo com o advogado, o estudante negou ter aceitado a nota e pediu a ata da reunião, mas só recebeu o documento no fim do ano seguinte (2024), quando não reconheceu a assinatura. Em 2025, ainda segundo o profissional, uma perícia comprovou que a assinatura foi falsificada no termo.

O advogado disse que desconfia de que a reitoria de Guarujá tenha armado a situação para impedir que o cliente recorresse da reprovação no campus do interior paulista e denunciasse as condições de internato oferecidas no litoral.

Em nota, a Unoeste informou que está apurando as informações, mas destacou que “não compactua com qualquer prática que viole a ética acadêmica”.

Perícia técnica comprovou falsificação em assinatura de Roberto — Foto: Reprodução

Fonte: G1




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