Imprensa local afirma que publicitária teria sido deixada para trás após se queixar de cansaço; buscas são interrompidas pelo terceiro dia, segundo parentes, que apontam negligência
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2025/4/E/vxdWWNQL6atPU4rMMjSA/ali-juliana.png)
Ali Musthofa, à frente da selfie, levava Juliana Marins e outros turistas por trilha do Monte Rinjani — Foto: Instagram
O guia que acompanhava Juliana Marins pela trilha no Monte Rinjani, na ilha de Lombok, na Indonésia, negou ter abandonado a publicitária antes de ela sofrer um acidente e precisar de resgate. Em entrevista ao GLOBO, Ali Musthofa confirmou os relatos da imprensa local de que aconselhou a niteroiense a descansar enquanto seguia andando, mas afirmou que o combinado era apenas esperá-la um pouco mais à frente da caminhada. Ele disse ter prestado depoimento à polícia neste domingo, quando desceu da montanha. A família diz que Juliana foi localizada num ambiente "extremamente severo", com obstáculos naturais que dificultam o salvamento.
Segundo Ali, que aos 20 anos atua como guia na região desde novembro de 2023 e costuma subir o Rinjani duas vezes por semana, ele ficou apenas "três minutos" à frente de Juliana e voltou para procurá-la ao estranhar a demora da brasileira para chegar ao ponto de encontro.
— Na verdade, eu não a deixei, mas esperei três minutos na frente dela. Depois de uns 15 ou 30 minutos, a Juliana não apareceu. Procurei por ela no último local de descanso, mas não a encontrei. Eu disse que a esperaria à frente. Eu disse para ela descansar. Percebi [que ela havia caído] quando vi a luz de uma lanterna em um barranco a uns 150 metros de profundidade e ouvi a voz da Juliana pedindo socorro. Eu disse que iria ajudá-la — afirmou Musthofa. — Tentei desesperadamente dizer a Juliana para esperar por ajuda.
Musthofa disse ter ligado para a empresa na qual trabalha para avisar sobre o acidente e pedir que acionassem o resgate.
— Liguei para a organização onde trabalho, pois não era possível ajudar a uma profundidade de cerca de 150 metros sem equipamentos de segurança. Eles deram informações sobre a queda de Julian para a equipe de resgate e, após a equipe ter conhecimento das informações, correu para ajudar e preparar o equipamento necessário para o resgate — destacou o guia, segundo quem Juliana pagou 2.500.000 rúpias indonésias pelo pacote (o equivalente, na cotação atual, a cerca de R$ 830).
Parentes de Juliana disseram, na manhã desta segunda-feira, que o resgate está "descendo até o local onde ela foi avistada". Mais cedo, eles acusaram as autoridades de agirem com negligência, reclamaram de um novo recuo nas buscas, dadas as condições climáticas, e cobraram urgência nas atividades de salvamento, já que a vítima "segue sem água, comida e agasalhos por 3 dias". Não se sabe o estado de saúde dela.
Juliana, de 26 anos, foi vista pela última vez por volta de 17h10 do sábado (horário local) em imagens captadas por um drone de outros turistas. Ela aparece sentada na encosta, após a queda. Novas imagens compartilhadas numa conta no Instagram criada para divulgar informações sobre o caso mostram a publicitária durante o passeio — Juliana caminha pela vegetação, posa para fotos em meio às montanhas e até brinca com uma colega sobre a névoa, que impediu a vista.
— A vista é incrível. Valeu a pena — ironiza a colega. — Sim, nós fizemos isso pela vista. Então, estou feliz — brinca a niteroiense.
A trilha do Monte Rinjani é considerada uma das mais difíceis para turistas na Indonésia. O vulcão se eleva a 3.726 metros do nível do mar, e o caminho tem quilômetros de subidas. Pacotes do passeio mostram opções de trilhas de dois, três e até quatro dias pela região. A de Juliana deveria durar de 20 a 22 de junho, por três dias e duas noites.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2025/D/8/1UNqX6S0WvnRMrlYPiQg/vulc.png)
Equipes do Agência de Busca e Salvamento da Indonésia iniciaram o terceiro dia de buscas.
Segundo o governo federal, dois funcionários da embaixada se deslocaram para o local com o objetivo de acompanhar pessoalmente o processo.
Um vídeo obtido pela prefeitura de Niterói e enviado para a família mostrou a piora das condições climáticas no local neste domingo. Na imagem, era possível ver a montanha coberta por uma névoa densa. Algumas pessoas — que parecem ser montanhistas — aparecem na filmagem, mas elas não estão segurando equipamentos que poderiam ser usados no resgate da jovem.
"A visibilidade para a busca é muito limitada, e o uso de drones também não pode ser maximizado", diz o narrador, em tradução livre.
Mariana Marins contou que, segundo o que foi relatado para ela, o local onde sua irmã está é "muito inóspito" e com terreno arenoso. Ela chegou a afirmar que as autoridades da Indonésia estavam "mentindo" e que a embaixada do Brasil não estaria verificando o que de fato estava acontecendo.
A queda da publicitária, inicialmente, se estendeu por mais de 300 metros montanha abaixo, em um local de difícil acesso, sem possibilidades, segundo a família, de resgate via helicóptero.
Após neblina e garoa, por conta do terreno úmido, a jovem acabou descendo ainda mais em direção ao precipício. Essas condições adversas de tempo também contribuíram para que a visibilidade de onde exatamente Juliana está fosse dificultada.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2025/Z/Q/W1fXTCQlOXoZAdDzRAhg/02bd1cba-6e4e-4679-92d3-c5e7535403f3.jpg)
O acidente aconteceu por volta das 19h, horário de Brasília, da última sexta-feira. Segundo Mariana Marins, informações passadas para ela por pessoas próximas ao local da queda apontam que a última vez que a irmã foi vista na região foi por volta de 17h10, também horário de Brasília, de sábado.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2025/O/P/ayShgoScms8jk3G5t8gQ/.jpg)
Juliana, após o acidente, não fez contato com a família diretamente, por falta de sinal. As informações chegaram até o Brasil por meio de um grupo de turistas que também fazia a trilha e conseguiram acionar pessoas próximas à vítima por meio de uma rede social, mandando mensagens para inúmeras pessoas após encontrarem o perfil dela.
A publicitária faz um mochilão pela região desde fevereiro deste ano e já passou por países como Filipinas, Tailândia e Vietnã.
Fonte: O Globo