PROTESTO: Marcos do Val vai ao Senado de esparadrapo na boca e exibe tornozeleira


Senador foi apoiado por outros parlamentares bolsonaristas, que criticam acordo que poderia levá-lo a ter o mandato suspenso


Sem calçado no pé esquerdo e exibindo a tornozeleira eletrônica imposta como medida cautelar, o senador Marcos do Val (Podemos) foi ao Senado Federal nessa quarta-feira (6) com esparadrapo tampando a boca em mais um dia de protesto de bolsonaristas no Congresso Nacional. Ele foi apoiado por outros parlamentares, que rejeitam a ideia de acordo para suspender o mandato do capixaba, que teria sido negociado com ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).

A senadora Damares Alves (Republicanos) postou um vídeo em suas redes sociais fazendo a defesa de Do Val, ao lado do capixaba e de outros senadores, e ressaltou que o grupo não vai aceitar nenhum acordo que coloque em risco o mandato de quem foi legitimamente eleito nas urnas.

"O senador Marcos do Val não tem nenhuma condenação. Mais que isso, nenhuma denúncia. Negociar o quê? Não temos nada a negociar com relação ao mandato dele", destacou a parlamentar.

Marcos do Val pode ter o mandato suspenso após uma negociação entre outros parlamentares, liderados pelo presidente do Senado Federal, Davi Alcolumbre (União Brasil), e ministros STF. Essa seria uma contrapartida para que Alexandre de Moraes aceite um pedido de revisão das medidas cautelares aplicadas ao capixaba, incluindo a tornozeleira eletrônica.

As informações foram apuradas pela colunista Malu Gaspar, de O Globo, que apontou que um grupo de senadores acertou na noite desta terça-feira (5) com os ministros Edson Fachin, Luís Roberto Barroso e também com Moraes um acordo para encerrar a crise provocada no Congresso pela implantação da tornozeleira em Marcos do Val na última segunda-feira (4).

Pelo acordo, o Senado deverá apresentar um pedido de revisão das medidas cautelares determinadas por Moraes contra o senador capixaba — que o ministro deve atender. Em contrapartida, diz a colunista, a mesa diretora do Senado deverá suspender o mandato de Marcos do Val, pela divulgação de relatórios sigilosos da Abin sobre o 8 de janeiro entregues à Comissão Mista de Controle das Atividades de Inteligência (CCAI).

Um dos artigos do Conselho de Ética do Senado prevê a perda temporária do mandato parlamentar em caso de divulgação de conteúdo de debates ou deliberações que o Senado ou Comissão já tenham resolvido e que deveriam ficar secretos.

O encontro foi realizado na casa do ex-presidente da Câmara dos Deputados Rodrigo Maia (sem partido), em Brasília, e senadores expuseram a Moraes uma situação que poderia desmoralizá-lo no momento em que ele enfrenta críticas pela prisão domiciliar de Jair Bolsonaro (PL) e a oposição vem recolhendo assinaturas para um pedido de impeachment do ministro.

Os senadores pontuaram que as medidas de Moraes contra Marcos do Val deveriam ter passado por uma análise do plenário, segundo o próprio Supremo determinou em outro caso semelhante ocorrido em 2017 — quando o Senado derrubou o afastamento e a prisão domiciliar do então senador Aécio Neves (PSDB-MG), investigado por corrupção passiva e obstrução de Justiça no caso da delação de Joesley Batista, da JBS.

Na avaliação dos parlamentares, Moraes provavelmente seria derrotado devido ao clima de revolta no Congresso. Desde segunda, bolsonaristas ocuparam os plenários das duas Casas como parte da obstrução das atividades legislativas, em protesto contra a prisão de Bolsonaro. Senadores também já reuniram 39 das 41 assinaturas necessárias para apresentação do pedido de impeachment contra o ministro. Para derrubar as cautelares, também seriam necessárias 41 assinaturas. Na onda de protestos, Magno Malta (PL) se acorrentou à Mesa Diretora do Senado nesta quarta.

Na reunião de terça-feira, senadores estimaram que o placar contra ele ficaria próximo das 50 assinaturas, o que poderia acirrar a crise institucional provocada pela prisão do ex-presidente. Após ouvirem a exposição, Moraes, Barroso e Fachin teriam dado aval à iniciativa.

Participaram da conversa, além de Alcolumbre, Rodrigo Maia e dos ministros do STF, os senadores Eduardo Braga (MDB-AM), Omar Aziz (PSD-AM), Renan Calheiros (MDB-AL), Cid Gomes (PSB-CE) e Weverton Rocha (PDT-MA).

Um dos participantes da reunião relatou à equipe da coluna, a avaliação desse grupo é que Marcos do Val já deveria ter sido cassado, considerando seus antecedentes.

Além de divulgar documentos secretos do Senado, parlamentares lembram que o senador capixaba não escondia que andava armado e admitiu publicamente a intenção de grampear Alexandre de Moraes para anular as eleições de 2022 em uma trama que, segundo ele, envolveu também o então deputado Daniel Silveira (PTB-RJ) e Jair Bolsonaro após sua derrota eleitoral para Lula.

"A questão é que, apesar do perfil histriônico, instável e controverso de Do Val, para os parlamentares o que conta não é propriamente quem foi alvo das sanções, mas o fato de que a imposição de Moraes cria um precedente considerado perigoso, por representar uma interferência injustificável do Judiciário sobre o Legislativo", observa Malu Gaspar.

O interlocutor do grupo diz que os senadores olham para Marcos do Val e pensam que amanhã podem ser eles.


Fonte: A Gazeta




Postagem Anterior Próxima Postagem