‘Foi um erro grave e queremos justiça’ diz filha de homem cremado por engano por funcionários de cemitério


José Orton Sathler morreu aos 76 anos, 2021, em decorrência da Covid-19; os parentes descobriram a confusão durante a retirada da ossada

‘Foi um erro grave e queremos justiça’ diz filha de homem cremado por engano em BH

A família de José Orton Sathler, de 76 anos, que teria sido cremado por engano no Cemitério Bosque da Esperança, no bairro Jaqueline, na região Norte de Belo Horizonte, denunciam o que ocorreu. Os parentes descobriram a confusão na sexta-feira (30), quando seria feita a retirada da ossada para a troca de jazigo. 

Ao abrir o túmulo, os restos mortais de outra pessoa foram encontrados no local. De acordo com Josiane Sathler, filha de José, “ao ver a retirada dos ossos, a gente constatou que o fêmur possuía platina, e o meu pai não tinha platina no corpo”. Questionada, a administração do Bosque da Esperança confirmou o engano. A funcionária explicou que o corpo de José havia sido cremado no ano passado, no lugar do corpo de uma mulher, que estava enterrada no mesmo jazigo comunitário.

A família acionou a Polícia Militar e registrou um boletim de ocorrência do caso, já que não era um desejo dos parentes a cremação:

 “Não existe mais meu pai, meu pai virou poeira, não tem mais meu pai, não tem nada dele que a gente possa falar assim: mãe, isso aqui é o que restou dele, não tem, ele simplesmente virou poeira no ar”, comentou Josiane. Agora, a família pede ajuda das autoridades: “foi um erro grave e queremos justiça”, complementou a filha do idoso.

O idoso havia sido enterrado em um jazigo comunitário e provisório. Ele deveria ser exumado três anos depois, tempo que venceria em 2024, e levado para um jazigo permanente. No entanto, segundo o boletim de ocorrência, quando a data estipulada chegou, os funcionários do cemitério chamaram a família, mas disseram que o corpo ainda não poderia ser retirado do túmulo, já que ainda não havia terminado de se decompor. Na sexta-feira (30), a família foi chamada novamente ao cemitério para recolher a ossada de José.

De acordo com o cemitério, os sepultamentos aconteceram no período mais crítico da pandemia de Covid-19, quando dois sepultamentos foram agendados para o mesmo jazigo comunitário, em horários distintos. Um seria enterrado às 09h30 e outro às 15h. Mas, um atraso provocou a inversão na ordem dos enterros. Josiane Sathler comentou que “houve o sepultamento dessa senhora no mesmo jazigo. Porém o jazigo está certo. O erro do cemitério foi a troca de gavetas. Eles trocaram as gavetas.”

O Bosque da Esperança informou que os funcionários envolvidos na troca dos corpos foram identificados e demitidos. “A administração do cemitério entrou em contato com a família envolvida no mesmo dia da constatação, com o objetivo de esclarecer integralmente os fatos e buscar alternativas para amenizar a situação da forma mais respeitosa e adequada possível”, explicou.

O caso não vai ser investigado pela Polícia Civil, pela falta de conduta criminosa. Segundo a corporação, “o crime de vilipêndio a cadáver exige, necessariamente, conduta dolosa, ou seja, a vontade deliberada de desrespeitar os mortos. No caso em questão, conforme relatos, não houve dolo, tratando-se de um erro, o que afasta a possibilidade de responsabilização na esfera penal”.


Confira a nota do Cemitério Bosque da Esperança na íntegra:

A administração do Cemitério Bosque da Esperança vem a público esclarecer os fatos identificados durante o procedimento de exumação realizado no último dia 30, que revelaram a entrega equivocada de restos mortais à família de um dos sepultados.

O caso remonta a abril de 2021, durante o período mais crítico da pandemia de COVID19, quando dois sepultamentos foram agendados para o mesmo jazigo comunitário, em horários distintos: 9h30 e 15h. Entretanto, em razão de atrasos logísticos provocados pelo contexto emergencial da pandemia, o corpo inicialmente previsto para o sepultamento às 9h30 precisou retornar à funerária, chegando novamente ao cemitério apenas às 17h45.

Diante disso, houve uma inversão na ordem dos sepultamentos: o corpo originalmente agendado para às 15h foi sepultado primeiro, e o corpo que deveria ter sido sepultado às 9h30, devido ao atraso, acabou sendo sepultado na posição superior do jazigo, assim que chegou. Durante todo o tempo, os corpos permaneceram devidamente identificados.

O Cemitério convidou a família para acompanhar o procedimento de exumação, como ocorre rotineiramente. Foi nesse momento que todos foram surpreendidos ao constatarem, por meio de uma cápsula de identificação — procedimento excepcional de segurança adotado pela empresa — que os restos mortais da exumação anterior haviam sido entregues incorretamente à outra família, no ano passado.

Uma vez constatado o erro, os colaboradores cuja conduta contrariou os protocolos operacionais estabelecidos foram identificados e imediatamente desligados da empresa. A administração do cemitério entrou em contato com a família envolvida no mesmo dia da constatação, com o objetivo de esclarecer integralmente os fatos e buscar alternativas para amenizar a situação da forma mais respeitosa e adequada possível.

Expressamos nossas mais sinceras desculpas à família afetada e nos colocamos à disposição para todos os esclarecimentos adicionais, com o devido respeito, transparência e responsabilidade — e, sobretudo, com a dignidade que as famílias que confiam em nossos serviços merecem.

Fonte: O Tempo




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