A origem de 7 expressões populares


Essas expressões, originadas desde a vida no campo à nobreza, ilustram como o português incorpora vivências e as mantém vivas por gerações


A língua portuguesa é um tesouro de expressões peculiares, cada uma carregando histórias que espelham tradições, períodos históricos e até sarcasmos de outrora.

Vamos explorar a origem de sete delas, descobrindo seus contextos e o que revelam sobre seus criadores, segundo o conhecimento popular.

Pé-rapado surgiu ainda no século XVII. A expressão descrevia pessoas humildes, geralmente camponeses, que, sem recursos para cavalos, caminhavam descalços ou com sapatos gastos, acumulando barro que raspavam em suportes metálicos antes de entrar em igrejas, enquanto os abastados exibiam calçados impecáveis.

Olha o passarinho! Nasceu na fotografia do século XIX. As câmeras primitivas exigiam longos minutos de pose imóvel para captar imagens. Para entreter os fotografados, especialmente crianças, os profissionais usavam distrações, como indicar um passarinho numa gaiola atrás da câmera, garantindo que olhassem na mesma direção da lente.

Fazer vista grossa tem raízes marítimas. No século XVII, navegadores portugueses chamavam de “vista grossa” as observações apressadas no oceano, ignorando pormenores. A expressão evoluiu para significar fechar os olhos a falhas menores, prática comum no Brasil.

Outra teoria liga o termo à expressão inglesa turn a blind eye, inspirada no famoso Almirante Nelson, que, cego de um olho numa batalha anterior, usou sua luneta no olho inválido para desconsiderar ordens de recuo na Batalha de Copenhague.

Farinha do mesmo saco é uma das expressões que vem da vida rural. Farinhas de qualidades distintas eram armazenadas em sacos separados para evitar confusão. Assim, a expressão sugere que pessoas semelhantes, boas ou más, tendem a se agrupar. Hoje é usada mais frequentemente com tom crítico associado às farinhas de pior qualidade.

Lua de mel remonta a costumes medievais europeus. Na Inglaterra e Alemanha, os recém-casados consumiam hidromel, bebida feita de mel, água, malte e fermento, por um ciclo lunar completo, isso é, um mês, acreditando que isso favorecia a fertilidade. Hoje, o termo representa o romântico início da vida conjugal e a primeira viagem feita pelos noivos recém-casados.

Sem eira nem beira tem duas interpretações. Uma aponta para casas mais ricas com telhados elaborados, incluindo eira, beira e tribeira, enquanto as mais simples tinham apenas a tribeira, sendo, portanto, “sem eira nem beira”. Outra versão, rural, define a eira como o terreiro onde grãos colhidos secavam; sem uma borda (beira), os grãos se perdiam ao vento, simbolizando a pobreza de quem não pode construí-la.

A sete chaves remete à proteção rigorosa. Na Idade Média, baús preciosos tinham várias fechaduras, cada chave guardada por uma pessoa diferente, dificultando furtos. O número sete, simbólico, reforçava a ideia de segurança, e no Brasil a expressão passou a indicar segredos ou bens extremamente protegidos.

Essas expressões, originadas em cenários variados, desde a vida mais simples no campo à nobreza, passando pela fotografia à crença popular, ilustram como o português incorpora vivências e as mantém vivas por muitas gerações.


Fonte: O Antagonista



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