O tecido de brim altamente resistente que daria forma à patente norte-americana das calças jeans nasceu na Europa, e não da forma como é usado hoje

O jeans, nome popular de um dos tecidos mais usados do mundo, de que o Brasil é um dos maiores produtores e consumidores (são cerca de R$ 190 bilhões por ano no setor, com uma capacidade produtiva de 600 milhões de metros lineares por ano, de acordo com dados da Associação Brasileira da Indústria Têxtil), surgiu em 1871 na sua versão mais conhecida.
Essa versão, claro, é a calça jeans: uma criação dos estilistas Jacob W. Davis e Levi Strauss, patenteada nos Estados Unidos, a calça jeans nasceu como inovação na moda, mas de uma forma um pouco diferente de como é usada hoje.
Na verdade, a história do jeans (denim, em inglês) como tecido, que hoje é consumido em cerca de três bilhões de metros lineares por ano, remonta ao século 16 na Europa. O jean fustians, tecido que chegava à Grã-Bretanha de navio em 1576, de acordo com registros históricos, foi primeiro incorporado por marinheiros que partiam dos portos de Gênova.
A palavra jeans pode, inclusive, vir de "gênes", que significa "Gênova" em francês. Na França, o tecido era trabalhado em Nîmes, em que tecelões primeiro o transformaram em roupa de trabalho.
Acreditava-se que a qualidade superior do tecido, que podia ser molhado sem estragar, o tenha tornado a matéria-prima de macacões de trabalho que eram tingidos de índigo, uma cor entre o violeta e o azul, que vem da planta de mesmo nome (a fonte do corante anil).
Pinturas que retratam o norte da Itália no século 17 mostram classes baixas de trabalhadores a vestir um tecido que se assemelha em cor e textura ao jeans. Um artista misterioso se popularizou por essas representações: hoje apelidado "O mestre do jeans azul", suas obras foram descobertas tardiamente, e, antes, haviam sido atribuídas a outros artistas, como Diego Velázquez.

Uma mostra feita com suas obras em Manhattan, nos Estados Unidos, traz representações de estilo caravaggesco: quadros de interior escuro, com rostos dramáticos evidenciados por aparições de luzes, que mostram uma criança usando uma jaqueta jeans, uma mulher pobre que se apoia numa muleta e usa uma saia jeans longa e rasgada; ou uma costureira a trabalhar num tecido jeans desbotado de azul-claro.
As pinturas do "mestre do jeans" mostram que o tecido já era popular mesmo antes de sua "reinvenção" no estilo moderno, surgido da alta moda francesa.
O jeans do século 19, sua versão mais "recente", nasceu de um tecido feito de sarja de algodão e fabricado na cidade francesa de Nîmes. Foi do nome da cidade que veio o "denim", traduzido como brim: um tecido resistente feito de algodão com trama diagonal, que dá esse aspecto único às peças.
O alfaiate Jacob Davis, que tinha como ideia reforçar os bolsos de calças feitas para operários (dentre eles, trabalhadores de minas), passou a aplicar rebites metálicos no tecido, para deixá-lo resistente.
Como comprava o tecido denim do comerciante Levi Strauss, propôs a ele uma parceria para registrar a patente. Em 20 de maio de 1873, então, nascia a patente n.º 139.121, um marco histórico na criação da calça jeans como conhecemos hoje.
Inicialmente chamadas “waist overalls” (macacões de cintura alta), essas calças eram feitas de denim azul e se tornaram símbolo do trabalho braçal nos Estados Unidos.
Foi só décadas depois, no início do século 20, que começaram a ser popularizadas no cinema, na música e na moda urbana, o que o transformaria num ícone cultural globalizado.
Hoje, ele é, sem dúvidas, um dos tecidos mais famosos do mundo: produzido principalmente na China e no Paquistão, e com impacto ambiental significativo (são necessários mais de 790 galões de água para a cadeia de suprimentos, do cultivo do algodão ao tingimento do tecido), representa a maioria das vendas globais e uma economia de US$ 31,7 bilhões por ano, de acordo com dados da Euromonitor International.
Fonte: Revista Fórum