Classificação para semifinal revela a alma de um time de guerreiros que adotou para si um lema de humildade e de desfrutar do presente
Jogadores do Fluminense fazem roda de oração depois da classificação para semifinal — Foto: Divulgação
Taxado como quarta força do futebol brasileiro no Mundial de Clubes, o Fluminense é o único que segue vivo na competição. E não é exagero afirmar que estar na semifinal contra o Chelsea é algo além do esperado. Mas a vitória sobre o Al Hilal e a postura da equipe no mata-mata, desde a partida contra a Inter de Milão, revelou a alma de um time de guerreiros que adotou para si um lema: usar as fragilidades, do grupo, do clube, e da vida, como elo para juntar forças.
Nas oitavas de final, Thiago Silva já usou a sua história pessoal, de perda do padrasto que o criou, para motivar o elenco no vestiário. A morte dos jogadores Diogo Jota e André Silva nos últimos dias veio a confirmar o discurso do capitão, apropriado por todos antes do minuto de silêncio em Orlando em homenagem aos atletas portugueses: “Não perde tempo”, postou o clube no fim do jogo.
A força do grupo
Em campo, o Fluminense deu a vida. Jogou não apenas como se fosse a primeira e última Copa do Mundo de Clubes. Como se não houvesse o amanhã. Mais do que a atitude de cada jogador, a força começou a aparecer com um elenco que não é dos mais badalados nem no Brasil, mas se multiplica em soluções nas mãos do técnico Renato Gaúcho, que tanto exalta a força do seu grupo.
A fortaleza do esquema tático com três zagueiros se viu também no talento de Martinelli, autor do primeiro gol, e na volta por cima de Hércules. O nome de herói grego esconde por trás um menino tímido e frágil que passou mão para dar entrevista ao ser eleito o melhor em campo, após marcar o gol da classificação. Mas foi também o Fluminense de Lima, de Everaldo, de Thiago Santos, de Guga, que mais uma vez entraram bem. E sempre o Fluminense de Arias. De Fábio. E de Thiago Silva. Origens diferentes, a mesma filosofia. Desfrutar do presente.
-Eu também tive uma perda importante e sei a dor. Esse tipo de lição, de viver a vida, o presente, dá uma motivação a mais. Infelizmente aconteceu com Diogo Jota. Amanhã não temos certeza de que estaremos aí. A nossa conversa foi focada nisso, em focar no dia de hoje, e sair do campo tendo desfrutado de estar aqui - explicou Arias, sobre o papo antes do jogo.
Depois do gol de Martinelli, em saída errada do Al Hilal, o Fluminense soube se defender no segundo tempo, quando foi pressionado. Mais uma vez, seria exigida a maior entrega possível. Na falha em bola aérea, Marcos Leonardo empatou, e o time precisou se manter firme. Renato Gaúcho renovou as energias, e as peças que foram a campo seguraram o ímpeto do rival. Uma delas, Hércules, defendeu bem e apareceu para o gol da classificação.
- Aqui o protagonista é o elenco. Temos grandes jogadores, mas todos ajudam, se entregam, e isso é diferencial, faz a gente ser tão grande. Essa humildade de todo mundo saber que tem que se doar é o que faz a diferença pra gente estar onde estamos nesse Mundial - explicou Guga, seguido por Lima no mesmo tom.
- A gente já vivenciou várias partidas, campeonatos, teve o Mundial contra o City em 2023, aquela final. Estamos acostumados com decisões. Normal ter um frio na barriga, ansiedade, mas no decorrer da partida vem uma tranquilidade. E o grupo passa confiança um pro outro, com humildade de todos, todo mundo ajudando, isso dá tranquilidade em jogos grandes - emendou o meio-campo.
Antes do jogo, o Fluminense postou a música do tricolor Gilberto Gil, “Andar com fé”. No fim da partida, como tem se tornado hábito, todos se reuniram em torno da bandeira do clube no meio do campo e rezaram, agradecendo. Pelo jogo. Pela classificação. Pela vida.
Fonte: O Globo